terça-feira, 31 de dezembro de 2013

BALANÇO de 2013

«O maior grupo dos sem-abrigo dorme à porta do Ministério das Finanças»

No final do ano é habitual fazer-se o balanço de tudo o que ocorreu a nível nacional.


Nos próximos dias o vocábulobalanço’ surgirá a propósito de tudo e de coisa nenhuma, balanços positivos, balanços negativos e há até o balancete, balanço de menos intensidade uma espécie de tremor de terra em relação aos terramotos. Surgem números, percentagens, opiniões dos grandes patrões e outros ladrões. Há os que fecham para balanço e os que depois do balanço não abrem. E fazem-se propostas e vaticínios para o próximo ano de costas viradas para a realidade. Qualquer país onde surja como normal o desprezo pelo ser Humano, como todos os dias se constata, o balanço está feito sem necessidade de qualquer discurso.

SUSTO



Quem é que não se assusta com esta manchete do Público?
Liquidá-los sim, mas não literalmente.
Liquidar-nos é a tarefa que lhes tem sido atribuída e continuam a cumprir magistralmente. Pagam-lhes bem, asseguram-lhes futuro promissor e como são isentos de escrúpulos sonegam-nos os meios indispensáveis à sobrevivência. Tirando-nos o acesso à saúde, alimentação e trabalho matam-nos lenta e impiedosamente, com o sadismo próprio aos criminosos em série. Terroristas ao serviço dos banqueiros fruto do neoliberalismo. Fazem parte da quadrilha oficial de crápulas, escroques e burlões. Liquidar este governo é tarefa que se impõe em 2014.

sábado, 28 de dezembro de 2013

CRÓNICA PARA UM FIM DE ANO



Sem futuro, o presente não serve para
  nada, é como se não existisse.”
J. Saramago (Ensaio sobre a Cegueira)

O presente, no eterno e constante encalço do futuro, não deixou ao homem outra alternativa se não parar o tempo para acertar o relógio das suas preocupações que se deslocavam a velocidade tamanha que o devir a cada instante lhe escapava.

Desde sempre aguardou um Ano Novo, novo de facto, mas em vão, o pobre chegava-lhe sempre sem esperança, vinha a prazo e/ou com recibo verde, cumprindo os Critérios de Convergência que a moeda única lhe impunha.

Este ditoNovo Ano”, não o poderia receber com a colectiva histeria, o habitual foguetório, por saber que era mais um ano sem futuro, contratado por cinquenta e duas semanas. Calendário amarrotado e lançado ao lixo.

Que fazer então ?” Pensava o homem com olhos de realidade.

“Se me aparece sempre debilitado da viagem, a única solução, a única hipótese, é ir ao seu encontro. O futuro chega sempre atrasado se o esperarmos sentado.”

De alento renascido, mesmo sem olhar o relógio, gritou: É a hora !

Pelos anos não se espera, nunca se deve esperar, os anos novos são sempre e os que nós construímos na caminhada que leva ao seu encontro, assim os nossos votos deixam de ser desejos, meras intenções, cartões coloridos com frases ocas, palavras em trilinguismo estafado, fogo-de-vista distante e frio.

“Recuso-me a aceitar qualquer ano-refugo que me queiram impingir. Se nunca me deram nada de jeito a que propósito me entregariam um ano sem defeito, com certificado de garantia ou seguro contra todos os riscos ?”

No afago do pensamento-calor,  sorriu confiante para o Ano Bom, e exaltante exortou a que o acompanhassem:

“Venham, venham comigo para a rua, sim para a rua, não fiquem para ai feitos basbaques engrossando a ala dos que aplaudem sem saber porquê nem para quê um qualquer ano asno.

Venham para a rua exigir o vosso ano de direitos: direito ao emprego, à saúde, ao bem-estar sem o qual o futuro não tem sentido.

Venham, de coerência firme, fabricar com as vossas mãos e saber um novo ano solidário para nele vivermos como humanos que nos afirmamos.

