As Abstinências dos
Corruptos
Por Fernando Buen Abad
Domínguez
Maio 24, 2020
“Imprensa sem
subornos? Uma experiência nova na Indústria da Comunicação? “Luvas”,
“subornos”, “prendas” ”recompensas” e “envelopes”... Acabou-se”.
“Acabou-se a papa doce”- diz o povo- e assim foi para os
“jornalistas”, “comunicadores” e outras camuflagens ideológicas
direitistas, na Guerra Mediática no México. O governo de Andrés Manuel López
Obrador decidiu, no âmbito do movimento pela Quarta Transformação, acabar com a
“tradição” corrupta de injetar dinheiro (na língua de alguns “comunicadores”) para engordar elogios, alimentar cegueiras e manter um
bailado de corrupção ébria de impudência e impunidade. E começaram os
estertores das abstinências. Salvo as exceções.
Alguns viram desabar os seus “castelos
de cartas” mediáticos, esfumou-se o “rating”, desapareceu
o glamour da petulância “jornalística” bailadora e viram-se na
necessidade de “se reconverterem”, ou seja, trabalhar de verdade. Outros
apegados aos seus engodos, compadrios e finanças, não deixam de acreditar,
enquanto fervem em birras, aqui e ali, em recuperar o altar do ego que
fabricaram para se auto adorarem em público. São eles, evidentemente,
os mais perversos que receberam fortunas a rodos e agora intentam
“organizar-se” para derrotar e derrubar López Obrador. Custe o que custar. O
que é novo, não é que guinchem, que vociferem, que bracejem. O novo é que, pela
primeira vez,
desde há muito, um governo decidiu cortar pela raiz com um dos vícios mais
terríveis na relação Estado-Comunicação, infetado por interesses mercantis e
máfias sequestradoras do poder. A novidade é que se destapou uma fossa
criminosa que desviou, durante décadas, os recursos do Estado (dinheiro do
povo) para manter chulos disfarçados de “jornalistas”, para traficar falsidades
e vendê-las como “informação”, para endeusar fantoches amestrados nas “malas-artes”
de fabricar “opinião pública”. A novidade é que fica aberto um campo de
investigação científica, jurídica, comunicacional e ética para extirpar de raiz
um cancro ideológico que fez amplas metástases, convencendo a “audiência” de
que nos “informavam” com o melhor, a tempo, com verdade e credibilidade
irrepreensíveis. A novidade é que foi derrotado um bastião da ideologia
dominante. Agora, há que transformá-lo.
No ponto em que se encontra esta
batalha, é inconveniente (por enquanto) citar nomes e apelidos, embora todos
saibam) quem são, onde “trabalham” ou onde “trabalharam”. (https://www.forbes.com.mx/revelan-lista-de-36-periodistas-con-contratos-con-gobierno-de-epn/).
No entanto, foi tornada pública uma
lista oficial e está (ou deveria estar) em andamento um procedimento legal,
económico e político para esclarecer, até ao último centavo, onde estão as
fortunas investidas pelos governos da plutocracia cacique mexicana. Mas,
principalmente, deve estar em marcha um movimento da Quarta Transformação
Comunicacional para extirpar, desde a medula, os milhares de truques e
jogatanas que faziam parte da “paisagem” e que se repetem diariamente como
fazendo parte do “senso comum” do comunicador. Isso implica uma revisão crítica
e exaustiva sobre o que se ensina nas salas de aula, que autores e tendências
teórico-metodológicas se privilegiam e quais as que se escondem, se perseguem
ou simplesmente se lincham na praça pública da tão propalada “liberdade de
cátedra”.
Uma “Quarta Transformação”
comunicacional implica extirpar os vetores ideológicos do mercantilismo,
baseados no estilo de escrever, na maneira de falar, nas poses e nos
estereótipos jornalísticos que campeiam impunemente, incluso na cabeça dos mais
“progressistas”. Implica uma revisão crítica e autocrítica, até à medula, que
retire dos nossos métodos de trabalho as manias semânticas e sintáticas dos
“chefes de redação”, a verborreia de quem presume saber o que é que “mais se
vende”, o que é que “o público gosta”, o que é que “se consome”. Necessitamos
de uma revolução dos vocabulários, uma profilaxia da semântica, da sintática e
da dialógica num sistema de produção informativa desconectado da realidade dos
povos. Uma revolução da comunicação.
Estamos na fase do birrento
exibicionista. Alguns, publicamente, incitam “golpes de Estado”! Agitam todo
o tipo de adjetivos e todo género de exageros, para
dar força e “importância” aos seus lamentos pelo suborno perdido. Agem como
se os preocupasse a democracia, agem como se
estivéssemos à beira do abismo, agem como se, sem eles, o Apocalipse estivesse eminente. Reúnem-se, declaram,
agitam, insultam e choramingam (em público e em privado) ante um povo que não
acredita neles, que os considera inimigos da verdade e da ética e que não dá
por eles “um centavo” de solidariedade. Simplesmente porque nem o merecem.
O México tem uma oportunidade
extraordinária de fazer uma autópsia minuciosa dessa forma de corrupção
incubada nos “meios de comunicação”. Desentranhar as suas origens, os seus
propósitos, as suas consequências e os seus beneficiários. Tornar visíveis e
compreensíveis os fios do poder comunicacional, que sequestraram a
informação durante décadas, com negócios de falácias informativas e ideologia
de plástico, suplantando o nosso direito de sermos informados verdadeiramente.
Agora, o que nos resta é converter o “vale de lágrimas” dos enlutados pela
síndrome de abstinência, numa amostra geral do que não deve voltar a
acontecer... do que nunca deveria ter ocorrido à humanidade no meio de uma
“infodemia” global infestada por “fake news”, operações de linchamento
mediático e desfigurações da realidade impostas pelos laboratórios de guerra
psicológica financiada pelo império. Como bem o sabem Vargas Llosa, Krausse,
Aznar, Felipe Gonzalez...
e uma longa lista de servos intelectuais. De momento, no México, “acabou-se a
papa doce”. Mas, para acabar com a corrupção numa
batalha económica, cultural, política e semiótica, há que colocar à sua disposição
toda a ciência, toda a arte, todo o talento.
Trata-se de resgatar um direito Humano: o direito a estar informado criticamente, com verdade,
com qualidade e sem chantagens. Sem subornos.
1 comentário:
Uma batalha que não vai ser "pêra doce",mas começar a mexer na classe mediática,por si só,já é um acto de muita coragem do governo mexicano.Excelente artigo de Buen Abad,como sempre.Abraço
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