Crítica da
autocrítica
Reflexões para «sair
por cima» depois de alguns erros
Tradução
de Guilherme Fonseca-Sttater
Rebelión/Universidad
de la Filosofía
De pouco serve uma
autocrítica puramente confessional se aquilo que é preciso é corrigir,
no todo ou em parte, uma acção falhada. Ou muitas. Necessita-se de uma
abordagem correcta que abranja tanto o objectivo como o subjectivo nas suas
proporções relativas e nas suas relações dialécticas. Requerem-se consciência,
ciência e programa. Não é preciso sentir-se compungido quando “se mete a
pata na poça”, o que está errado, por ser inútil, é a imobilidade, o
conformismo ou a auto-comiseração. Também não chega “bater no peito”.
O vicio mais frequente nas
“autocríticas” acaba por ser o subjectivismo. Muitas das considerações,
predominantemente subjectivas (e aí inclui-se a «autocrítica»), cometem o erro
inicial de se basearem no caracter abstracto que produzem os erros e o defeito
de impedir que se parta daí, para o concreto na superação de cada problema ou
erro. Não basta «sentir-se mal» e encontrar «desculpas», uma autocrítica
socialmente útil exige acção imediata e rectificação concreta e nada disso se
consegue sem um programa antecedente e um programa de soluções. Um programa
científico. Cada erro tem a sua história e é necessário identificar as raízes
de un passo equivocado que podem inclusivamente chegar à própria origem da
metodologia de acção e suas referências filosóficas. Por isso, a autocrítica,
como parte imprescindível do método de acção, deve ser permanente, dinâmica e
eficaz… exige um treino rigoroso e não admite condescendências nem
auto-complacências. Nada fácil.
A autocrítica, com método
científico, compreende diagnósticos, qualitativos assim como quantitativos,
permanentes, com plasticidade e velocidade de aplicação à prova de desânimos,
desleixos ou ineficiências. A autocrítica deve, inclusivamente formar parte das
tarefas de planificação e deve desenvolver-se, sempre, um passo à frente da
acção. Se se deixa para trás a autocritica, é caso para alarme de autocrítica
de emergência. Não poucos projectos e experiências quotidianas requerem uma
equipa especializada em autocritica, com um programa de monitorização
permanente, capaz de exercer a responsabilidade de corrigir erros de maneira
imediata. Acontece também que se requeira um programa de valorização crítica
dos contributos vindos de outras frentes de críticas dirigidas aos nossos
projectos. A crítica da crítica.
Um programa científico para
a autocrítica exige dos seus responsáveis um compromisso, consensual e
inquestionável, com os fundamentos, objectivos, métodos e alcance de um
projecto. Todos os desvios podem ter sérias consequências. Não se aceita qualquer
cumplicidade com a ineficiência. Um tal programa, frequentemente esquecido no
desenvolvimento de projectos, pode bem ser uma ferramenta formidável para
alcançar êxitos fundamentais, mas não é uma sua garantia absoluta. É necessário
recordar sempre que os êxitos dependem não só dos programas e factores como o
acaso ou a moral da luta, que são indispensáveis e inevitáveis, têm zonas
dificilmente quantificáveis mas não impossíveis de medir.
Um programa científico para
a autocrítica requer consenso nas suas bases e nos seus passos. De pouco serve
uma autocrítica unilateral e solipsista. Requere definição precisa do “erro”,
de seus antecedentes, do seu desenvolvimento e das suas consequências. Requere
uma descrição detalhada e consensual sobre, e com, os envolvidos… valorização
exacta dos custos e dos tempos, explicação precisa do “custo” afectivo ou moral
e definição meticulosa de prazos e recursos com que será reparado o “erro” e um
plano concreto para se obter a concordância dos envolvidos. A acção directa.
A autocrítica científica não
é uma dádiva, nem uma concessão, filhas da “boa fé” ou de certas culpas
funcionais. Trata-se de um salto qualitativo da consciência na práctica e
trata-se de um compromisso profundo com a dialéctica dos projectos e do seu
êxito, colectivo e consensual. É uma ferramenta necessária para socializar os
erros e convertê-los em forças. É uma ferramenta poderosa para separar o
tratamento dos erros de qualquer campo abstracto para os elevar ao terreno do
concreto, à vista de todos, e com o benefício da corresponsabilidade nas
soluções. Não é um reduto ou emboscada para dar as boas vindas aos erros, é uma
arma para lhes dar categoría de sujeitos de conflito na dinâmica da
transformação social e, a partir daí, saber definir o seu lugar na luta de
classes que é o seu marco permanente de referência. A dialéctica.
Por isso todos necessitamos
da autocrítica como ferramenta para a luta, para o trabalho e para a vida
quotidiana. Como ferramenta social para a nossa militância, para sermos melhores
lutadores sociais, melhores pessoas, melhores exemplos no que nos corresponda
ser responsáveis para a transformação do mundo e a emancipação da humanidade.
Para superar o capitalismo sem cometer erros e, se «metemos a pata na poça»,
corrigi-los correctamente e de imediato. Em colectivo. Dentro e fora, do
macro ao micro.
Dr. Fernando Buen Abad Domínguez
Universidad de la Filosofía
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