terça-feira, 24 de novembro de 2020

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«Covid, 1 – Rituais da democracia, 0

Ana Lopes, editorial Público, 23 de Novembro de 2020

O vírus não suspende a democracia mas dá-lhe um encontrão. Esse encontrão está a ser maior do que o esperado, agora que Rui Rio quer a mudança da lei para proibir o congresso do PCP e está preparado para o fazer esta semana.

Marcelo já admitiu que virá aí uma terceira vaga da covid-19 em Janeiro. A atender na frase do Presidente – que provavelmente a ouviu a algum especialista dentro ou fora das reuniões do Infarmed – a campanha eleitoral das Presidenciais praticamente não existirá. É certo que a sua campanha de há cinco anos, quando ainda ninguém sonhava com a covid-19, foi recatada, mas Marcelo também não precisava de maximizar nada: graças ao seu currículo de político, de professor e de comentador político permanente da democracia, Marcelo tinha uma notoriedade que outros candidatos não têm.

Agora, o “fechar” da campanha também não é muito complicado para Marcelo. Ele fala todos os dias e está em campanha há cinco anos. Mas reduzir a exposição física e acabar com as grandes reuniões de apoiantes tem consequências nos candidatos que não tiveram a influência política de Marcelo nos últimos 40 anos e não são Presidentes da República. É provável que venha a ter influência na votação do candidato do PCP. O vírus não suspende a democracia mas dá-lhe um encontrão.

Esse encontrão está a ser maior do que seria esperado, agora que Rui Rio quer a mudança da lei para proibir o congresso do PCP e está preparado para o fazer esta semana.

Vamos lá a ver: este já não é um congresso do PCP normal. Com o número de delegados reduzido a metade em nome das normas sanitárias, a extinção do ritual da presença das delegações de partidos estrangeiros e, por causa da dificuldade em fazer reuniões para a preparar, o adiamento da sucessão no PCP, o congresso será sempre a meio-gás. A ideia de o adiar, como fizeram PS e Bloco de Esquerda, poupava os comunistas à inacreditável pressão da opinião pública de direita misturada com alguns preocupados genuínos com ajuntamentos.

O PCP decidiu continuar, embora a redução de congressistas aponte para uma reunião magna mais pobre. Mas há qualquer coisa de comovente na insistência do PCP em que a covid-19 não acabe de vez com todos os rituais da democracia. As eleições precisam de campanhas e nem tudo se faz nas redes sociais. Os partidos precisam de congressos e eles não acontecem de forma espontânea no Twitter.

A covid-19 deu um encontrão na democracia, nos seus mecanismos ritualísticos. Claro que ela não vai acabar: o vírus acaba primeiro. Mas era importante ver até que ponto a teoria do “cancela tudo” se vai reflectir na participação dos cidadãos na política. Temos as presidenciais à porta.»

1 comentário:

Olinda disse...

Quem se esforça por suspender a democracia não é o vírus.São os seus inimigos.Abraço