domingo, 27 de junho de 2021

Um livro ao domingo

 

Edições Colibri

MEMÓRIAS DA DINAMIZAÇÃO CULTURAL

Por Manuel Begonha

 

Todas as campanhas obedeçam a diretivas e eram suportadas por textos de apoio, onde se registava claramente que as Forças Armadas eram rigorosamente apartidárias mas não apolíticas.

As diretivas emanavam do CEMGFA, General Costa Gomes e ainda ratificadas por Ramiro Correia, primeiro coordenador das campanhas.

Para melhor conhecimento dos costumes, tradições, linguagem e cultura dos locais onde se previam intervenções, procedia-se a uma formação prévia dos militares, normalmente no Centro de Sociologia Militar, integrado na 5ª Divisão do EMGFA.

Apesar do objectivo fundamental destas campanhas ser a divulgação e o esclarecimento do Programa do MFA e consolidar progressivamente, com confiança mútua, a ligação Povo - MFA, outros objectivos foram determinados e que eram :

- Esclarecimento sobre o acto cívico de votar.

- Movimentar as FA nas zonas fronteiriças interiores, como demonstração que a Revolução iniciada com o 25 de Abril tinha dimensão nacional.

- Desencorajar tentações da Espanha franquista de intervir militarmente em Portugal, devido à existência do Pacto Ibérico.

- Demonstrar a disciplina, coesão e capacidade das Forças Armadas, lançando no terreno forças especiais (Fuzileiros, Comandos e Paraquedistas), bem equipadas, uniformizadas, preparadas e enquadradas, bem como cadetes das Escolas Militares, nomeadamente da Academia Militar e Escola Naval.

- Evidenciar que o MFA não era apenas constituído por oficiais, mas igualmente por sargentos e praças.

Para dar cumprimento a estes objectivos a primeira campanha designada por Nortada, decorreu na Região de Trás-os-Montes, apenas após a queda de Spínola, ocorrida a 30 de Setembro de 1974 que não permitia a saída dos militares dos quartéis.

A unidade militar escolhida foi o Batalhão de Comandos, chefiado pelo então major Jaime Neves que teve um comportamento digno, tendo sido uma componente importante no sucesso da operação e no prestígio dos militares.

Levou-me inclusivamente a casa de sua mãe que nos ofereceu uns deliciosos fumeiros assados nas brasas da sua lareira.

Nada faria então prever a sua posterior evolução ideológica, com uma deriva permanente para a direita, até ao golpe do 25 de Novembro de 1975, no qual pretenderá transformar - se no braço justiceiro e sangrento contra elementos afetos a Vasco Gonçalves e ao PCP.

Vem a propósito, esclarecer como algumas das mais relevantes personalidades da época, encaravam a Dinamização Cultural.

Álvaro Cunhal com reservas porque temia a inabilidade e alguma linguagem esquerdista dos militares.

Costa Gomes aceitava mas sem entusiasmo.

Mário Soares começou a perder o fulgor revolucionário com a queda de Spínola que se tornou bruxuleante desde que Vasco Gonçalves começou a dar cumprimento integral ao Programa do MFA e passou a conspirar contra a revolução após o 11 de Março de 1975.

No entanto, foi quem mais beneficiou nas eleições para a Assembleia Constituinte, pois nas campanhas falava-se muito em socialismo.

Vasco Gonçalves apoiava, sem nunca ter interferido.

São dele as seguintes palavras:

"Os militares quando regressam destas sessões, eles próprios vêm mais politizados, mais conscientes das suas tarefas. Vêm mais democráticos".

Como sabíamos que a Revolução do 25 de Abril, muito ficou a dever à luta de tantos antifascistas nas mais diversas áreas culturais, decidimos integrar os intelectuais que se voluntariaram gratuitamente para nos ajudar a fazer chegar ao povo português uma formação cultural indispensável, para a libertação que se pretendia.

De entre muitos e para se ter uma ideia da elevada qualidade destes homens e mulheres e na impossibilidade de os referir a todos, dou como exemplo dois em cada área em que intervieram homenageando-os desta forma na sua totalidade.

 

Artes Plásticas e Gráficas

João Abel Manta e Marcelino Vespeira

 

Teatro

Mário Barradas e João Mota

 

Música , Canto e Dança

Fernando Lopes Graça e Carlos Paredes

José Afonso e Adriano Correia de Oliveira

Jorge Peixinho

 

Cinema

Carlos Albuquerque e Francisco Patrício

 

Apoio Literário

José Saramago e Bernardo Santareno

 

Circo

João de Lemos Menezes Ferreira e Teresa Ricou(Tete)

 

Não devem ser esquecidas as atividades político culturais desenvolvidas também desde antes do 25 de Abril por Michel

Giacometti em todo o país, por Joaquim Namorado na região de Coimbra e por Rodrigo de Freitas no sector de artes plásticas e gráficas, a face mais visível da representação da Revolução.

Todos cumpriram exemplarmente e a eles devemos estar reconhecidos , tal como hoje aos nossos intelectuais progressistas que os seguiram e amanhã aos jovens que já desabrocham e que mantêm vivo o combate contra a cartilha fascista de falsificar a história, para construir uma mitologia nacionalista.

 

Ver :"5ª Divisão - MFA Revolução e

Cultura -" Edições Colibri

 

1 comentário:

Monteiro disse...

O Partido Socialista continua a beneficiar adulterando e enganando as pessoas. Tenho ouvido muitas pessoas dizerem em fábricas nos convívios de bairro nos escritórios que são socialistas porque é um comunismo mais moderado. Em muitas terras os fascistas até chamam comunistas aos socialistas. Engels escreveu que são precisos Sociólogos que estudem e expliquem o que é que faz as pessoas numa dada situação optam por uma coisa e noutra situação já optam pelo contrário. Sociólogos de pendor Cientifico, entenda-se.