sábado, 4 de janeiro de 2014

Carta de Armindo Rodrigues a Mário Soares



Mário Soares:

Está a grande desvergonha consumada. Acabo de ouvi-lo pela Televisão, pedir o auxílio de todos os Portugueses. Como cidadão honrado que sempre fui, acudo ao seu apelo, sem com isso pretender, de modo nenhum, reatar quaisquer relação consigo. Quero apenas, ao que lhe disse na carta que a pôr-lhes cobro lhe escrevi há tempos, acrescentar alguma coisa. Deve ir em sete anos, tive a higiénica necessidade de afirmar no Teatro Vasco Santana, cheio à cunha, que, quanto a mim, você jamais fora sequer antifascista, mas apenas anti-salazarista, e pela razão única de o Salazar ocupar o lugar que lhe era devido a si, por desde muito jovem a ele ter aspirado.
Para satisfazer as sus insaciáveis ambições, digamos de passagem que até algo ridículas, não se poupa você, nem poupa a Nação, e olhe que é a Nação e não o País como a sua crassa ignorância teima em dizer, às suas sujidades. Pela sua política, você foi o chasco dos seus primeiros parceiros governamentais da direita. Chasco o há-de ser por igual dos segundos. Lembre-se do que lhe vaticino. Aliás, o achincalhe é evidente. Desaparecida, por exemplo, na Televisão a sua imagem, logo nela apareceram as dos seus novos comparsas, adversários apregoados da véspera, com sinais inequívocos de gáudio e de chacota. Nem foi essa, muito longe disso, a primeira vez que tal aconteceu. Achincalhado o tem sido você ali por mais de uma ocasião, por grosseirões e grosseironas, alcandorados pela mediocridade charra dos nossos reaccionários a importantes figurões.
E aqui perguntará Você ao que venho eu exactamente. É simples. É-me indispensável, posto que a saúde física me está faltando, mostrar-lhe uma vez mais ao menos que a moral a continuo a ter sólida. Por isso lhe afirmo que, quanto me lembro, acaso haver sido seu amigo seja a recordação de toda a minha vida que me causa maior repugnância. E como é crível não durar eu muito e, por outro lado o considero, pelo seu amor da evidenciação a todo o propósito, capaz, quando eu morrer, de pensar comparecer ao meu enterro, gravemente lhe declaro esperar que minha mulher, como última prova de afecto, nesse caso o escorrace da minha presença inerte.

Armindo Rodrigues

Lisboa, 27 de Maio de 1983

P.S.  – É claro que me reservo o direito de utilizar esta carta como entender.

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Hipócrita, idiota, medíocre, mentiroso, tantos adjetivos negativos se podem aplicar a esta pessoa!!!!!!!|
Honra a Armindo Rodrigues que nem na morte quis a sua presença.~
Um abraço.