«Na prisão, especialmentenós, os comunistas, éramos “obrigados”, num pactonãoescrito, a manter uma moralvisível e exemplar e era uma emulaçãopereneentrenós.»
MarcosAna
In ‘Digam-me como é uma árvore’
A leitura deste comoventelivro de MarcosAna convidou-me a publicar “A superioridademoral dos comunistas” de Álvaro Cunhal.
Boas fériasparaquemainda as tem.
A SUPERIORIDADEMORAL DOS COMUNISTAS
Álvaro Cunhal
Os comunistasnão se distinguem apenaspelosseuselevados objectivos e pelasua acção revolucionária. Distinguem-se tambémpelosseuselevadosprincípiosmorais.
A moral dos comunistas tem a suabase objectiva nas condições de trabalho e de vida do proletariado, no processo da sualutacontra o capital e, desde a vitória da revoluçãosocialista, na novasociedade libertada da exploração. Tem, comoprincipal factor subjectivo, o papeleducativo desempenhado pelavanguardarevolucionária guiada pelomarxismo-leninismo.
A moral dos comunistas é contrária e superior à moral burguesa. Constitui umelementointegrante da forçarevolucionária do proletariado e da suavanguarda. Age como «forçamaterial» na transformação do mundo. E, voltada para o futuro, indica os traçosessenciais da transformação do própriohomem.
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Pelasuaorigem, a suanatureza, a suaformação, o seudesenvolvimento, a moral dos comunistas é uma moral de classe – é a moral do proletariadorevolucionário da épocacujoconteúdoessencial é a passagem do capitalismo ao socialismo.
Marx, Engels e Lenine mostraram o vazio das concepçõesacerca de uma moraleterna, absoluta, válidapara todas as classes, todas as épocas e todas as condições e que, porissomesmo, «não é aplicável nunca e emparte alguma». Nas sociedades divididas emclasses antagónicas, a moral foi sempre uma moral de classe, basilarmenteassente nas condições da vidasocial. «Os homens (sublinhou Engels), conscienteouinconscientemente, derivam as suas ideias éticas, emúltimaanálise, das relaçõespráticas nas quais é baseada a suaposição de classe – das relações económicas nas quais realizam a produção e a troca».
A moral, como as outras superstruturas, tem umdesenvolvimentopróprio, contínuo e relativamenteindependente. Na moralproletária integram-se as aquisiçõesprogressistas do património ético deixado pelas classesascendentes e peloshomensmaisesclarecidosque, ao longo dos séculos, sonharam e lutaram porummundo de justiçasocial e de aperfeiçoamento humano. O que nela é essencialnãosãoporém os elementos herdados do passado, mas os elementosnovosresultantes da natureza, objectivos e missãohistórica do proletariado. Ao antagonismoirreconciliável de interessesentre o proletariado e a burguesia corresponde umantagonismomoral, que evidencia o apodrecimento e agonia do capitalismo e a certeza da vitóriauniversal da causaproletária.
Da exploração da classeoperária, das massas trabalhadoras, dos povos subjugados – exploraçãoimpostapelaviolência do aparelho do Estado, pelarepressão, terror e a guerra – resultam os sentimentos e o comportamentomoral da burguesia: individualismo e egoísmoferozes, indiferençapelasorte dos sereshumanos, rapacidade, venalidade, completafalta de escrúpulos, redução a simplesmercadorias dos valores culturais e espirituais. Com o aprofundamento da crisegeral do capitalismo, a burguesia tende a abandonar quaisquer regraséticas e a tornar-se cadavezmaisamoral. Sempreocupaçõesmorais, legitima elaprópriatudoquantolhe permite manter e intensificar a exploração dos trabalhadores e dos povos.
No querespeita ao proletariado, as condições básicas quelhe conferem a suaforçarevolucionária, determinam também os traçosessenciais da suaética.
A suasituaçãocomoclassemais explorada, o seupapel na grandeprodução, a força do número, o facto de que os seusinteresses e fins coincidem com as leis objectivas de desenvolvimentosocial, o facto de que, na revolução, os proletários (nas palavras do Manifesto) nada têm a perdersenão as suascadeias e têm ummundo a ganhar – dão ao proletariado a combatividade, a determinação, o espírito de organização, a coesão, a solidariedade, o hábito da ajudarecíproca, a disciplina, a abnegação, a capacidade de sacrifício, a confiança nas próprias forças e no própriofuturo, que o tornam «a únicaclasse verdadeiramente revolucionária», «a únicacapaz de serrevolucionáriaaté ao fim».
