terça-feira, 7 de janeiro de 2014

OS CLEPTOCRATAS




Toda a glória de viver
das gentes é ter dinheiro
e quem muito quiser ter
cumpre-lhe de ser primeiro
o mais ruim que puder.
(Gil Vicente)


Os cleptocratas não sujam as patas, são ratoneiros matreiros, descendentes directos do embuste e da perfídia. Têm, como modernamente se denomina, uma actuação "abrangente"; apresentam-se como pessoas sensatas, impolutas e pacatas.

Movimentam-se na "Bolsa" dos outros, claro, com apetência para as boas "Acções", as más relegam-nas para parceiros terceiros.

Frequentam a alta sociedade – conceitos virados do avesso - expelem promessas que rendem juros deixando os promissário em apuros.

Têm ao seu serviço operacionais profissionais, não actuam directamente, comandam do escritório "inteligente" que lhes reforça a astúcia impenitente.

Os cleptocratas são a nata do autocrata, não vivem em autogestão, têm como Deus e patrão o cifrão.

Seguem sabiamente o rasto do dinheiro com o olfacto apurado de um perdigueiro e seguram-no como o melhor dos cães de fila.

Com esta cáfila não se refila.

Mais difíceis de eliminar que à nojenta barata, possuem sensores de grande acuidade, o que lhes permite identificarem o Decreto, a Lei ou o Regulamento que sirva os seus desígnios.

"Não deixe um negócio tão sólido fugir-lhe das mãos, um dos mais atractivos mercados cimenteiros da Europa, cujos resultados líquidos serão de 14 milhões de contos em 94 e de 15 milhões em 95, vendida abaixo da média dos mercados: a CIMPOR". (Desculpem mas este paragrafo é de um velho artigo relacionado com outros ladrões).

Os cleptocratas agem dentro da legalidade democrática construída à sua medida. Manobram com  os baixos salários e cortes de pensões, sugam onde faltam cêntimos para engrossar milhões.

Movimentam-se na área neoliberal, não assaltam bancos nem actuam por "esticão", teleguiados sempre pelo cifrão, compra consciências de ocasião. Conhecem o preço de uma ilusão e explora o filão!

Açambarcam o trigo, controlam o pão.

Não os conhecemos pessoalmente nem tampouco com eles nos cruzamos, têm seguranças, deslocam-se em bólides ou em aviões privados, e como bons cleptocratas que se prezam vão à missa, rezam, confessam-se, compram as indulgências no paraíso em que vivem sem receio de mais tarde entrar no purgatório.

10 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Variações sobre o texto de Gil Vicente.

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

Variações sobre o texto de Gil Vicente.

Um abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Tudo bom... mas essa de serem "a nata do autocrata" é do melhor!

Abraço

José Auzendo disse...

"Tudo bom", digo eu também. Menos a foto...Não sei se de propósito, se por falta de ... não sei de o quê, espaço, memória, escrúpulos, faltam-lhe muitos "cleptocratas", ao lado e atrás, antes, dos (bem) fotografados: basta pensar em submarinos, freeports e o que mais se sabe...

8 de Janeiro de 2014 às 08:12
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José Auzendo disse...

"Tudo bom", digo eu também. Menos a foto...Não sei se de propósito, se por falta de ... não sei o quê, espaço, memória, escrúpulos, faltam-lhe muitos "cleptocratas", ao lado e atrás, antes no tempo, dos (bem) fotografados: basta pensar em submarinos, freeports e o que mais se sabe...

8 de Janeiro de 2014 às 08:12
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Olinda disse...


A foto representa bem uma amostra de membros dum gang do crime organizado.Ê certo,que sao muitos mais,mas estes sao bem representativos da classe a que pertencem.O texto diz tudo.Gostei.

Um abraco

José Auzendo disse...

Olhe que não sei se o texto diz tudo. Se senti "necessidade" de comentar foi até porque me pareceu que o texto podia estar (sem querer?) a excluir muitos ...

É que nem todos os cleptocratas "manobram com os salários baixos e cortes de pensões" - bem pelo contrário, olá se não foi - nem se movimentam "na área neoliberal".

Isto sem querer entrar em discussões ... semânticas.

cid simoes disse...

Caro José Auzendo, obrigado pela visita mas eu felizmente nunca tive a presunção de "dizer tudo" e se neste post incluisse todos os crápulas os armazens do google pifavam.

inesbexiga disse...


Caro Cid Simões, desta vez - há sempre uma primeira vez para tudo - enganou-se no destinatário. É que não foi o "caro José Auzendo" quem disse que o seu texto "dizia tudo".

Deixe-me, entretanto, recordar-lhe uma máxima tão septuagenária quanto eu: se as palavras são armas, uma imagem diz mais que mil palavras.

Já agora, obrigado por aquele seu obrigado. Mas não havia necessidade, não acha?

cid simoes disse...

Quando com cordialidade me visitam agradeço sempre.