Sombra sinistra
a noite nos
ministra
gralhas pegas
e corvos denunciam crimes
e o medo na medula longilíneo ondula
Ruy Belo
2014-11-05 às 11:13
Bem
vindo ao site
do Governo Português! ...
«PORTUGAL
ESTÁ A CONSEGUIR CRIAR EMPREGO»
«Portugal está a conseguir criar emprego, apesar do crescimento
económico ser hoje
relativamente diminuto»,
afirmou o
Como podemos constatar,
não há despedimentos mas tão-somente “dispensas”
e “perdas”. Despedir
é vocábulo agressivo
que nos
trás à memória
pôr na rua alguém que nos deixou de interessar tal como qualquer traste
velho que
nos incomoda.
A propósito de outros trastes,
fixo a imagem
do Ministro da Solidariedade
que, numa postura
de classe, beija
a espada que
nos fere. Não
é qualquer traste
que chega
a ministro, é obrigatório
que se sujeite a vários
rituais sejam da Maçonaria,
da Opus Dei, do Bilderberg ou quaisquer outras seitas
onde se planeiam crimes.
Porque isto
de tirar o “pão” a uma ou mil pessoas, o cutelo
fica na mesma ensanguentado. O massacre, vindo de quem
vem, perdoem-me a heresia, assusta o Diabo.
Pela manhã:
blá-blá-blá (...) dar de comer
a quem tem fome
et cetera e tal; à tarde rouba-se-lhes pão, frango de aviário,
a camisa e as calças.
Sem quaisquer escrúpulos,
nem um
milésimo de pudor!...
Para gente
temente a Deus,
deverá ser difícil
tomar decisões
contrárias ao seu credo,
mas Ele
vai-lhes perdoar, vedando-lhes, simplesmente,
a entrada no seu
Reino. Até
lá, um
salvo-conduto poderá ser
comprado e, entretanto, o reino terreno
está garantido.
No pedestal das suas competências,
os mandantes perdem a capacidade de se emocionar com o assassinato
de sonhos alheios.
O poema deve ser
escrito com
palavras cruas, firmes
e, sobretudo, sem
consonâncias já
por demais
repisadas: neoliberalismo pode e deve rimar com fome; Bruxelas com
tachos e não
com panelas;
é tudo uma questão
de imaginação, de modernidade, de insensibilidade ou
maldade.
É forçoso cumprir com as diretrizes comunitárias para
voltarmos ao pelotão da frente (onde é que eu já ouvi isto?),
com os pneus
furados e o guiador voltado do avesso.
E o Zé lá vai pedalando e escrevendo poemas
de resistência. E sonha,
sonha como
poderia ser feliz! Bastava que o pão, como objeto e símbolo,
fosse equitativamente distribuído. Tão simples!
E enquanto o
buldózer avança, esmagando sonhos, refugio-me entre
os poetas, alinhados
na estante que
lhes reservo. Folheio
J. G. Ferreira: «Pobres, gritai comigo:
(...) – E vivam os nossos Pulsos / que,
num repelão, / hão-de rasgar o nevoeiro!»;
Jacques Prévert faz-me sorrir e pensar:
«Pai-nosso que
estais nos céus
/ deixa-Te lá estar
/ e nós...». E Torga, Sophia,
Gedeão e Cesário Verde: «Ele ia numa maca, em ânsias,
contrafeito»,
e tantos, tantos
outros que
me incomodo de só
estes citar.
E num desvario
de idealismo pateta,
imaginei enviar todos
os dias poemas
a alguns tiranetes, na vã esperança de os humanizar; felizmente que
recordei a tempo Andreï Voznessenski. «Os
tiranos não
compreendem os poetas, e quando os compreendem matam-nos».
2 comentários:
"O pao dos pobres ê a sua vida.Quem lho tira ê um assassino"(Eclesiâstico,30).Pena a Bîblia sô ser seguida conforme a conveniencia dos poderosos.O neoliberalismo mata impunemente ä fome ,em nome dos mercados,mas ê um crime cometido como se fosse a coisa mais natural.
Abraco
Que saudades destes"meus" blogs!!!!!Ainda me sinto deprimida e debilitada, mas não vou deixar-me apanhar pela depressão.
Um grande abraço.
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