quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

PATER NOSTER - Jacques Prévert

Jacques Prévert


PAI-NOSSO

Pai Nosso, que estais no céu
Deixai-vos aí ficar
E nós ficaremos cá na terra
Que às vezes é linda de pasmar
Com os seus mistérios de Nova Iorque
E os seus mistérios de Paris
Que são tão bons como o da Trindade
Com o seu Regueirão dos Anjos
A sua Grande Muralha da China
A sua ria de Aveiro
As suas queijadinhas de Tomar
Com o seu oceano Pacífico
E os dois lagos do jardim das tulherias
Com o bom filho e a má rês
Com todas as maravilhas do mundo
Que aqui estão
À face da terra simplesmente
Oferecendo-se a todos
Disseminadas
E tão maravilhadas por se descobrirem tão maravilhosas
E não ousando admiti-lo
Como uma bela rapariga nua que não ousa mostrar-se
Com as desgraças deste mundo cão
Que são legião
Com os seus legionários
Com os seus tornionários
Com os senhores da terra
Com os seus mercenários seus traidores e seus vigários
Com os anos
E as estações
Com as raparigas bonitas e os velhos vilões
E com a palha da miséria a apodrecer no aço dos canhões.


PATER NOSTER

Notre Père qui êtes aux cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l’Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son océan Pacifique
Et ses deux bassins aux tuileries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont là
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Eparpillées
Emerveillées elles-mêmes d’être de telles merveilles
Et qui n’osent se l’avouer
Comme une jolie fille nue qui n’ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Avec leurs tortionnaires
Avec les maîtres de ce monde
Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l’acier des canons.


Jacques Prévert
(tradução de Manuel Torres)

Sem comentários: