sexta-feira, 23 de abril de 2021

Poema de Abril - Sidónio Muralha

 

Poema de Abril

 

A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este o prodígio
do povo ultrajado,
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.

Foi este o prodígio
de um dia de Abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.

Ficou a herança
de erros e buracos
nas árduas ladeiras
a serem subidas
com os pés descalços,
mas no sofrimento
a farda dos homens
voltou a ser pele
e das baionetas
irromperam flores.

Minha pátria linda
de cabelos soltos
correndo no vento,
sinto um arrepio
de areia e de mar
ao ver-te feliz.
Com as mãos vazias
vamos trabalhar,
a farda dos homens
voltou a ser pele.

 

Sidónio Muralha

Poemas de Abril. Lisboa : Prelo, 1974

 

 

1 comentário:

Monteiro disse...

Lá consegui meter este este poema e o cravo mo meu facebook. Fazê-lo directamente o Google não deixa a pedido de várias famílias, etc. Bom 25 de Abril.