terça-feira, 5 de dezembro de 2017

CULTURA, COMUNICAÇÃO, TERRA, TRABALHO E CAPITAL




(Rebelión/Instituto de Cultura e Comiunicação UNLa)


Tradução: Armando Pereira da Silva 

CULTURA, COMUNICAÇÃO, TERRA, TRABALHO E CAPITAL

Factores (também) da produção e das relações de produção


É descomunal a pressão exercida pelo neoliberalismo no sentido de (a seu modo) “ “apagar do mapa” o Estado com as suas responsabilidades face à Cultura e à Comunicação. Desferem-se ataques de todo o tipo contra as políticas governamentais incómodas e utiliza-se todo o tipo de argúcias para aniquilar corpos legais nos quais o papel do Estado, em condições de cordura, é irrecusável e indispensável. A agressão ideológica é sobretudo um refogado nauseabundo do liberalismo económico inspirado na “auto-regulação” e no “deixa andar, deixa fazer” de comerciantes irresponsáveis, ignorantes e avarentos. Como em 2008.

Aqui e além filtram-se – e infiltram-se – os ideólogos  do “mercado livre” cultural e comunicacional. Vão e vêm febris com a sua geringonça mercadológica disfarçados, umas vezes como professores e outras como funcionários, umas vezes como “cultores” e outras como predicadores. Trata-se de encher todo o resquício, todo o vazio que por descuido, por confiança ou por negligência se deixou ou não se actualizou, para fixar socialmente a “intranscendência” do Estado, democrático e em transição, a respeito da Cultura e da Comunicação. Factores da produção e das relações de produção.

O neoliberalismo que é (também) um cancro para o capitalismo, que opera no seu interior como uma pústula infecta, impõe o seu repúdio de conjuntura contra o Estado burguês e obriga-o a retirar-se (ficticiamente) de tarefas fundamentais para deixar as mãos livres aos comerciantes mais inescrupulosos. Isto já teve consequências terríveis nos campos da saúde, da habitação, da educação e avança sem clemência sobre os espaços profundos da subjetividade para se estancar como “nova forma de cultura” baseada no abandono, no vazio de direitos e de responsabilidades.

Não se trata unicamente de extirpar a figura do Estado como convénio macro para as relações de produção. Trata-se de fazer desaparecer os direitos, as garantias e as responsabilidades. É o reino do desamparo e do “salve-se quem puder”. O neoliberalismo cultural e comunicacional não é mais do que a lei da selva em matéria de princípios, valores e contratos sociais. É a hierarquização da dessacralização idiota. É a diluição da identidade e da História em troca de um mundo regido pelo mercado no qual de nada servem a experiência, o conhecimento ou a planificação se não tiverem de ser ligados à compra e venda acelerada e massificada. O mérito supremo consiste em esvaziar as adegas, saturar os mercados, vender, vender e vender para voltar a secar as adegas. Neste cenário, para que servem a Cultura e a Comunicação tal como as conhecemos até hoje? E o vínculo da Estética aos factores da produção?

Pensar o Estado continua a ter uma importância transicional específica, tanto no aspecto teórico como no aspecto político prático. O ataque do imperialismo acelera-se num mundo infestado por negócios bélicos e avança uma fase nova de expressão monstruosa contra a classe trabalhadora em todo o planeta. Acentua-se cada vez mais o modelo de monopólios em proporções cada vez mais monstruosas. Os países “sérios” são presídios fabris e militares só para os trabalhadores, ao mesmo tempo que as armas de guerra ideológica ditas “meios de cultura e comunicação” produzem horrores e calamidades.

Mais do que nunca o reformismo faz das suas e disfarça-se de tudo o que puder, como carnaval imperante nos partidos oficiais e em não poucos “movimentos sociais” de todo o mundo. Algumas forças da “esquerda” só se distinguem pela sua conduta lacaia obediente perante os interesses da burguesia nacional e, mais precisamente, perante os interesses do seu Estado. E a guerra do neoliberalismo é, precisamente, uma guerra pelo “desaparecimento fingido do Estado e, com ela, pela partilha dos despojos. A luta para arrancar aos povos as instituições obrigadas a defender os seus direitos é, com o neoliberalismo, uma moda burguesa infestada de preconceitos de classe que odeiam o Estado”  na medida em que o mesmo possa implicar a defesa dos povos. É impossível compreender a Cultura sem a Terra, ou o Trabalho sem a Comunicação.

É preciso fundamentar uma teoria científica nova sobre o Estado, ir diretamente aos núcleos mais esquecidos ou tergiversados pelo reformismo e pelo neoliberalismo e traçar a partir daí o lugar da Cultura e da Comunicação como factores decisivos da produção em todas as suas escalas e não como elementos decorativos ou de entretenimento. Aí veremos a importância de uma revolução científica que compreenda a Cultura e a Comunicação como direitos geradores de direitos na dialéctica das responsabilidades sociais para um Estado governado democrática e participativamente pelo povo, ou dito de outro modo, pela classe trabalhadora. Democratizar Terra, Trabalho, Capital, Cultura e Comunicação.

Assim, uma Revolução Científica capaz de oferecer um modelo de Estado libertado das ditaduras do mercado burguês, permitirá compreender a Cultura e a Comunicação como factores da produção que ao mesmo tempo são factores das relações de produção que podem habilitar-nos socialmente para uma batalha decisiva contra as formas da colonização ideológica que nos impingiram nas décadas recentes (1945-2017) uma guerra imperialista. Na base desta ideia está o desenvolvimento da revolução socialista e o papel que cabe ao Estado segundo o seu desenvolvimento histórico; e isso tem não só uma importância política prática, mas a importância mais profunda como força emancipadora das massas que deverão aperfeiçoá-la para se livrarem, num futuro imediato, do jugo do capital sobre os seres humanos.

Não podemos ter uma atitude evasiva com as relações entre a transformação do mundo e do Estado, porque isso favorece o reformismo e o oportunismo, tal como não se pode ter uma atitude hipócrita e muito menos uma atitude idólatra. O Estado, tal como o vimos, pode cobrir-se de toda a espécie de parasitismos e, se não nos assegurarmos de que ele se comporta como um motor emancipador afirmado em políticas e leis descolonizadoras, pode ser a pior prisão de espírito sobre a qual se escreveram (e viram) horrores a granel. Em todo o caso estamos obrigados a produzir teoria e ciência pertinentes para o cometimento de garantir, partindo do Estado transicional e participativo de tudo quanto o envolve – e de si mesmo – até onde seja útil. Isso inclui a tarefa de idear teoria e prática para a sua dissolução logo que o decidam as sociedades que alcancem um tal desenvolvimento. Oxalá que sem demora. Entretanto há que travar a aventura criminosa do neoliberalismo contra a humanidade.

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