quarta-feira, 5 de novembro de 2014

«Sombra sinistra a noite nos ministra»

Sombra sinistra a noite nos ministra

gralhas pegas e corvos denunciam crimes

e o medo na medula longilíneo ondula

Ruy Belo 

2014-11-05 às 11:13
Bem vindo ao site do Governo Português! ...
«PORTUGAL ESTÁ A CONSEGUIR CRIAR EMPREGO»
«Portugal está a conseguir criar emprego, apesar do crescimento económico ser hoje relativamente diminuto», afirmou o
Ministro da Solidariedade,

(DESEMPREGO)AQUI
Como podemos constatar, não há despedimentos mas tão-somente “dispensas” e “perdas”. Despedir é vocábulo agressivo que nos trás à memória pôr na rua alguém que nos deixou de interessar tal como qualquer traste velho que nos incomoda.

A propósito de outros trastes, fixo a imagem do Ministro da Solidariedade que, numa postura de classe, beija a espada que nos fere. Não é qualquer traste que chega a ministro, é obrigatório que se sujeite a vários rituais sejam da Maçonaria, da Opus Dei, do Bilderberg ou quaisquer outras seitas onde se planeiam crimes.

Porque isto de tirar o “pão” a uma ou mil pessoas, o cutelo fica na mesma ensanguentado. O massacre, vindo de quem vem, perdoem-me a heresia, assusta o Diabo.

Pela manhã: blá-blá-blá (...) dar de comer a quem tem fome et cetera e tal; à tarde rouba-se-lhes pão, frango de aviário, a camisa e as calças. Sem quaisquer escrúpulos, nem um milésimo de pudor!...


Para gente temente a Deus, deverá ser difícil tomar decisões contrárias ao seu credo, mas Ele vai-lhes perdoar, vedando-lhes, simplesmente, a entrada no seu Reino. Até lá, um salvo-conduto poderá ser comprado e, entretanto, o reino terreno está garantido.


No pedestal das suas competências, os mandantes perdem a capacidade de se emocionar com o assassinato de sonhos alheios. O poema deve ser escrito com palavras cruas, firmes e, sobretudo, sem consonâncias já por demais repisadas: neoliberalismo pode e deve rimar com fome; Bruxelas com tachos e não com panelas; é tudo uma questão de imaginação, de modernidade, de insensibilidade ou maldade.

É forçoso cumprir com as diretrizes comunitárias para voltarmos ao pelotão da frente (onde é que eu já ouvi isto?), com os pneus furados e o guiador voltado do avesso.

E o Zé lá vai pedalando e escrevendo poemas de resistência. E sonha, sonha como poderia ser feliz! Bastava que o pão, como objeto e símbolo, fosse equitativamente distribuído. Tão simples!

E enquanto o buldózer avança, esmagando sonhos, refugio-me entre os poetas, alinhados na estante que lhes reservo. Folheio J. G. Ferreira: «Pobres, gritai comigo: (...) – E vivam os nossos Pulsos / que, num repelão, / hão-de rasgar o nevoeiro!»; Jacques Prévert faz-me sorrir e pensar: «Pai-nosso que estais nos céus / deixa-Te lá estar / e nós...». E Torga, Sophia, Gedeão e Cesário Verde: «Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito», e tantos, tantos outros que me incomodo de só estes citar.

E num desvario de idealismo pateta, imaginei enviar todos os dias poemas a alguns tiranetes, na vã esperança de os humanizar; felizmente que recordei a tempo Andreï Voznessenski. «Os tiranos não compreendem os poetas, e quando os compreendem matam-nos».

2 comentários:

Olinda disse...

"O pao dos pobres ê a sua vida.Quem lho tira ê um assassino"(Eclesiâstico,30).Pena a Bîblia sô ser seguida conforme a conveniencia dos poderosos.O neoliberalismo mata impunemente ä fome ,em nome dos mercados,mas ê um crime cometido como se fosse a coisa mais natural.

Abraco

Graciete Rietsch disse...

Que saudades destes"meus" blogs!!!!!Ainda me sinto deprimida e debilitada, mas não vou deixar-me apanhar pela depressão.
Um grande abraço.