Os princípiosmorais do proletariadonão «dissolvem o indivíduo nas massas», como pretendem alguns, antes elevam a consciência e a personalidadeindividuais, transmitindo-lhes a forçamoral da classe. A partir das próprias raízes sociais, a formaçãomoral do proletariado aparece como a valorização e o melhoramento do homem.
O papel do proletariadocomo «guia de todas as massas laboriosas e exploradas» é de particularimportânciapara a educação e reforçomoraltanto do próprioproletariadocomo das massas. O proletariado reage e lutanãoapenascontra a exploração a que é sujeito, mas «contratodos os abusos, todas as manifestações de arbitrariedade, de opressão e de violênciaquaisquer que sejam as classesquesãovítimas. «O proletariadonão é uma classerealmenterevolucionária (insistiu Lenine) senãoquando se afirma e comportacomovanguarda de todos os trabalhadores e de todos os explorados, como o seuguia na lutapelo derrubamento dos exploradores».
O papel de guia e defensor de todos os explorados reforça nas fileiras do proletariado e da suavanguarda os sentimentosmoraistípicos de generosidade, de solidariedade, de abnegaçãototal. Nas classes e camadasnão proletárias (particularmente no campesinato e pequenaburguesiaurbana), a influênciaproletária intervém como corrector dos efeitos na consciência das raízes de classe.
Incompreensõespolíticasacerca do papel do proletariado têm inevitáveisreflexos na esferamoral. Se não se atribui o papeldirigente ao proletariado, abrem-se directa e largamente as portas à influênciamoral da burguesia. Se se cai no sectarismo e se procurainocular no proletariado a indiferençapelosinteresses de outras classes e camadas exploradas e oprimidas, corrompem-se princípiosmoraisbasilares.
O desenvolvimento da moralproletária e comunistacaminha a par e passocom o avanço da luta de classes, com o progresso da consciênciapolítica do proletariado, com a definição dos seus objectivos, com o aperfeiçoamento da suaorganização e com os êxitos e vitórias da sualuta emancipadora. Podem considerar-se quatrofases nesse desenvolvimento.
A primeira é anterior à criação do socialismocientífico. Então a formação da moralproletária, como Marx e Engels sublinharam, eraespontânea e instintiva. Decorria directamente das condições de vida e de trabalho e da oposição à moral burguesa. A moral do proletariado, dominado pelaburguesia exploradora, é entãoessencialmente uma expressão da «suaindignaçãocontra essa dominação» e dos «interessesfuturos dos oprimidos».
A segundafasecomeçacom a fundação do socialismocientífico, com a definição dos objectivos de luta e da missãohistórica do proletariado. O marxismonãocria a moral da classe. Mas explica-a, formula-a, sistematiza-a, desenvolve-a, expurga-a de elementosestranhos, liga-a à luta quotidiana e dá-lhe uma perspectiva, tendo emconta as transformações revolucionárias, que o proletariado, guiado pelomarxismo-leninismo, é chamado a efectivar.
A terceirafasecomeçacom a criação do partido do proletariado de novotipo, com a formação da vanguardarevolucionária leninista. O partido de novotipo formou o revolucionário de novotipo, cujostraçosmoraisfundamentais consubstanciam as características típicas superiores do proletariado e exercem porsuavezprofundainfluência na classe e nas massas.
A quartafase é inaugurada pelarevoluçãosocialista de Outubro, pelaconquista do poderpeloproletariado. De classe exploradora e oprimida, o proletariadopassa a serclassegovernante. A instituição da propriedadesocial dos meios de produção, a composição da sociedadeemclasses amigas cominteressescomuns, a democraciasocialista, a igualdade das nações, dos cidadãos de todas as raças, do homem e da mulher, constituem uma base objectiva nova e radicalmentediversa. Com a conquista do poderpeloproletariado, inscreve-se na ordem do dia a criação do homemnovo – o construtor da novasociedade.
Os comunistassão os melhores representantes da ética da classe, de que constituem a vanguardarevolucionária. A moralcomunista corresponde inteiramente aos interesses, às aspirações e aos objectivos do proletariado. Instrumento de acção revolucionária, ela serve a lutaparapôrfim ao capitalismo e à exploração do homempelohomem, paraconstruir o socialismo e o comunismo.
