Com a petulância natural a quem pouco sabe mas pretende fazer crer que é um poço de saber, as assumidas sumidades, dada a gravidade do momento, elevam os decibéis das suas vozes graves, indispensáveis para deixar gravadas quaisquer situações importantes e, com a ênfase semelhante à do Manuel Alegre quando declama, sentenciam:
“Vamos repensar o mundo!” Assim mesmo!
E o mundo, humildemente, pára de girar para que os senhores que pensam o mundo sentenciem o que deverá o mundo fazer.
Encontramo-los por aí aos magotes, às paletes, debruçados sobre os seus pesados pensamentos, vendo passar a realidade e com ela esgrimir ou jogar às escondidas.
Olham para o mundo, e quanto mais olham menos enxergam, porque enquanto o sol os ilumina mantém às escuras aqueles com quem não se misturam e como tal nunca os compreenderão.
É a intelectualidade bacoca à trela da classe que a sustenta. Gente sabida mas não sábia, que como qualquer alquimista que pretende transformar o estrume em ouro, procuram fazer dos seus desejos realidade.
E tanto num caso como no outro, conclui-se sempre que a merda será sempre merda.
* * *
NÃO SE DEVE…
Não se deve deixar os intelectuais brincar com os fósforos
Porque, meus senhores, quando o deixam sozinho
O mundo mental meus senhores
Não é nada brilhante
E mal se apanha sozinho
Age arbitrariamente
Erigindo a si próprio
Alegada e generosamente em honra dos trabalhadores da
construção civil
Um auto-monumento
Não é demais insistir, meus senhores
Quando o deixam sozinho
O mundo mental
Mente
Monumentalmente.
(tradução de Manuela Torres)
IL NE FAUT PAS…
il ne faut pas laisser les intellectuels jouer avec les allumettes
Parce que Messieurs quand on le laisse seul
Le monde mental Messssieurs
N’est pas du tout brillant
Et sitôt qu’il est seul
Travaille arbitrairement
S’érigeant pour soi-même
Et soi-disant généreusement en l’honneur des travailleurs du
bâtiment
Un auto-monument
Répétons-le Messssssieurs
Quand on le laisse seul
Le monde mental
Ment
Monumentalement.
4/1/1900 – 11/4/1977
Jaques Prévert
(Paroles – 1949)
2 comentários:
Mas o mundo gira sem que eles o saibem, o pensem, o entendam, mas o processo histórico avança sem o seu empurrão desastrado, atropelando os que se lhe põem à frente (e os que os acompanham)porque não tiveram tempo de correr à retaguarda para fingir que estão a orientar os que o fazem andar, as massas e as suas vanguardas que massas são.
Um abraço
Com a foça destas palavras o mundo não pode deixar de avançar contra todas as malfeitorias de que é vítima.
Um beijo.
Enviar um comentário