Forçados somos a mudar de ano, mas não a renegar os nossos ideais.

Venham amigos, os anos são o reflexo da nossa passividade ou do nosso brio.
Venham! Somos um Novo Ano!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O NATAL E OS COITADINHOS



«Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada, quero emprego com direitos para gerar essa riqueza, quero que a dignidade do homem seja mais valorizada que os mercados, quero que o interesse colectivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados.»
José António Pina
 Assembleia da República (aqui)

Aproxima-se o Natal, há que burilar o verbo amar nos corações, exercitar os bons sentimentos com genuflexões de alma, embeber-se de piedade pelos pobrezinhos, os pretinhos, os velhinhos, os aleijadinhos, olhar todos os “inhoscom os olhinhos que reflectem os seus espiritozinhos. Coitadinhos!…
Dizer às crianças que o Pai Natal não tem brinquedos para todos os meninos nomeadamente os mais carenciados (belo eufemismo!) o que é para eles uma injustiça dado que o menino Jesus ainda não tinha aberto os olhinhos os Reis Magos o presenteavam com ouro, incenso e mirra, o que lhe permitiu um bom pé-de-meia e bom cheirinho. Coitadinho!…
Claro que as crianças não conseguem entender porque é que o Pai Natal tem brinquedos para os meninos que não sabem que fazer a tudo o que possuem, obrigando os seus papás a malabarismos de linguagem para lhes explicar tão grande aberração; ou bênção? Coitadinhos!…
E porque são todos muito bonzinhos, os paizinhos, para colmatar tamanha injustiça, – ou justiça divina, vá saber-se – irão com os seus rebentos vasculhar nos gavetões, sótãos e saguões, procurando entre a tralha o que não servindo, serve aos filhos dos desempregados. Coitadinhos!…
Entretanto os funcionários públicos foram avisados que não devem colocar o sapato na chaminé e muito menos a bota. O natalzinho dos funcionáriozinhos vai ser de chinelo roto. Coitadinhos!…
Começou a agitação nos corações de todos os que gostam muito dos pobrezinhos. Coitadinhos!
A festa natalícia aproxima-se, e há que proporcionar aos pobrezinhos, coitadinhos, a ceia de Natal. Há milhares de meninos que passam fome e os bons corações que explodem de emoção, não vão permitir que os pobrezinhos coitadinhos, não tenham ceia de natal, uma consoada repimpada que os faça esquecer por algumas horas a fome dos dias seguintes.
Milhares de voluntários pedem para os necessitados, gente programada para ter pena dos pobrezinhos uma vez por ano, como se a pobreza fosse um fenómeno cíclico que surge anualmente precisamente pelo natal.
O aviltamento a que são sujeitos os que recebem a esmola, não impressiona esses corações de plástico que, confrontados com a baixeza dos seus gestos, replicam queé melhor isto que deixar os pobrezinhos sem consoada”. O porquê de haver pobreza é uma questão filosófica de difícil digestão, “pobres sempre houve e sempre há de haver”, Deus assim quer… e depois ainda há o céu que aos ricos é negado. Os pobres têm o paraíso no céu e os ricos na terra. Este é o grande castigo infligido aos ricos e a maior riqueza de que beneficiarão os pobres que serão para a eternidade os senhores do paraíso e arredores.

Um em cada quatro portugueses em risco de pobreza


«Um quarto da população portuguesa encontrava-se em risco de pobreza ou de exclusão social em 2012, situando-se este valor, de 25,3% da população total, em linha com a média da União Europeia, de 24,8%, segundo dados do Eurostat. Relativamente a Portugal, registou-se uma subida de quase um ponto percentual entre 2011 e 2012, com o número de pessoas a enfrentarem risco de pobreza ou exclusão social a subir de 24,4% para 25,3% da população, o equivalente a 2,7 milhões.» por Lusa.
Nota: reparem na expressão de submissão da ministerial figura e o desdém do patrão.