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Os ideaispolíticos, a práticarevolucionária, a acção do partido, intervêm comopoderosos factores do desenvolvimento e enriquecimento da moralproletária e comunista.
Os ideaispolíticos influem nas representações e atitudes psicológicas e transplantam-se para os conceitosmorais e destes para as atitudes e hábitos de procedimento.
Da própriaconsciência dos objectivos e da missãohistórica do proletariado decorre uma novaconcepção da vida e do homem, que se exprime numa novaética. A intransigênciaparacom a exploração e os exploradores, paracom a opressão e os opressores, paraqualquerforma de parasitismo, a indignaçãoperante as injustiças, o reconhecimentonosoutrossereshumanos, independentemente da suanacionalidade, raçaousexo, de direitosiguais aos próprios, convertem-se emconceitosmorais, necessariamente associados aos objectivos políticos.
A Revolução de Outubro (maistarde as outras revoluçõessocialistas vitoriosas), tornando realidade os objectivos de combate dos trabalhadores, deu potenteimpulsonãosó à organização e acção revolucionárias como à elevação da consciência e da formaçãomorais do proletariado de todos os países e das suasvanguardas.
Emcadapaís existem condições específicas de que têm resultado e resultarão traçosparticulares e originais do processorevolucionário e da novasociedade. Mas, nostraçosessenciais, o socialismotalcomo existe na UniãoSoviética e noutros paísessocialistas é o ideal de luta de todos os explorados e oprimidos, é a prefiguração do euprópriofuturo. Não se tratajá de uma previsãoteórica, como foi antes de 1917. Trata-se de uma aquisiçãohistórica, da maiorrealização e da maiorconquista do proletariadointernacional, comumpoder de atracção e de convencimentomilvezessuperior ao da maisbela das utopias. Ondequerque se oponha o socialismoporque se luta ao socialismotalcomo existe enfraquece-se e compromete-se a força ideológica, política e moral do proletariado e da suavanguardarevolucionária. Emcadapaís, a moralproletária e comunista é extraordinariamente reforçada pelo facto de que se lutaporumregimesocialque é já uma realidadeemnumerosospaíses; e tambémpelo facto de que os trabalhadores consideram a URSS e outrospaísessocialistascomo a suamaiorfortaleza, a que se sentem indissoluvelmente ligados pelasolidariedaderecíproca, peloslaços do internacionalismoproletário.
O internacionalismoproletário, parte constitutiva do marxismo-leninismo, é, na suaprópriaessência, uma concepção do mundo, uma política e uma ética.
A identidade dos interesses e aspirações dos trabalhadores de todos os países; a suaunidade, solidariedade e ajudarecíproca; as relações de fraternalamizade e a cooperaçãoentre os paísessocialistas e entre os partidoscomunistas lutando nas mais variadas condições; o reconhecimento da igualdade das nações e dos povos e a suaaproximação fundada na identidade de interesses dos trabalhadores; a subordinação do interesseparticularimediato ao interessegeral – todosessesaspectos do internacionalismoproletário inspiram a política dos partidos, a luta dos trabalhadores, a formaçãomoral e o comportamento dos homens.
Ao passoque o nacionalismoburguês, o chauvinismo, a estreiteza nacional, as tendênciaspara o isolamento e para uma espécie de autarquiapolítica e ideológica, se repercutem, no planomoral, emconceitos e sentimentos de egoísmo, de superioridadenacional e racial, de menosprezopelosinteressesgerais – o internacionalismoproletário é fonte criadora de conceitos, sentimentos e atitudes de generosidade de colectivismo, de fraternidadeentre os trabalhadores e os comunistas de todos os países e entre todas as raças e nações, de prontidãopara o sacrifíciopelosinteressesgerais.
Se os ideais e objectivos políticos constituem, jáporsi, um factor do desenvolvimento da moral do proletariado, a práticarevolucionária representa nesse desenvolvimentoumdecisivopapel.
A práticarevolucionária é a melhorescola do comportamento e do carácter. Tomando formas diversas segundo o país, segundo a etapa da revolução e as condições existentes emcadacaso, é sempre uma lutaséria, continuada, tenaz, voltada para objectivos precisos. O espíritocombativo, a paixão da luta – o «nãopoderficar tranquilo e lançar-se ao combatesemdescanso» --, a unidade, a camaradagem, a solidariedade, a abnegação, a rejeição do conformismo e do servilismo, a capacidadeparaaprendernãosócom os sucessosmastambémcom os insucessos, o saudável optimismo baseado no conhecimento das leis da evoluçãosocial, a inabalávelconfiança no futuro, mesmo nas circunstânciasmais difíceis, mesmoemhoras amargas de derrota – sãotraçostípicos do comportamento dos comunistas de todos os países.
