O problema
Por Gustavo Carneiro
Durante anos, o problema
do PCP era ser um partido de velhos, condenado ao desaparecimento em breve
prazo pela tão simples quanto cruel lei da vida. Entretanto, foram surgindo em
tarefas de elevada responsabilidade (e, algumas, de grande exposição pública)
muitos e destacados quadros jovens: nas direcções locais, regionais e central,
nas autarquias, no Parlamento Europeu e na Assembleia da República, onde o
grupo parlamentar é, desde há anos, o que apresenta uma menor média etária. O problema,
então, passou a ser outro: os jovens só o eram de idade, pois as suas ideias
eram mais velhas do que as dos velhos que os antecederam.
Ao mesmo tempo, o PCP
tinha outro problema, a sua fixação nas temáticas de sempre –
antiquadas, diziam-nos – e, consequentemente, a sua difícil modernização e
abertura às chamadas causas fracturantes (mesmo que muitas delas tenham
sido assumidas pelo PCP muito antes de sequer existirem alguns dos que agora se
apresentam como seus mais acérrimos defensores). Mas eis que chegou a «crise» e
a troika e, com elas, o desemprego disparou, os salários foram cortados,
a precariedade generalizou-se, a pobreza atingiu dimensões chocantes. E em vez
de o PCP se modernizar foram outros que se apressaram a defender as tais
questões que, pouco antes, diziam estar fora de moda.
E não é tudo, pois o PCP
teve sempre um outro problema, o de ser apenas e só uma força de
protesto, de rua, sem vontade de negociar e desprovido de quaisquer propostas viáveis
para o País. Até que, perante o papel decisivo que assumiu em 2015 no
afastamento do governo PSD/CDS e, daí por diante, no que se alcançou de
positivo, o seu problema passou a ser o contrário, o de ter passado a
ser um partido «bonzinho» e «dócil», que teria abandonado a rua.
Mas o PCP tem outros problemas,
desde logo os que derivam das suas relações e posicionamentos internacionais. É
que desvendar a natureza da União Europeia, criticar abertamente a NATO e
denunciar agressões contra regimes e povos, além de ideologicamente
marcado (coisa tão fora de moda) não é muito bem visto por
televisões, rádios e jornais. Outros há, aliás, que sendo de esquerda
não dão importância a estas coisas e não se saem mal nas eleições, insistem em
lembrar-nos.
O verdadeiro problema
é outro, e não é do PCP, mas dos que durante décadas conceberam e
difundiram estas e outras narrativas sobre os comunistas portugueses. É que não
admitem, nem tão pouco conseguem compreender, a existência de um Partido
comunista digno desse nome, que teima em resistir a todas as ofensivas e
prossegue, determinado, o seu combate em defesa dos direitos, pela democracia e
o socialismo. E este é precisamente o problema que não conseguem resolver.
1 comentário:
Hoje,a comunicação dita social é um dos pilares do capitalismo,sem o seu controlo fica desamparado.Abraço
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