sábado, 21 de janeiro de 2017

Mais um excelente artigo de António Guerreiro



 António Guerreiro
20/01/2017  Público

Nos grandes momentos da vida nacional, ergue-se o espectáculo da banalidade e do kitsch até atingir níveis inauditos.
«Foram três ou quatro dias penosos e castigadores. A ocasião era de luto pela morte de um ex-Presidente da República, figura maior da nossa história política contemporânea, apto a atrair todas a venerações e todos os ódios. Mal começávamos a ler um jornal, a passar os olhos pela televisão ou a escutar as principais estações de rádio, éramos assaltados por uma torrente de discursos, imagens e vozes que, certamente cheias de boas intenções e genuínos sentimentos, pareciam olhar-se, com uma emocionada satisfação, no espelho da sua banalidade enfática. Todo o dispositivo mimético do kitsch surgia ali, na empatia, na estupidez e na emoção auto-gratificantes que montaram uma operação de paródia da catarse.»

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