O desenvolvimento do processorevolucionário mundial foi e é possívelporque, à frente da classeoperária e das massas, os comunistas souberam e sabem darprovastanto de clarividênciapolíticacomo de forçamoral. Cadarevoluçãosocialista, a começarpela de Outubro, tem atrás de si uma lutadura e complexa, quenãopoderia ter-se desenvolvidovitoriosamentesemenormessacrifícios da vanguarda. O longocaminho da revoluçãoproletária está marcado pela devotada actividade de milhões de comunistas, quetudo entregaram de sipróprios à grandecausacomum. Aquelesque deram a vidanoscombates de classe, na revolução, na lutaarmada, nas guerrasjustas, assassinados ou torturados até à mortepeloinimigo, nas prisões e campos de concentração, testemunham gloriosamente a superioridademoral dos combatentes da vanguarda do proletariado, inspirados pelomarxismo-leninismo.
Aindahoje há dezenas de países (Haiti, Guatemala, Paraguai, Brasil, Portugal, Espanha, Grécia, Sudão, África do Sul, Indonésia, Irão, agora o Chile e tantosoutros), ondesercomunista significa ser perseguido, preso, torturado, condenado a elevadas penas, emmuitoscasos executado ou assassinado. Paraviver e lutarlongosanos na clandestinidade, sofrendo privações de toda a espécie e defrontando o perigohora a hora, é indispensável uma robustaformaçãomoral. Emtaiscondições atingem elevadonível a fraternidade e a solidariedade recíprocas dos militantes. Quando, sendo preso, o militante suporta as torturasmaisbestiais, demonstra que, se a resistênciafísica tem umlimiteque é a mote, a resistênciamoral do comunista, essa nada pode vencê-la.
O marxismo-leninismo atribui umdecisivopapel à vanguardarevolucionária. Combate ao mesmotempo as concepções pequeno-burguesas acerca dos «heróislibertadores». Para os comunistas, as massassão as obreiras da história e a classeoperária a coveira do capitalismo. A tarefa da vanguarda é elevar a consciência e a combatividade da classe e das massas, conduzi-las à luta e à vitória. A capacidade da vanguardaparacumprir essa tarefa revela-se particularmente nas situações de fluxo e revolucionário e de criserevolucionária, quando a éticaproletária e comunistaganha amplas massas, que se elevam porvezes, emmuitosaspectos, ao nível da moral da vanguarda.
Lenine sublinhava que «paraque uma revolução tenha lugar é necessário (…) conseguirque a maioria dos operários (ou, pelomenos, a maioria dos operáriosconscientes, reflectidos, politicamente activos) tenha compreendido a necessidade da revolução e esteja pronta a morrerporela».
Os factores políticosnecessários à revoluçãosãoassim acompanhados de umimportante factor moral: o alargamento, paraalém da vanguarda, da determinação de dar a própriavida. A generalização a amplas massas de característicasmorais dos combatentes da vanguarda, a transformação do heroísmo num fenómeno de massas, constituem um dos critérios das verdadeiras revoluções. A experiência de cadarevoluçãosocialista o demonstrou. E o mesmo se pode dizer de revoluções e de grandeslutas dos povospelalibertação do jugo imperial.
Foi assim na Revolução de Outubro, na luta do primeiroEstado de operários e camponeses contra a intervenção, na grandeguerravitoriosa da URSS contra o invasor hitleriano. Foi assim na guerra de Espanha. Foi assim na luta dos guerrilheiros jugoslavos, búlgaros, polacos, albaneses, franceses, italianos, belgas e outros no decurso da segundaguerra mundial. Foi assim na luta dos povos do Orientecontra o militarismojaponês. Foi assim nas revoluções chinesa e cubana. Foi assim na lutacontra a agressão imperialista do povo do Vietname, dos outrospovos da Indochina, do povo coreano. Foi assim na Argélia e emmuitosoutrospaísesque conquistaram pelaluta a independêncianacional. Assim está sendo com os povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique emlutacontra a opressão colonialista.
