«Eu
não quero receber
medalhas, quero justiça
na economia, justiça
na repartição da riqueza
criada, quero emprego
com direitos
para gerar
essa riqueza, quero que
a dignidade do homem
seja mais
valorizada que os mercados,
quero que o interesse
colectivo e o bem comum
tenham mais força
que os interesses
de meia dúzia
de privilegiados.»
José António Pina
Assembleia da República (aqui)
Aproxima-se o Natal,
há que burilar
o verbo amar
nos corações,
exercitar os bons
sentimentos com
genuflexões de alma,
embeber-se de piedade
pelos
pobrezinhos, os pretinhos, os velhinhos, os aleijadinhos, olhar
todos os “inhos”
com os olhinhos que
reflectem os seus
espiritozinhos. Coitadinhos!…
Dizer
às crianças que
o Pai Natal
não tem brinquedos
para todos
os meninos
nomeadamente os mais
carenciados (belo
eufemismo!) o que
é para eles
uma injustiça dado
que o menino
Jesus ainda não
tinha aberto
os olhinhos já
os Reis Magos
o presenteavam com
ouro, incenso
e mirra, o que
lhe permitiu um
bom pé-de-meia
e bom cheirinho.
Coitadinho!…
Claro
que as crianças
não conseguem entender
porque é que
o Pai Natal
só tem brinquedos
para os meninos
que já
não sabem que
fazer a tudo
o que possuem,
obrigando os seus
papás a malabarismos
de linguagem para
lhes explicar
tão grande
aberração; ou
bênção? Coitadinhos!…
E porque
são todos
muito bonzinhos,
os paizinhos, para colmatar
tamanha injustiça,
– ou justiça
divina, vá lá
saber-se – irão com
os seus rebentos
vasculhar nos
gavetões, sótãos
e saguões,
procurando entre
a tralha o que
não servindo,
serve aos filhos
dos desempregados. Coitadinhos!…
Entretanto
os funcionários públicos
já foram avisados
que não
devem colocar o sapato
na chaminé e muito
menos a bota.
O natalzinho dos funcionáriozinhos vai ser
de chinelo roto.
Coitadinhos!…
Começou a agitação
nos corações
de todos os que
gostam muito dos
pobrezinhos. Coitadinhos!
A festa
natalícia
aproxima-se, e há que
proporcionar aos
pobrezinhos, coitadinhos, a ceia
de Natal. Há milhares
de meninos que
passam fome e os
bons corações
que explodem de emoção,
não vão
permitir que
os pobrezinhos coitadinhos, não
tenham ceia de natal,
uma consoada
repimpada que os
faça esquecer por
algumas horas a fome
dos dias seguintes.
Milhares
de voluntários
pedem para os necessitados, gente
programada para ter
pena dos
pobrezinhos uma vez
por ano,
como se a pobreza
fosse um
fenómeno cíclico que
surge anualmente
precisamente pelo
natal.
O aviltamento
a que são
sujeitos os que
recebem a esmola, não
impressiona esses
corações de plástico
que,
confrontados com
a baixeza dos seus
gestos, replicam
que “é
melhor isto
que deixar
os pobrezinhos sem
consoada”. O porquê
de haver pobreza
é uma questão filosófica de difícil
digestão, “pobres
sempre houve e sempre
há de haver”, Deus
assim quer…
e depois ainda
há o céu que
aos ricos é
negado. Os pobres
têm o paraíso no
céu e os ricos
na terra. Este
é o grande castigo
infligido aos ricos
e a maior riqueza
de que
beneficiarão os pobres
que serão
para a eternidade
os senhores do paraíso
e arredores.
Um em cada quatro
portugueses em risco de pobreza
«Um quarto da população portuguesa encontrava-se em risco de pobreza ou de exclusão social em 2012, situando-se este valor, de 25,3% da população total, em linha com a média da União Europeia, de 24,8%, segundo dados do Eurostat. Relativamente a Portugal, registou-se uma subida de quase um ponto percentual entre 2011 e 2012, com o número de pessoas a enfrentarem risco de pobreza ou exclusão social a subir de 24,4% para 25,3% da população, o equivalente a 2,7 milhões.» por Lusa.
Nota: reparem na expressão de submissão da ministerial figura e o desdém do patrão.