Acabou-se o espectáculo. As malgas de sopinha a transbordar de piedade e amor estão vazias; na árvore de Natal as luzinhas deixaram de tremelicar; os carenciados voltaram às trapeiras e os cânticos natalícios deram lugar ao triste fado de todos os dias.
A igreja e os governantes trocam acusações e contabilizam as lágrimas vertidas pelos pobrezinhos.
E concluem que só o Orçamento e Deus sabem.
Dona Abastança
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«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.
Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»
Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.
O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.
Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.
Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.
Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.
Manuel da Fonseca
3 comentários:
Acabou-se o espectáculo - para o ano há mais do mesmo...
Um abraço.
muito bom este post.
É verdade. Caridadezinha feita com o dinheiro tirado ao Povo. Essas empresas de caridade obtêm enormes lucros. Porquê? Para onde vai o seu apoio quando são chamadas dar o seu voto?
Estou cansada dos jornais, da televisão, dos que se deliciam com a caridade.
Um beijo.
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