A práticarevolucionárianão termina, como pretendem certos ideólogos pequeno-burgueses, depois da conquista do poder. A construção do socialismo e do comunismooutracoisanão é quepráticarevolucionária, colocando à vanguardatarefasnãomenos complexas que as anteriores.
Paraorganizar e conduzir as massas trabalhadoras ao derrubamento do poder da burguesia, o proletariado revela o seu «supremoheroísmo». Mas a tarefa de conduzir as massas à novaconstrução económica era, no dizer de Lenine, «maisdifícilque a primeira, porquenão pode ser cumprida porsimples actos de heróicofervor; exige ummais prolongado, persistente e difícilheroísmo de massas, no trabalhoprosaico de todos os dias».
A construção do socialismo e do comunismo é a tarefacomplexaque alguma vez foi realizada. É o maiorempreendimentorevolucionário e a maior epopeia humana de todos os tempos. Na novasociedade é cadavezmaisimportante a educação das massas na éticaproletária e comunista, cujoconteúdo se enriquece com o desenvolvimentosocial. Aumenta o papel e alarga-se o campo de acção dos princípiosmorais. É característicoque o PCUS tenha inscrito no seuprograma o «códigomoral do construtor do comunismo» indicando, entreoutros, comoprincípiobasilares, a dedicação à causacomunista, o amor à pátriasocialista e aos paísessocialistas, a novaatitudeparacomtrabalho, o colectivismo, a assistênciamútua e a camaradagem, as relações humanas de mútuorespeito, amizade e fraternidade, a rejeição do ódionacional e racial, a solidariedadeparacom os trabalhadores dos outrospaíses e paracomtodos os outrospovos. À frente dos Estadossocialistas, os outrospartidosirmãos dão tambémgranderelevo aos princípiosmorais.
A práticarevolucionária, antes e depois da conquista do poder, tem assim profundas repercussões na esferamoral. A ummundomelhorporque os proletáriosoprimidos lutam e que os proletários emancipados constroem corresponde umhomemmelhor, homemque se tornairmão do homem e quetrabalha e lutapelobemcomum.
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O Partido, vanguardapolíticarevolucionária do proletariado, é também a suavanguardamoral. O Partido educa os seusmembrosnosprincípios da moraproletária e comunista e exerce decisivopapel na elevação da consciênciamoral da classeoperária e de todos os explorados e oprimidos.
Essa acção educativa é realizada através da orientaçãopolítica, das palavras de ordem e da acção quotidiana do Partido.
Uma linhapolíticajusta é factor de educação e de forçamoral. Influência inversa tem o oportunismo. No oportunismo de direita, o culto do imediato e do «possível», a renúncia a objectivos essenciais, concessões de princípio, tendem a diminuir a combatividade e a prontidãopara o sacrifício e abrem caminho à influência burguesa na mentalidade e no comportamento. O oportunismo de «esquerda», designadamente o sectarismo, conduz ao desprezo efectivo pelas massas, ao individualismo, ao afrouxamento da solidariedade.
Os princípiosorgânicos do Partido têm também profundas incidênciasmorais.
A observância dos princípios leninistas nãosó é essencialparagarantir a unidade de pensamento e de acção do Partido e possibilitar uma orientação acertada e a rectificação de erroseventuaiscomodesempenhaumpapelprimacial na educaçãomoral dos militantes. A submissão da minoria à maioria e dos organismosinferiores aos superiores, a disciplina, a crítica e a autocrítica, os métodos de trabalho colectivo, imprimem traçosespecíficos ao carácter e ao comportamento dos membros do Partido: camaradagem, modéstia, lealdade, confiançarecíproca, respeitopelaopinião dos outros e franqueza na defesa das próprias opiniões. Inversamente, o revisionismo e os desvios dos princípios leninistas de organização exercem uma influência desmoralizadora. Se, no Partido, se instala umclimaemque se não respeitam os princípiosdemocráticos, emque a voz dos militantes é abafada, emque a crítica «de baixoparacima» dá lugar a represálias, emque os métodosadministrativos de direcção se tornam regra, desenvolvem-se o abuso da autoridade, a irresponsabilidade, a auto-suficiência, o menorrespeitopelaverdade, a falta de coragemmoral, o burocratismo, o carreirismo e o servilismo. Se se adoptam concepções anarquizantes (pluralidade ideológica, criticismo emvez de crítica, desrespeito pelas decisões dos organismossuperiores, oficialização do fraccionismo) desenvolve-se o individualismo, quebra-se o espírito de unidade e do colectivo e, da mesmaforma, a irresponsabilidade e a auto-suficiência encontram favorávelcaldo de cultura. As deformaçõesmoraisresultantes de taisdesvios pagam-se semprecaro, além do maisporque tendem a tornar-se «umestilo», que cristaliza emnumerososmilitantes e cuja rectificação é extremamentecomplexa e demorada.
