Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meia quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
-- Sob o ausente olhar silente de atenção –
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
Sophia de Mello Brayner Andresen
2 comentários:
Áh...que lindo!
Só tenho pena que o Rogério das "Conversas Avinagradas" não esteja aqui pra aplaudir.
Faça-lhe uma visita. O que ele vai gostar de ver isto...
Que lindo!!!
A verdade inteira,total é um dos direitos humanos. Mas os pretensos defensores desses direitos esquecem propositadamente esse direito e mentem,mentem,mentem.
Um beijo.
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