segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Internet para pobres e ricos

    
Internet para pobres e ricos

Em data muito recente, a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos decidiu revogar as regras que impedem os fornecedores do serviço de internet de acelerarem, bloquearem ou tornarem mais lento o acesso a certos conteúdos, aplicações ou sítios de rede. A administração Trump cumpre deste modo a sua promessa de desmantelar a regulação herdada do seu predecessor e posta em marcha no ano 2015 para garantir a neutralidade da internet. Os argumentos são os mesmos que pudemos ouvir vezes repetidas para justificar a desregulação: a intervenção governamental é um obstáculo para o investimento e para a introdução de inovações, o que impede o refinamento do serviço.

Inicia-se desta maneira a destruição do princípio de não descriminação na rede. As implicações desta série de medidas chegam a todas as áreas das comunicações e da vida democrática. O acesso a vozes independentes e ao conhecimento científico corre um perigo mortal. E isto não é um problema privativo dos Estados Unidos. As suas ramificações para o México e para a Europa podem ser devastadoras.

A votação na FCC foi cerrada, dado que dois dos cinco comissários votaram contra o projeto de desregulação a que deram o nome enganador de Ordem para restaurar a liberdade na internet. O resultado final assume uma enorme importância porque é a primeira vez que a referida agência renuncia à sua missão de servir o público. O mais negativo de tudo isto talvez seja o facto de privar a FCC dos meios para intervir quando algum provedor de serviços da internet começar a manipular tarifas, velocidades de acesso ou cair na tentação de bloquear conteúdos que considere indesejáveis.

Muitos analistas consideram que o mais grave da desregulação é o facto de vir a ser muito difícil que os utentes se apercebam do que está a acontecer com o seu acesso à rede. Em alguns casos poderão experimentar uma lentidão não habitual para acederem a uma certa página ou canal. Noutros pode acontecer que recebam a notificação de que o sítio que procuram não está disponível. Em troca, outros sítios poderão ser acessíveis a muito boa velocidade e sem o risco de o sinal ser interrompido. Os utilizadores ficarão perplexos. Sem o saberem, terão perdido o controlo que anteriormente tinham para escolher livremente o seu roteiro na navegação. De um golpe, a internet terá deixado de ser o espaço livre a que estamos habituados, convertida que foi num recinto cercado onde tudo é possível para os operadores, desde a descriminação por conteúdos até à censura descarada.

Nas audiências públicas no seio da FCC sobre estas reformas, os representantes das principais companhias prestadoras de serviços de internet garantiram que nunca adoptariam este tipo de práticas em detrimento da livre circulação de ideias em termos igualitários. Mas o os mesmosa palavra desta gente. Saças de serviços de internet que nunca adoptariam este tipo de pracelerar, bloquear ou tornaré absurdo acreditar na palavra desta gente. Esses mesmos provedores investiram milhões de dólares em cabalas e conspirações para obterem esta desregulação.

Um dos argumentos para justificar a destruição da neutralidade é que a desregulação permitirá que se aumente a competição no sector. Mas o certo é que o sector está prisioneiro de um férreo oligopólio que hoje procura garantir a rentabilidade ao construir o muro digital que separaria a internet para ricos e pobres. Nos Estados Unidos as três principais companhias neste sector (AT&T, Verizon e COMCAST) controlam mais de 70 por cento do mercado de banda larga de alta velocidade (definida pela FCC como uma capacidade superior aos 25Mbps), e os dados do censo de telecomunicações mostram que só nove por cento dos utilizadores podem escolher entre dois ou mais prestadores do serviço de alta velocidade. Ou seja, trata-se de um mercado altamente concentrado no qual é difícil que a desregulação incremente a competição e permita reduzir os preços.

Para países como o México ou os membros da União Europeia o exemplo que vem dos Estados Unidos é uma péssima notícia. No México o mercado também se encontra altamente concentrado. A Lei federal de telecomunicações preserva supostamente o princípio de neutralidade da rede. Mas o excelente estudo de Luis Fernando Garcia e Carlos Brito, da organização R3D., revela que as linhas orientadoras de aplicação da lei não foram emitidas, o que é um mau presságio. Por outro lado, a renegociação do TLCAN pode ser o cavalo de Troia para impor as nefastas reformas de Trump no espaço digital mexicano. Se a isto acrescentarmos os termos da nova Lei de Segurança Interna o panorama torna-se sinistro.

Em Novembro, Trump designou Agit Pai, antigo advogado da Verizon, como presidente da FCC. Durante toda a sua carreira esta personagem foi um acérrimo inimigo do princípio da neutralidade na rede. Hoje parece que o seu objectivo está ao seu alcance. Mas a luta não terminou. Milhões de pessoas e milhares de organizações estão a protestar. Centenas de demandas judiciais já foram interpostas contra a decisão da FCC de violar a Lei federal de comunicações (em especial, o Título II). A batalha legal está ainda no começo. Este ano 2018 será decisivo para a sobrevivência da internet.

Fonte:  http: //www.jornada. unam.mx2017/12/20/economia

1 comentário:

Olinda disse...

Há que estar atento e denunciar.Informar,informar,informar!Abraço