O âmbito do trabalhoeducativo do Partido é muitovasto, abrangendo praticamente todos os aspectos da conduta. Mesmoqueummembro do Partido seja esforçado e cumpra as tarefas do dia a dia, seria errado considerar de importância «secundária» o seucomportamentomoral no local de trabalho, na família, na vidapessoal. A condutamoral dos comunistasnão é umproblemaprivado, que diga apenasrespeito a cadaqual. Essa conduta tem repercussões na actividade e no prestígio do Partido. Pertencetambémemcertamedida ao Partido.
A força do exemplo, peloseuextraordináriopoder de convencimento e de atracção junto das massas, é um dos grandestrunfos da acção dos comunistas.
O militantesério e modesto que, nas mais diversas condições, defende infatigavelmente os interesses dos trabalhadores, o clandestinoque suporta semabrirboca cruéis torturas, o comunistasoldadoouguerrilheiroque dá a vidaemdefesa dos seupovo, o herói do trabalhosocialista, iluminam com os seusexemplos o caminho da luta, alargam e reforçam o prestígio e influência do Partido, atraem às suas fileiras muitosnovoscombatentes.
Falando dos primeirosanosdepois da vitória de Outubro, Lenine salientava que o exemplodadopeloscomunistas, a devoção aos interesses do povo, a energia na lutacontra os inimigos, a firmezanosmomentos difíceis, a abnegada coragem, tiveram tal impacte nas massasque «o poder de simpatia dos operários e camponeses pelasuavanguarda provou porsiprópriosercapazde realizarmilagres».
Na história do movimentooperário de todos os países se verificam, numa ou noutra escala, numa ou noutra época, tais «milagres» provocados peloexemplo dos comunistas.
As massasnãosó aferem, pelasuaexperiência, a justeza da orientaçãopolítica e das palavras de ordem do Partidocomo estão particularmente atentas e sãoparticularmentesensíveis ao exemplomoraldadopelosseusmembros. Exemplo de dedicação. Exemplo de combatividade e de firmeza. E tambémexemplo de comportamentopessoal num sentidomaislargo: exemplo de dignidade e da intransigênciaparacom as concepções da moral burguesa e as práticas dela decorrentes. Se a vanguarda ajuíza das influências da moral burguesa sobre as massas, as massas julgam porsuavez o comportamentomoral da vanguarda. Os comunistas têm de agir de forma a passarcomhonraumtal julgamento.
Seria utopiapretenderque os comunistas fossem seres «puros» e isentos de faltas. «O que distingue o marxismo do antigosocialismoutópico (escreve Lenine) é queeste queria construir a novasociedade, nãocom a massa de materialhumano engendrado pelocapitalismomercantil, espoliador, imundo, sangrento, mascomseresparticularmentevirtuosos educados emmoldesouemestufasespeciais.» A revoluçãonão se faz comseresideais. Faz-se comhomensque sofrem influênciasmoraisnegativas do capitalismo e dos variados e omnipresentes meios de acção espiritual deixados por milénios de sociedades divididas emclasses antagónicas, nas quais a moraldominanteera a moral das classesdominantes, isto é, das classes exploradoras. Esta situaçãoincontroversanãoleva à renúncia do trabalhoeducativo do Partido, antesaumenta a suaresponsabilidade.
O Partidochama a si os melhores, os maisconscientes, os mais dedicados ao bemcomum. Mastambém vêm ao Partido, quaisquer sejam as condiçõesemque actuam (no poder, legal, clandestino), homenscomfalhasmaisoumenosgraves na suaformação e na suaconduta. Utilizando a arma da crítica e da autocrítica, o Partidoajuda os seusmembros a superar debilidades e faltas e forja nas próprias fileiras lutadoresinfatigáveis, generosos, dedicados, pessoalmenteisentos, corajosos, leais despretensiosos e simples – homens e mulherescapazes de inspirar, peloseuexemplo, os «milagres» de qe falava Lenine.
