quarta-feira, 4 de julho de 2018

VIVA O POVO MEXICANO


A América Latina é um imenso vulcão em permanente ebulição, confirmando a todo o instante o axioma tantas vezes esquecido
“tudo está em devir constante”.
E que Heráclito de Éfeso há cerca de 2500 anos nos alertou.

As chaves  da vitória e os desafios
Por Fernando Buen Abad Domínguez

«Ficou claro que uma vitória retumbante, como a de Lopez Obrador no México, é a conjugação de pelo menos, três fatores: uma vinculação permanente e irredutível com as frentes populares de luta; uma interpretação profunda e dinâmica da inquietação social e uma organização programática baseada em percorrer metro a metro o território nacional. Tudo isto, articulado por uma personalidade cuja tenacidade não conhece fadigas. “Às três é de vez” e assim foi.
A vitória de MORENA-Lopez Obrador é uma rebelião nas entranhas de uma estrutura democrática gravemente afetada pelo corporativismo bipartidarista (PRI-PAN) e por uma imensa lista de vícios e corruptelas que levaram à bancarrota institucional de todo o aparelho político. Uma rebelião assediada pela violência macabra desencadeada por uma falsa guerra contra o “crime organizado” que na prática não foi mais que a militarização “encoberta” de todo o território para colocar a riqueza nacional ao serviço das corporações transnacionais e seus cúmplices locais. Uma rebelião que teve que superar milhares de armadilhas e emboscadas em todos os odiosos repertórios de empobrecimento económico e de guerras psicológica e mediática.
O México sofre a violência do neoliberalismo e os embates coloniais do império ianque. É um país sequestrado por gerentes – impostos de modo fraudulento – para fornecer recursos naturais e doar mão-de-obra.
No México, até hoje, ninguém pôde garantir ao povo a defesa do território e a defesa dos recursos naturais. Ninguém foi capaz de garantir o exercício independente da justiça. Ninguém conseguiu deter o crime organizado e suas metástases em todas as estruturas sociais e culturais do país. Ninguém conseguiu exercer qualquer liderança em questões de democracia comunicacional. Ninguém foi capaz de garantir o direito à educação, o direito ao trabalho, o direito à saúde, o direito à alimentação… Ninguém foi capaz de assegurar a dignidade às pessoas, porque a moral entreguista e rasteira, adoradora do império ianque, serve de modos ignominioso a opressão. Neste contexto, López Obrador vence as eleições.
As dificuldades começam agora. López Obrador propõe-se pacificar o país; terminar com a corrupção e recompor a economia com a dignificação laboral e salarial. Conseguir a inclusão dos mais desprotegidos e distribuir equitativamente o orçamento federal. E isso implica derrotar as máfias que sequestraram o Governo e o Estado para fazer justiça, por exemplo, aos estudantes de Ayotzinapa, aos povos indígenas e garantir sustentabilidade do trabalho para ampliar a participação social no governo mobilizado como organizador capaz de congregar forças que possam oferecer soluções à energia popular que triunfou.
Os desafios são muitos e enormes num país que rasgou profundamente o tecido social, mas que, apesar dos contratempos, se rebelou contra o establishment para tornar visível o seu multiculturalismo e plurinacionalidade junto com as “classes médias”, conseguindo a maior votação que presidente algum havia alcançado no México, nem mesmo qualquer outro líder de esquerda.
O México enfrenta o seu futuro imediato mobilizado como nunca, com as praças cheias, as ruas repletas, com uma mobilização magnífica que gere ideias emancipadoras. Contra a fraude, contra o saque e contra a histórica exploração… é uma identidade nova, uma festa que surge da base, uma situação social inédita. Pode bem ser o nascimento de um novo México, desta vez decidido pelo povo, com as armas da sua democracia em reparação, com uma moral renovada, e muita limpidez nos desafios de modo a se preparar para derrotar qualquer intento de regressão. Neste momento, o México está num momento de inflexão, um desafio às nossas capacidades de luta e unidade dentro e fora do país… ponto de inflexão para que nos reconhecermos na tomada do poder impulsionados com as nossas próprias forças populares, com os trabalhadores do campo e das cidades… para mudar o sistema e mudar a vida.»


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