AINDA ESTAMOS A TEMPO
O tempo político e social que vivemos não está
para tibiezas, nem para meias-palavras. Não está para subtilezas partidárias,
achismos inócuos, gestos anódinos. Não está para ajustes de contas, calculismos
ou perceções de superfície. O quadro que está diante dos nossos olhos e o
espaço onde decorrem as nossas vidas exige hoje, mais do que nunca, que não
desperdicemos uma só hipótese que seja de contribuir para a saúde da nossa
democracia e para inverter a situação de cedência colectiva ao pólo
anti-democrático. Basta de critérios pequenos para se enfrentarem problemas
grandes.
Quem se considera de esquerda e democrata, seja
comunista ou não comunista, passou a ter, desde anteontem, um “alívio” no que
toca às próximas presidenciais. É este mesmo o sentimento já manifestado e
partilhado por muita gente que se enquadra precisamente no lado político e
social a que aludimos. A falência de uns e/ou a incapacidade de outros, deixara
muita gente órfã perante perigos de diversa ordem, também no que toca à escolha
para próximo Presidente da República. Mas felizmente, como dissemos, ganhou-se,
a partir de anteontem, um caminho aberto, coerente, determinado e firme, como a
situação exige, no que toca ao desafio que se nos colocará no início do próximo
ano: apoiar e votar na candidatura do António Filipe à Presidência da
República.
O António não necessita de especial
reconhecimento em lado nenhum. Muito menos nas habituais colunas de jornal ou
nos espaços de comentário político. Aliás, o pior que lhe pode acontecer nesta
altura é vir a ser elogiado pelo regimento de comentadores de direita cujos
princípios, manhas e cartilhas ele sempre denunciou e combateu. Mas o que
sucede é que, ainda assim, o António está sujeito a que isso mesmo lhe
aconteça. Há quadros partidários que não precisam de medalhas, porque o
trabalho em si mesmo é a grande medalha. Não só não está ao alcance de qualquer
um atingir tal grau de prestígio dentro e fora do seu próprio partido, dentro
ou fora da sua área política e ideológica, como também, nos tempos que correm,
tal façanha é mais rara do que alguma vez foi. Nem tudo na política actual é
grunhido e o António Filipe é a melhor prova disso.
No PCP não temos por hábito, nem por missão de
qualquer espécie, tecer grandes loas pessoais ou individuais a qualquer
militante, que é e será sempre parte de um imenso colectivo, e também não é
aqui que o pretenderemos fazer. Só que tudo aquilo que parece elogio é, neste
caso, mera e racional constatação. Apesar da relevância e visibilidade do seu
trajecto, não há no António cedências ao palacianismo, ao divã das famas ou dos
escaparates. A todo tempo e em todas as funções, o António é um homem inteiro.
Inteiro na defesa da democracia e inteiro na capacidade de diálogo. Mas
igualmente e indiscutivelmente inteiro na posição inegociável da defesa de quem
menos tem e mais sofre.
O António Filipe nunca foi outra coisa que não um
democrata neste país. Mas sucede que este país já foi bastante mais democrático
do que aquilo que hoje é. O António Filipe nunca abandonou as traves mestras e
os princípios da justiça e da igualdade. Mas a sociedade em que vivemos nunca
as rejeitou nem vilipendiou tanto como nos tempos que correm. O António nunca
deixou de se bater pelo progresso e pela esperança convicta de dias melhores
para todos. Talvez nunca como hoje o país nos tenha mostrado tanta propensão
para o seu oposto: um país fechado e só para alguns. Por isso, o caminho a
tomar e o lado a escolher só pode ser este: reunir forças e apoiar a
candidatura do António. A candidatura daqueles que recusam a ameaça dos dias
negros. Porque ainda estamos a tempo.
(Ivo Rafael Silva, Manifesto74)
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