terça-feira, 2 de agosto de 2016

Para jornalistas, comunicadores sociais e militantes da verdade.

Fernando Buen Abad Dominguez
Rebelión/Universidad de la Filosofia
Tradução de Armando Pereira da Silva

10 RECOMENDAÇÕES ÉTICO-SINTÁCTICAS
Para jornalistas, comunicadores sociais e militantes da verdade.

Já sabemos que não há “jornalismo” assexuado, neutro ou des­-interessado; já sabemos que entre tendências, luvas e ideologias se urde uma rede de pressões e tensões que determinam a interpretação “jornalística” dos “factos” e a sua orientação ao serviço dos fios que a movem. Já sabemos que ninguém redige ou publica notícias ingenuamente e que no exercício de narrar acontecimentos ­ - objectivos e subjectivos – pesa decisivamente a posição e o compromisso de classe de quem informa e de quem é informado. É indispensável ter consciência dessas tensões, reconhecer os limites que nos impõem e saber mover-se entre elas para pôr a salvo a “paixão pela verdade”, isto é, pela sua construção colectiva, pelas suas fortalezas metodológicas e seus fundamentos científicos. É indispensável romper com o empirismo e com o criticismo – irresponsáveis e mercantilistas – que servem de plataforma para as tropelias informativas mais impúdicas e impunes. Por tudo isto e outras razões mais, o melhor é experimentar vacinas ou antídotos éticos de combate capazes de parir e fazer parir um jornalismo novo ou um modo de produção informativa emancipados e emancipadores. Verbigracia:
1.                                Não uses a palavra “enfrentamento” quando grupos militares ou policiais reprimirem líderes ou movimentos desarmados
2.                                 Lê muito e privilegia sempre as fontes de informação daqueles que lutam pelas bases e desconfia sempre das agências internacionais que comercializam notícias.
3.                                Explica, com toda a clareza, os “factos” e as suas causas, os seus protagonistas e as condições concretas e de classe em que ocorrem (cronológicas, históricas, de classe, geográficas...)
4.                                Explica sempre (da maneira mais clara e criativa) o marco teórico do teu trabalho de informação e comunicação.
5.                                Sê generoso na consulta e no contraste de fontes informativas e elabora um dispositivo crítico rigoroso em face das mesmas.
6.                                Pondera com cuidado extremo a tua subjetividade perante os factos e mantém sob vigilância a tua própria contaminação ideológica e a tua ignorância dos que tens de informar. A primeira suspeita sobre a informação deve recair no informador.
7.                                Adverte o teu interlocutor (de maneira rigorosa e criativa) de quais e quantas são as tuas limitações para informar no geral e no particular.
8.                                Se no processo de recolha da informação detectares que alguém mente, denuncia-o de todas as formas possíveis ou serás seu cúmplice.
9.                                Mantém equidade de perspectivas (não neutralidade) de género, de idades... Tomando posição: ao lado dos mais débeis, dos mais frágeis, dos mais humilhados. Ética significa, também, fazer o que se deve a bem dos que menos têm.
10.                          Analisa, invariavelmente, se o que informas pertence ou não, se ajuda ou não, a uma situação revolucionária e assegura-te com toda a honestidade de que o teu vocabulário, a tua sintaxe, a tua formação profissional... os teus valores estão à altura das circunstâncias e dos povos em luta. Não te enganes nem enganes outros.
A Ética não é essa arte do relativismo fanático –que alguns ridicularizam com palavreado de eruditos- para esquivar a força do seu poder social e a sua capacidade de pôr em evidência toda a trapaçaria, matreirice e crime. Não é um ingrediente decorativo para rapazolas que, servis perante o patrão, recitam ideologia de auto-ajuda como se fosse evangelho ético de supermercado. Ou seja: mercenários.
Embora pareça ocioso repeti-lo, nunca e demais﷽﷽eça ocioso repeti-lo, nunca ial e a sua capacidade des e manté demais ancorar a produção de informação em bases seguras com boas doses de auto-crítica científica. Alertas para os perigos e contaminações. É fácil encontrar ciladas e  manias – de toda a ordem -  entre aqueles que se auto-convenceram de que são mais revolucionários do que toda a revolução. Não são poucos. Abundam os “docentes” que, por já saberem tudo, lixam com saliva de doutos quanta situação e quanta liderança  questionem o seu lugar nas fileiras. Alguns são discretos e hábeis na dissimulação da sua inutilidade ou da sua obra inofensiva e para isso usam muitas citações de revolucionários e teóricos clássicos. Há peças magistrais ajeitadas por sábios incapazes de organizar sequer uma pinhata. E vendem muitos livros e conferências.
    Não são poucos os que se fazem professores e preceptores. Semeiam a abundante colheita do seu ego nas cabeças de muitas gerações e aguardam pacientemente a hora dos aplausos. Julgam-se na idade de ensinar a outros a arte de se promoverem a si mesmos e prodigalizam bolsas, prebendas e sinecuras aos quatro ventos do seu histrionismo messiânico. E dão voltas ao mundo armados simplesmente com o seu manancial de bagatelas auto-referenciais. Mas já basta. Ninguém está acima dos que lutam, ninguém pode auto-erigir-se em intérprete ou representante daquilo que não constrói e pelo qual não se arrisca. Ou seja: ninguém está acima da revolução social.
Entende-se aqui por Ética a ciência que Sánchez Vásquez descreveu numa das suas obras mais orientadoras e úteis para a Batalha das Ideias e para esculpir a conduta científica de quem assume responsabilidades sociais ante o trabalho de documentar acontecimentos e divulgar as consequências, objectivas e subjetivas. Nada menos. E isso faz com que nenhum “decálogo”, incluindo este, seja letra morta nem palavra última. Tudo deve sujeitar-se ao exame inequívoco da sua utilidade para a emancipação humana, finalmente sem classes sociais... sem capitalismo.

1 comentário:

O Puma disse...

Entretanto as classes sociais existem
em luta