sábado, 18 de julho de 2009

112



Para os que advogam que a nossa crise vem do exterior, relembro esta crónica de há 4 anos, Setembro de 2005.


111

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer –

……………………………

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

Fernando Pessoa - Mensagem

Num estudo divulgado pelo Semanário Económico, «a manter-se o ritmo das últimas três décadas, 111 anos é o tempo que o País demorará para atingir a média do produto interno bruto (PIB) da UE.»

Se me permitem acrescentaria mais um anocom mil diabos, mais ano menos ano, que mal daí virá? Com este pequeno acrescento, ficaríamos com um logótipo emblemático facilmente reconhecível e condizente com a nossa situação passada, actual e futura; o 112 é o número de todas aflições, desastres ou catástrofes de qualquer natureza, cheira a clorofórmio, soa a tragédia e faz-nos lembrar o relampejar do ni-nó-ni.

Se, de facto, não estamos a viver um cataclismo, que alguém me saiba adjectivar a actual situação que nos traz à memória o passado recente em que por várias vezes nos afirmaram ser Portugal umoásis”, de tal modo idílico que nunca demos por ele. Que rolávamos no “pelotão da frentesempre a pedalar nas bicicletas fixas dos ginásios, que frustração! Da lanterna vermelha, perdão, laranja e rosa pouco se tem falado. Talvez um problema de daltonismo intelectual ou deslembrança!

Perdemo-nos no deserto de tantas desgovernanças, e do oásis nem a miragem; quanto ao “pelotão da frente”, levámos todo este tempo a encher pneus, e nos falta o ar. Ofegantes, vamos cavando os alicerces desta nossa vil tristeza: Subsídios para manter as terras em pousio e abater a nossa frota pesqueira investindo na compra de submarinos para melhor mergulhar a nossa indigência e alguma vergonha, se alguma ainda nos resta.

O nosso grande esforço no investimento produtivo para conseguirmos chegar à média do PIB europeu, encontramo-lo no envio de militares porta-estandartes do imperialismo Ianque nas suas criminosas agressões, despendendo assim milhões e milhões de euros e acelerando deste modo a nossa lesta caminhada que nos levará, dentro de cento e onze anos à média do produto interno bruto da UE.

Temos vendido a preços de saldo a maquinaria da nossa indústria têxtil, à medida que vão encerrando as fábricas, a indianos e chineses, depois de termos alienado ao desbarato toda as máquinas da Siderurgia Nacional.

Sabendo que sem a qualificação dos nossos jovens seremos sempre o que somos, e porque entre os 29 países da OCDE os nossos alunos ocupam o 26º lugar em literacia da leitura, a 27ª posição no domínio da matemática e a 28ª em ciências, para colmatar esta tremenda deficiência e atingirmos a média europeia do PIB, a classe docente é menosprezada e desmotivando-a dificultam o regular exercício das suas funções.

Serenamente, a serenidade e a auto-estima são os cajados aconselhados pelos governantes, aguardemos o ano de 2116 para comermos pipocas, hambúrgueres e muitas mais mixórdias que a globalização distribuirá pelos países pobrezinhos.

Eu fico para ver!

Sem comentários: