quinta-feira, 4 de abril de 2013

Os bonecos de Santo Aleixo

 

A artesã Joana Vasconcelos, que envergonharia a genial Rosa Ramalho, prepara uma nova série de Bonecos de Santo Aleixo inspirados no circo do Poder, e o entusiasmo é tanto, que a  Judite, o Mendinhos, a garina mal disfarçada e o Seara, candidato a Lisboa, apressam-se a fazer parte do elenco.
  A Manela em face destes artistas deu-lhe um fanico, prefere os matraquilhos, os da mocada, “toma, toma, toma” do O’Neill.

Não podemos faltar ao espectaculo, antes ou depois da queda do governo,
 tanto faz.

TOMA TOMA TOMA

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra,
contundentes, contundidos, esmocados,
com vozes de cana rachada e um toma toma toma
de quem não usa a moca para coçar os piolhos,
mas para rachar as cabeças.

O padreca, o diabo, a criadita,
o tarata, a velha alcoviteira, o galã
e, às vezes, um verdadeiro rato branco trapezista,
tramavam para nós a estafada estória
da nossa própria vida.

Mundo de pasta e de trapo
que armava barraca em qualquer canto
e sem contemplações pela moral de classe
nem as subtilezas de quem fica ileso
desancava os maus e beijocava os bons.

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra.

Ainda hoje esbracejo e me esganiço como esses
matraquilhos da comédia humana.

Alexandre O’Neill


2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Gosto muito do poema do Alexandre O'Neil.E dos bonequinhos de cachaporra. Já da Joana Vascocelos e seus modelos não posso dizer o mesmo.

Um beijo.

Olinda disse...

Uma cachaporrada ê o que os figuroes precisam!