Não é possível, sem fremir, ser confrontado com
semelhantes situações
Médicos afirmam que não vão sair do hospital al-Shifa, em Gaza
22
de Setembro de 2025
No meio da escalada israelita,
Muhammad Abu Salmiya, director hospitalar cujos familiares foram
assassinados pela ocupação, reafirmou que as equipas médicas vão continuar
a trabalhar na Cidade de Gaza.
Muhammad Abu
Salmiya fala à Al Jazeera no hospital al-Shifa, bastante destruído pela
ocupação, na Cidade de Gaza Créditos/ Al
Jazeera
Em declarações
à imprensa na manhã de domingo, Muhammad Abu Salmiya, director do complexo
hospitalar al-Shifa, disse que as equipas médicas não vão abandonar os
pacientes, no meio da ofensiva terrestre israelita em grande escala contra a
Cidade de Gaza.
Vamos
continuar o nosso trabalho, apesar da destruição, da falta de medicamentos e
dos ataques às nossas casas e famílias, afirmou, acrescentando que os
profissionais da saúde se mantêm firmes no compromisso de salvar vidas e cuidar
dos feridos, mesmo nas condições mais «insuportáveis».
O al-Shifa já
foi o maior complexo hospitalar na Faixa de Gaza, mas hoje está praticamente em
ruínas, depois de ter sido alvo de intensos bombardeamentos aéreos e de
artilharia por parte das forças de ocupação, em diversas ocasiões.
O actual
director passou mais de sete meses nas cadeias israelitas, com a ocupação a
alegar que a resistência palestiniana usava o hospital como base para o
«terrorismo», refere a Al Jazeera.
Acabou por
sair sem «acusações» mas depois de ter sido submetido a sessões de tortura e de
humilhação. No sábado, um ataque israelita contra a sua casa de família, no
campo de refugiados de al-Shati, matou pelo menos cinco pessoas, incluindo o
seu irmão, cunhada e filhos.
Neste sentido,
a fonte destaca que Abu Salmiya está a tentar dar o exemplo, no meio de
«condições horrendas».
«As nossas
equipas médicas continuam a realizar a sua missão humanitária neste complexo
hospitalar sob forte pressão», disse o director, na Cidade de Gaza.
«A sua
mensagem continua: servimos os doentes e os feridos o melhor que podemos»,
frisou, alertando para a política de limpeza étnica levada a cabo por Israel e
condenando os ataques directos a unidades hospitalares e pessoal médico.
«São heróis»
Uma médica
australiana a trabalhar como voluntária no hospital destacou as condições
«horríveis» em que o pessoal médico trabalha.
«Pude
constatar a capacidade de resistência destes médicos... são literalmente
heróis», disse a médica australiana à Al Jazeera,
explicando que médicos, enfermeiros e estudantes de medicina estão a viver e a
trabalhar no hospital.
«Estamos aqui
há apenas duas semanas e simplesmente não conseguimos abranger a dimensão do
trauma e do trabalho duro. Não creio que um ser humano possa sobreviver e
aguentar aquilo por que estamos a passar», disse.
O hospital
a-Shifa é uma de muitas infra-estruturas da saúde que foram quase inteiramente
destruídas pelas forças de ocupação no enclave.
Ahmed
al-Farra, director de pediatria do Hospital Nasser, em Khan Yunis, no Sul de
Gaza, sabe bem as condições terríveis que as equipas médicas sofrem em todo o
território e destacou o facto de, desde o início da agressão, Israel ter estado
a atacar o pessoal médico, «metendo-o na cadeia ou matando as suas famílias».
De acordo com
as autoridades na Faixa de Gaza, a ocupação matou pelo menos 1670 trabalhadores
do sector nos últimos dois anos.
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