«Eu vou
participar na Marcha de dia 6 de Junho. Vou participar pela liberdade e pela
dignidade de todos. Vou participar porque desejo que as nossas vidas tenham um
futuro que brilhe nos olhos de cada um».
“E agora?”
«Todos os sonhos estavam a ser desembrulhados naquele dia 11 de Abril de 1979.Pisava o palco, como actriz profissional, pela primeira vez. Podia dar alguma coisa aos outros. Podia fazer alguém sonhar, pensar, sentir. Era uma menina num mundo de gente grande. Pelo menos, era assim que me sentia. Queria crescer. Ainda quero.
As preocupações com a manutenção da vida diária não entravam na equação. Tinha um salário, direitos sociais (como qualquer outro trabalhador). Pude sonhar com a maternidade e ser mãe (com baixa de parto e tudo!), podia descansar um mês por ano (eram férias, sim. Férias pagas!). E fazia Teatro! E aprendia!
Um dia, chegaram os recibos verdes e passámos a ser trabalhadores “independentes”. Fomos perdendo todos os direitos que tínhamos conquistado. A Arte foi ficando arredada das escolas. O apoio às Artes foi escasseando e a política cultural transformou-se num enorme deserto. E, apressando o passo, chegou a “crise”.
Ora pois. A “crise” instalou-se. E vai continuar, é melhor não nos iludirmos. E a Arte? E os Artistas? Qual é o nosso papel, em plena “crise”? Continuarmos no nosso “cantinho”? Fazermos “o que se pode”, tendo em conta a “crise”? Conformarmo-nos? – nenhuma destas hipóteses me parece muito artística….
Sempre vi a Arte como inconformista, pioneira, agitadora de consciências. Não é a Arte DA guerrilha, é a Arte DE guerrilha. Provocadora. Agitadora. Inconformista.
O que sinto é que precisamos de nos encontrar num espaço livre, numa ideia, numa forma de dizer e fazer. Mas quando digo que precisamos de nos encontrar, não estou a falar nos encontros dos “quintais”, mas no encontro de consciências, de vontades, de seres.
E como dizia uma cantiga que ouvia na adolescência “…quem tem medo compra um cão, quem tem sono vai dormir, quem quiser que dê as mãos…”
Continuar, como se nada tivesse mudado, é dormir. Até podemos ser marginais, o que não devemos é colocar-nos à margem do que acontece, do que existe, do que é.
Olhar para fora … por dentro. É o que sinto que temos de fazer.»
1 comentário:
E onde estâ a consciencia polîtica da maioria dos artistas?Luisa Ortigoso,faz parte de ima minoria,esclarecida,culta e com sentido de crîtica perante uma polîtica que odeia a arte e os artistas.
Abraco
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