sábado, 18 de setembro de 2010

O TEMOR E O ORGULHO

Ambrose Bierce

- Bom-dia, amigo – disse o Temor ao Orgulhoentão que tal se sente esta manhã?

- Muito cansado – respondeu o Orgulho, sentando-se à beira da estrada, e enxugando a testa coberta de suor. – Os políticos extenuam-me, à força de se servirem de mim para exporem as suas ignóbeis acusações, quando podiam, muito bem, recorrer a um cacete.

E o Temor respondeu, soltando um suspiro de simpatia:

- Pois eu estou numa situação bastante igual à sua. Em vez de utilizarem uns binóculos, é por meu intermédio que observam os actos dos seus adversários.

E iam os dois resignados escravos juntar as lágrimas, quando lhes chegou ordem de retomarem o serviço, porque um dos partidos políticos acabava de eleger um gatuno para seu chefe, e preparava-se para celebrar uma reunião comemorativa do acontecimento.

(de Fábulas Fantásticas,

tradução de João da Fonseca Amaral,

editorial Estampa, 1971)

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Que úteis são a esses partidos, principalmente o temor.

Um abraço.