quinta-feira, 26 de maio de 2011

O 5 de Junho está aí!


Em Maio de 2006 escrevi e publiquei esta crónica e, porque para alguns a memória é curta, creio ser oportuno relê-la e dela extrair as fáceis conclusões. O 5 de Junho aproxima-se.

* * *

AS MEDIDAS do GÉNIO

As medidas governamentais – de Sócrates – são tipicamente de centro-direita e direita e isso só lhe mostra o génio” Luís Delgado

O senhor Luís Delgado crê-se alguém de alto nível intelectual e democrata, acima de qualquer suspeita; incitou Bush a invadir o Iraque, mantendo-se solidário com as medidas “humanistas” que o exército Norte-Americano vem tomando, desde Guantamano aos inúmeros campos de concentração que tem espalhados pelo mundo. Não nos espanta que o senhor Delgado afirme que Sócrates é um génio.

A inesquecível senhora Dona Ferreira Leite (PPD/PSD) também não se cansa de elogiar as medidas e o génio: “Muitas das medidas são aquelas que nós defenderíamos e não posso deixar de estar de acordo com elas (…) porque são as essenciais” e para ser mais precisa, afirma que “todos temos que concordar, e temos tido a coragem política de o dizer, que o PS no Governo tem estado a tentar tomar medidas no sentido correcto do que o País precisa”.

Maria José Nogueira Pinto, número dois do CDS/PP afirmou que: «É preciso perceber que [a oposição] saiu muito esfrangalhada das legislativas e que apanhou com um primeiro-ministro que, depois de ter feito uma campanha muito medíocre, se revelou de repente um super pragmático e que vem dizer as coisas desagradáveis que antes não se tinha a coragem de dizer: Tudo isso complicou a vida da oposição». Com oposições destas bem pode prescindir da maioria absoluta!

O Financial Times, porta-voz do mais puro e duro neoliberalismo, publicou um destacável sobre Portugal em que elogia “as medidas duras” tomadas pelo Governo de José Sócrates e sublinha que as reformas do Primeiro-ministro “estão a colocar o País no bom caminho”.

O senhor Vital Moreira faz eco dos ilustres supracitados, não só afirmando que “o primeiro ano do mandato teve um saldo inequivocamente positivo”, como deixando claro que “o mix político adoptado pelo Governo dificilmente poderia ter sido mais bem sucedido.” O “mix” do senhor Moreira, talvez seja uma espécie de Obelix ou a Fenix governamental, um misto de Banda Desenhada (BD) e mitologia.

Ignorando as disparidades sociais que, cada vez mais, se aprofundam estas criaturas são incapazes de sentir a angústia que vai envolvendo a nossa sociedade.

Vivem para a competitividade, para os orçamentos, para as acções na bolsa e nos seus bolsos e ficam deslumbrados com as OPAs opacas que, segundo eles, são a maior e melhor prova do nosso desenvolvimento.

Entretanto, o Expresso interrogou o “Conselho dos Doze”, – conselheiros acima de toda a suspeita – sobre se o desemprego vai continuar a subir, expressando-se estes a uma só voz:

António Carrapatoso – o tal dos 740 mil euros – crê que o desemprego deve subir até aos 10% e, incisivo, acrescenta que se fizermos as reformas estruturais necessárias (flexibilidade laboral, reforma da Administração Pública e maior abertura de mercados) poderá existir ainda um agravamento adicional. Augusto Mateus diz que “o desemprego estrutural vai continuar a subir”. Ferreira de Oliveira, que “infelizmente sim”. Pinto Balsemão, mais que conselheiro, um conselheirão, “receia que sim, sobretudo se as medidas anunciadas relativas à Função Pública tiverem de ser mais profundas”. Henrique Neto também diz que sim; e mais grave nos trabalhadores com melhor formação. João Salgueiro, que sim, e já no futuro imediato. Medina Carreira, que é muito provável que continue a subir. Miguel Beleza: “infelizmente vai”. Mira Amaral – o tal da reforma especial – “o desemprego poderá continuar a subir”. Moreira da Silva “julga que sim e espera que seja o resultado de um aumento de produtividade (interessante…)” . Paulo Azevedo diz também “que é possível que continue a subir”. E, por fim, a Conselheira Teodora Cardoso dá uma no cravo e outra na amargura.

Conselheiros em consonância com as medidas, os medidores e o génio super pragmático.

Geniais!

* * *

As personagens e os partidos supracitados esbracejam ou assobiam para o lado como se não tivessem sido coniventes no crime.

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Viste o comentário do Miguel Tiago após o debate Jerónimo-Sócrates?

Abraço

Fernando Samuel disse...

Esta foi, nas altura - e é hoje - uma excelente crónica.

Um abraço.