Triste é ouvir estes jovens vindos na sua
quase totalidade da mais abjeta miséria, mas que hoje administram contas
bancárias de milhões, entoarem uma canção de apologia à pobreza, tomando-a como
seu hino. Canção nascida no apogeu do fascismo e recentemente recuperada.
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
Não lhes nego o mérito, o esforço e a
determinação, mas espero que alguns se apercebam da contradição em que os
fizeram cair.
Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.
O meu quarto lembra um ninho
e o seu tecto é tão baixinho
que eu, ao ir para me deitar,
abro a porta em tom discreto,
digo sempre: «Senhor tecto,
por favor deixe-me entrar.»
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
De manhã salto da cama
e ao som dos pregões de Alfama
trato de me levantar,
porque o sol, meu namorado,
rompe as frestas no telhado
e a sorrir vem-me acordar.
Corro então toda ladina
na casa pequenina,
bem dizendo, eu sou cristão,
“deitar cedo e cedo erguer
dá saúde e faz crescer”
diz o povo e tem razão.
Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.
2 comentários:
O facto e o contexto
geram sentimentos diversos
gosto do expresso pelo José Goulão
«Os dirigentes portugueses não podem ignorar que na sua rectaguarda continua a existir um potencial de orgulho e mobilização com que podem contar para enfrentar estratégias injustas e ilegítimas que fazem sofrer o povo.»
Carissssimo Amigo. Seja qual for o contexto é difícil ver jovens que ainda não devem ter esquecido o sabor da fome, hoje multimilionários cantarem a “alegria da pobreza”, não se apercebendo que pelo menos podem magoar os seus amigos de infância.
Um abraço solidário.
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