O que o inspirou?
“A fauna hipernutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório. Descarreguei
a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas “Numa viagem que fiz a
Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o
bonitinho (…). Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos,
pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos
talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade
poderia repercutir-se no espírito narcotizado
do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a
intenção que orientou a
génese de Vampiros”. De uma entrevista a José
Afonso.
50 anos passados “a fauna
hipernutrida” continua a “chupar o sangue da manada”.
Vampiros
José Afonso
No céu cinzento sob o astro mudoBatendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]
A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas
São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
2 comentários:
Se não me falha a memória ouvi pela primeira vez esta canção em Julho de 73 e foi numa festa de final de ano dum seminário diocesano. O facto diz alguma coisa.
Um abraço ex-seminarista
E pelos vistos continuará!!!
Um beijo.
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