A lutaentre o socialismo e o imperialismotambém se trava no terrenomoral. O imperialismo mobiliza imensosrecursosparatentarenfraquecer e corrompermoralmente o proletariado e elementos da vanguarda. Com uma histéricacampanha anti-soviética e de calúniascontraoutrospaísessocialistas, procuradesacreditar os ideais do comunismo, convencer os trabalhadores de que as revoluçõessocialistasnão trouxeram o queeles esperavam, de que o socialismotalcomo existe «nãolhes serve». Procuraassimsemear o desânimoacerca da possibilidade de libertação dos trabalhadores, quebrar neles o espírito de solidariedade, coesão, unidade e confiança na própriacausa.
Ao mesmotempo, tudo faz paracorromper e afastar do caminho da luta as massas trabalhadoras. Mantém uma «aristocraciaoperária», assimilada aos hábitos, costumes e gostos burgueses e pequeno-burgueses. Difunde, pelas formasmais subtis, a admiraçãopelodinheiro e o ideal da «sociedade de consumo». Torna a depravação sinónimo de «liberdadesexual», a pornografiacritério da «liberdade de criação», a violênciainútil e criminosa «ideal» de coragem. Utiliza intensamentetodos os meios de propaganda, todas as formas de criaçãoartística, paraincitar ao egoísmo e ao desregramento de costumes. Os «heróis» da literatura, do cinema, do teatro, sãoseresmarginais, bandidos, degenerados. O homem retratado na pintura e escultura é umser destorcido, retalhado e monstruoso. O imperialismoprocuragravar no espírito das massas uma visãopessimista e mesmo apocalíptica do mundo e arrastá-la na própriadecadência. Tudo faz paraquebrar e desagregar o espírito e o comportamento de classe dos trabalhadores, paraarrancarestes (e particularmente a juventude) nãosó à influênciapolítica das suasvanguardas revolucionárias como à influência da moralproletária e comunista.
Errado seria subestimar os efeitos desses poderososmeios de corrupção. Masmais errado seria concluirpela impossibilidade de, na sociedadecapitalista, contrariartal acção desmoralizante, ou (aindapior) condescendercom os cânonesmoraisouamorais da burguesia, sobpretexto de que a acção política é o essencial e amoralsecundária. As condições de trabalho e de vida do proletariadonospaísescapitalistas continuam sempre sendo factores de gestaçãoespontânea dos elementospositivos da moral de classe. E as vanguardas revolucionárias leninistas, conduzindo as massas à luta, travando a batalha ideológica, mostrando confiantes a perspectiva do futuro, apontado nas realizações da URSS e outrospaísessocialistas, estão emcondições de subtrair amplas massas à influência da burguesia e de educá-la noselevadosprincípios da moralproletária.
A lutaentre a moral burguesa e a moralproletária e comunistanão acaba com o triunfo da revolução. Nospaísessocialistas pesam, durantegerações, hábitos e tradiçõesmorais. A moral burguesa tem aindasuportes objectivos, emboraemvias de extinção. A suainfluência exerce-se tambémde fora, através dos diversosmeios de informação e contacto, que se tornam maisdensospelacooperaçãointernacional e o turismo. Tambémnospaísessocialistas se trava essa batalha. Masaí as condições objectivas e os factores subjectivos, o conteúdofundamental da vida de toda a populaçãoque é o trabalhocriador na construção da novasociedade, o trabalhoeducativo do Partido e do Estado, nãosó alargam às mais amplas massas os princípios da moralproletária e comunistacomo determinam o enriquecimento do seuconteúdo e a acentuação progressiva do seu carácter humanista.
O carácter humanista da moralproletáriaderivafundamentalmente de que os interesses e os objectivos do proletariado coincidem com os do futuro da humanidade no seuconjunto, de que cabe ao proletariado a missãohistórica de pôrfim à milenária divisão da humanidadeemclasses antagónicas, emexploradores e explorados, e de criar a sociedadesemclasses. Com o comunismo, a moral do proletariado, no seudesenvolvimento, conservando embora as suas raízes de origem, deixará de ser uma moral de classe, para se tornar a moral de todos os homensfraternalmente unidos por objectivos comuns, a «moral verdadeiramente humana», de que falava Engels.
O carácter humanista dos ideais do marxismo-leninismo, da moralproletária e comunista, revela-se e confirma-se na própriavida, na realização dos objectivos de luta do proletariado e da suavanguardarevolucionária, na realidade exaltante da sociedadesocialista e comunistaemconstrução.
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