domingo, 5 de março de 2017

A ÉTICA NÃO É NOTÍCIA. PORQUÊ?


A ÉTICA NÃO É NOTÍCIA. PORQUÊ?

...OU AS MANHAS DE QUE O CAPITALISMO SE SERVE PARA ESCONDER OS HORRORES QUE ESTÃO À VISTA


Pese embora o facto de a indústria da guerra campear impúdica e impune por todo o planeta, nenhuma das correntes e definições  “em uso” da Ética ocupa as manchetes da imprensa. Salvo episódios de conveniência comercial, para temas de maior transcendência, a Ética e seus comités são matérias  sistematicamente esquecidas. Facto que exprime com toda a clareza tudo quanto interessa realmente à ideologia da classe dominante, inimiga acérrima da vida, do planeta, da honestidade e da verdade. Arte paradoxal de  liquescer valores sociais com silêncio propagandista. E fazem-no passar na televisão.

Torna-se imperioso esclarecer os inumeráveis problemas que a indústria da guerra nos impôs. É urgente a crítica sobre os valores belicistas e a sua violência como praxis hegemónica global. E  também urge um mundo em Paz e com Ética nova como ciência indispensável para a análise científica do conjunto das relações sociais, suas penúrias, suas contradições e seus planos de saída do capitalismo. Ciê﷽﷽﷽﷽﷽﷽iul e a sua viola verdade. Arte paradoxal de  liquescer valores sociais com siul.    Ciência ética com rigor teórico, criatividade e procura de novos horizontes, mas com fidelidade ao melhor do espírito dos clássicos, da Ética emancipadora que deve servir a humanidade face  às aberrações macabras da indústria da guerra em “tempo real”.
Não vamos enlouquecer, pese embora o irracional da “modernidade” maquilhada com desenvolvimento tecno-científico mercantil insaciável; anárquico, inequitativo, anti-democrático , governado pela mediática monopólica, o sequestro da economia, a privatização e transnacionalização dos monopólios produtivos. O desemprego descarnado, a escravidão e a humilhação mundial de milhões de pessoas submetidas aos caprichos do mercado, às aberrações da propriedade privada e à acumulação do capital.

A Ética que hoje não é “notícia”, é uma necessidade prioritária contra as matanças de um negócio  apocalíptico. Vivemos uma época necessitada, como de pão para a boca, de liberdade, igualdade e fraternidade contra a irracionalidade do negócio da guerra.  A Ética não é assumida e anunciada pelos diários como via para a realização de um  novo paradigma de relações sociais. Não é notícia a Ética que procura a emancipação de toda a vida intelectual desde a esfera das  ciências, também para se alimentar com esperanças e credibilidade nova, produto da sua própria praxis sob o conjunto de condições concretas que se desenvolvem no período histórico actual.

De facto, o desafio da Ética contra a lógica do mercado bélico não é a negação das relações económicas  mas o seu controlo socializado com justiça social e contra a versão burguesa que não toma em linha de conta o desenvolvimento harmonioso das nações nem lhe importa a pobreza extrema que hoje existe devido à exploração feroz e ao sequestro cada vez mais cínico da mais valia; e devido também aos valores envolvidos nas suas condições   actuais de existência e à demolição do racional para manipular através de uma tarefa explicativa alienante todas as potencialidades humanas. Não é demais reclamar os contributos da Ética para criar um mundo novo, o mundo do social e da dignidade humana, tanto individual como colectiva. A reivindicação da Ética é um clamor humano, que exige a sua realização política para a compreensão crítica e a superação da sociedade capitalista e dos seus processos políticos, económicos e morais. Ética em defesa da Humanidade.

Sendo - como  é - a indústria da guerra a actividade económica mais poderosa do planeta pois não implica somente o fabrico de armas mas também o desenvolvimento de especialidades médicas, têxteis, químicas, físicas... a Ética que nos é necessária é a do espírito crítico para defender o direito a divergir da morte imposta, para assegurar valores na participação e da socialização em novas vias revolucionarias até que nos devolvam o direito ao desenvolvimento da criatividade bem como o direito de forjar uma nova sociedade. Uma vez que a Ética ficou com “pouco público” nos mass media dominantes, outra tarefa urgente é conseguir que o trabalho humano recupere o seu verdadeiro sentido humano e que a Ética seja o meio de satisfazer uma elevada necessidade de direcção revolucionária e não um simples meio de juízos individualistas, relativistas e universalistas.

Hoje mais do que nunca o papel da Ética é rejuvenescer-se como ferramenta social, como forma da praxis transformadora do mundo e contribuir para elevar a consciência da realidade em prol na construção de uma nova sociedade. Muitas verdades burguesas  caíram por terra, centenas de dispositivos ideológicos de classe não resistiram ao confronto com a realidade e algumas esperanças oligarcas desvaneceram-se sob o maçarico da luta de classes. Não obstante, o negócio da guerra continua intacto. Reclamemos sem descanso uma Ética para a sobrevivência da humanidade.

Precisamos urgentemente de uma Ética como ferramenta de análise científica que não seja a-política, que não se mostre indiferente ao conflito histórico entre as classes sociais e que seja muito mais do que um objecto de contemplação. Ética com carácter histórico para responder às necessidades concretas em  expressão normativa e dialética, que entranhe a crítica ao capitalismo e destaque os valores de comportamento prático
para converter a luta em transformação real. Ética imbricada com a praxis para a crítica do existente, do capitalismo em concreto, e crítica de todos os males sociais engendrados por ele. o garante﷽i mesma ne do capitalismo, e crento prÉtica para a acção directa no “desejável, no possível e no realizável”. Sanchez Vázquez dixit.

É verdade que a Ética por si mesma não garante que a transformação do mundo se cumpra, mas é esse o seu desafio se pretende ser Ética nova como programa humanista que não seja mais   uma ilusão impossível de realizar, numa enteléquia ou num fracasso. Ética para os actos organizados e efectivos que se dirijam à prática e, em particular, para resolver a crise de direcção revolucionária que foi sempre, até aos nossos dias, determinante.

Contra toda a ética camaleónico-reformista de raiz subjectivista, consumista ou individualista... contra os anti-valores  da escravidão de corpos e consciências e contra o criticismo.... a Ética para a emancipação é mais necessária do que nunca porque o capitalismo, na sua expressão como indústria da Guerra, não faz  mais do que piorar tudo incessantemente. O capitalismo não é eterno, por isso a perspectiva de uma Ética renovada “necessária, desejável e possível” é cada dia mais uma urgência para o presente. Não podemos continuar à espera, estamos sob a metralha e à mercê dos bombardeamentos que são letais e, ao mesmo tempo, são um grande negócio  burguês. Há que tornar visível aquilo que não se vê, apesar de estar ao alcance da vista.


Dr. Fernando Buen Abad Dominguez
Rebelión/Universidade da Filosofia
(Tradução de Armando Pereira da Silva)

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