ESTE TEXTO É PARA TI QUE NÃO SABES LER
Vota sua besta!
Dá voz aos cinzéis que apunhalaram o século findo
de cinzento,
Canta e ergue os hinos e bandeiras que condenaram
à miséria os teus avós.
- A fome fez-lhes bem! - dirás.
- Não comeram coisas que lhes fizessem mal!...
Tu que és a raça pura duma pátria inventada e não
queres cá misturas,
Besta seduzida pela palha adulterada que faz
esbracejar Ventura,
Carrega a albarda que não podes ver porque estás
sob ela,
Exibe o teu geosaber com os nomes das cidades dos
grandes clubes da bola,
Gaba-te de não leres, de odiares a escola e de
ignorares o que se passa à tua volta,
Baba-te no crédito que isso dá à tua opinião!
- Tenho esse direito, não?
Perguntas tu, num espasmo de direito democrático
à revolta. E claro, não precisas de dizer, o mais grave disto tudo é o
Rendimento Social de Inserção!...
Tu, cuja alta cruz só te permite olhar para baixo
no Natal,
Serve-te do boletim para fazeres a cruz em que
queres ser crucificado,
Abre às pazadas a cova da ignorância em que vais
ser enterrado.
- Não digas a ninguém! O voto é secreto!...
Consola-te enquanto limpas o rabo e goza enquanto
contemplas aquilo que fizeste,
Orgulha-te do resultado de teres tido razão:
- Eu bem disse que os gajos iam subir outra vez!
As tuas capacidades de vidência são uma ternura.
Tu, tu, tu e tu, tu aí, tu e tu também!
Eu não me importo de morrer antes de ti só para
não viver o monstro protofascista onde a tua consciência vai desaguar.
És uma besta! Uma besta tal que não se reconhece
como tal!
Conheço-te muito bem, tu cá, tu lá!
Não me dês palmadas no dorso! Animal és tu! Eu
sou da humanidade!
- O futuro é bom se for como o passado mas uso
aquele champô novo que dá na televisão!
Pois, está explicado o estado da tua cabeça. Se
houvesse medicina da consciência, para começar, recomendava-te que trocasses o
aparelho por cânhamo e que lesses o Escuta Zé Ninguém.
-Vai bardamerda pá! Não é por escreveres uma cruz
que sabes ler!
(Roubado
no face, adivinhem de quem.)