sábado, 23 de maio de 2020

Horóscopo da Pandemia: O Capitalismo não Morrerá de Coronavírus - Por Fernando Buen Abad Domínguez



Horóscopo da Pandemia: O Capitalismo não Morrerá de Coronavírus

Que fizemos para mudar? Não há futuro possível sem crítica e autocrítica, severas.


    Como será o mundo depois da pandemia? A mais audaciosa das imaginações dará a volta ao mundo e voltará a dar. Uns clamam por “voltar à normalidade”. Outros acalentam a ilusão de que “morto o vírus acabou-se a raiva” do capitalismo. Outros ainda dão o tom verde ecologista às suas lucubrações e, é claro, não faltam predicadores que creem que todo mal surge graças a providências extraterrestres. Enquanto fazem contas à receita dos “dízimos”. Mas há também os “think tanks”, os assessores intelectuais, os académicos ou os “gurus” de todas as ocasiões. Já despertam as manobras do oportunismo e o menu completo do reformismo para instalar os dispositivos da falsa consciência convertida em “senso comum”, atualizado com estatísticas e infografias. Apressam-se para nos entreter com a ilusão de um “novo capitalismo” humano e progressista, redimido dos seus horrores graças à pandemia.

Uma corrida louca para “adivinhar” o futuro que se desencadeia. Dispararam os alarmes nos quadros do controle ideológico dominante porque veem desmoronarem-se as emboscadas que o capital estendeu contra os seres humanos. Estão alarmados e soltaram as suas matilhas de intelectuais para nos sequestrar o futuro (novamente) e impregná-lo rapidamente com mais do mesmo. Para os opressores, é tão importante infestar o futuro com os seus “novos” – velhos – valores, como encontrar a vacina CODIV19. Ambos são, para eles, grandes negócios.

Estão tentando maquilhar o sistema económico dominante, as suas salas de tortura laboral, os seus refinamentos de usura bancária, as suas estratégias de desapropriação e privatização na educação, saúde, habitação, cultura... Estão tratando de camuflar as monstruosidades da indústria bélica capitalista, os seus subordinados financeiros e mediáticos... mais todas as canalhices ideadas com pertinácia para humilharem a humanidade com fome e pobreza. Durante séculos. Cirurgia ideológica importante, lifting apresentado como sem interesse. Preparam um arsenal de paliativos, analgésicos e entretenimentos ideados para anestesiar a rebeldia, para diluir o terror revelado pela pandemia e para nos convencer de que nada pode mudar, que “é assim” e que nos devemos resignar... que alguma migalha cairá da mesa do capitalismo “renovado”. Os rapazotes intelectuais subservientes, essa canalha, está trabalhando arduamente. Já têm reservado muitas páginas nos “principais” jornais e muitas horas na rádio e TV do circo monopólico-transnacional. E nas “redes sociais”, é claro.

Entre os promotores do novo embelezamento do capitalismo estão os mesmos velhos ideólogos que contribuíram para o horrendo desastre de que a humanidade padece. São os mesmos apelidos, as mesmas universidades, as mesmas escolas financeiro-rapaces... nada de novo nessa “renovação” que nos tentam impor para contestar, o que será o futuro da humanidade após a pandemia. Ou, noutras palavras, respondem: mais do mesmo, com algumas reformitas. Sem baixar os lucros, bem entendido.

Nas próprias tripas do capitalismo está a força que o destruirá. Não há necessidade de procurar essa força noutro lugar. É a força que liquidará e sepultará o capitalismo para criar uma sociedade nova. “A burguesia produz, além de tudo, os seus próprios coveiros” Karl Marx. Não é preciso muita ciência para os ver em ação, diariamente. Destrói-o a contradição Capital-Trabalho, elevada à sua máxima tensão, que é uma revolução em marcha. Embora se esforcem muito para a esconder. Desse antagonismo emerge a tensão que elucidará, com a maior amplitude, o papel histórico e os objetivos da luta de classes do proletariado. O capitalismo não só cria e recriará as crises, inventa ilusões para anunciar que encontrará a “recuperação” da economia mundial como renovará os cenários com estratagemas reformistas a longo prazo. Inoculará “novas” reformas e grandes enganos para manter o capital acima dos seres humanos.

É necessário também, um movimento internacionalista de Filosofia para a transformação da realidade. Não se resolverão os problemas que a acumulação de capital impõe à humanidade, apenas com reformas fiscais nem só com reformas do aparelho do Estado ajoelhado ante as oligarquias. Não se resolverá só com mais hospitais, nem só com mais escolas ou com mais do mesmo. Há que reformar integralmente os conteúdos de cada instituição. Ainda que venham brunidos com palavrório ao gosto de certas tribunas. O modo de produção e as relações de produção devem ser profundamente postos em causa. A posse da terra, as “concessões” mineiras, a soberania dos mares territoriais e, em geral, o direito dos povos a desfrutar das riquezas naturais e do produto do trabalho que a elas imprima e que delas provenha. Toda a democracia burguesa deve ser discutida. A sua história, as suas definições, as suas legislações e as milhares de emboscadas ideológicas e vazias. Há que filosofar no sentido de uma revolução humanista a sério.

É também o momento de descolonizar a Filosofia. Lutar nas entranhas das máfias que a sequestraram para esconder a luta de classes e ornar o capital. Há que interpelar a educação na sua totalidade e os seus servidores do mercado dos conhecimentos. Há que interpelar o modelo de saúde e os princípios porque se rege para o emancipar da lógica do mercantilismo messiânico. Devemos questionar, “até doer”, toda a estrutura de “valores” e “senso comum” inoculados pelos “meios de comunicação” sequestrados para nos submeter ao “síndrome de Estocolmo” que nos obriga a aceitá-los como se fossem nossos, os valores da classe opressora. Há que interpelar integralmente o aparelho jurídico e das sanções… o capitalismo integralmente. Incluindo todos nós. Também devemos questionar a nossa crise de liderança revolucionária e resolvê-la para acabar com o capital. Como será o mundo depois da pandemia?: O mesmo, só com o perigo de que nos sequestrem o futuro novamente... o mesmo, só que piorando velozmente se não nos organizarmos para o transformar. “O perigo está na demora”. Eloy Alfaro.

2 comentários:

Olinda disse...

A luta de classes continua...Abraço

Maria João Brito de Sousa disse...

Vou partilhar... se conseguir.

Abraço!