Edições Colibri
MEMÓRIAS DA DINAMIZAÇÃO CULTURAL
Por Manuel Begonha
Todas as campanhas obedeçam a diretivas e eram suportadas por textos de apoio, onde se registava claramente que as Forças Armadas eram rigorosamente apartidárias mas não apolíticas.
As diretivas emanavam do CEMGFA, General Costa Gomes e ainda ratificadas por Ramiro Correia, primeiro coordenador das campanhas.
Para melhor conhecimento dos costumes, tradições, linguagem e cultura dos locais onde se previam intervenções, procedia-se a uma formação prévia dos militares, normalmente no Centro de Sociologia Militar, integrado na 5ª Divisão do EMGFA.
Apesar do objectivo fundamental destas campanhas ser a divulgação e o esclarecimento do Programa do MFA e consolidar progressivamente, com confiança mútua, a ligação Povo - MFA, outros objectivos foram determinados e que eram :
- Esclarecimento sobre o acto cívico de votar.
- Movimentar as FA nas zonas fronteiriças interiores, como demonstração que a Revolução iniciada com o 25 de Abril tinha dimensão nacional.
- Desencorajar tentações da Espanha franquista de intervir militarmente em Portugal, devido à existência do Pacto Ibérico.
- Demonstrar a disciplina, coesão e capacidade das Forças Armadas, lançando no terreno forças especiais (Fuzileiros, Comandos e Paraquedistas), bem equipadas, uniformizadas, preparadas e enquadradas, bem como cadetes das Escolas Militares, nomeadamente da Academia Militar e Escola Naval.
- Evidenciar que o MFA não era apenas constituído por oficiais, mas igualmente por sargentos e praças.
Para dar cumprimento a estes objectivos a primeira campanha designada por Nortada, decorreu na Região de Trás-os-Montes, apenas após a queda de Spínola, ocorrida a 30 de Setembro de 1974 que não permitia a saída dos militares dos quartéis.
A unidade militar escolhida foi o Batalhão de Comandos, chefiado pelo então major Jaime Neves que teve um comportamento digno, tendo sido uma componente importante no sucesso da operação e no prestígio dos militares.
Levou-me inclusivamente a casa de sua mãe que nos ofereceu uns deliciosos fumeiros assados nas brasas da sua lareira.
Nada faria então prever a sua posterior evolução ideológica, com uma deriva permanente para a direita, até ao golpe do 25 de Novembro de 1975, no qual pretenderá transformar - se no braço justiceiro e sangrento contra elementos afetos a Vasco Gonçalves e ao PCP.
Vem a propósito, esclarecer como algumas das mais relevantes personalidades da época, encaravam a Dinamização Cultural.
Álvaro Cunhal com reservas porque temia a inabilidade e alguma linguagem esquerdista dos militares.
Costa Gomes aceitava mas sem entusiasmo.
Mário Soares começou a perder o fulgor revolucionário com a queda de Spínola que se tornou bruxuleante desde que Vasco Gonçalves começou a dar cumprimento integral ao Programa do MFA e passou a conspirar contra a revolução após o 11 de Março de 1975.
No entanto, foi quem mais beneficiou nas eleições para a Assembleia Constituinte, pois nas campanhas falava-se muito em socialismo.
Vasco Gonçalves apoiava, sem nunca ter interferido.
São dele as seguintes palavras:
"Os militares quando regressam destas sessões, eles próprios vêm mais politizados, mais conscientes das suas tarefas. Vêm mais democráticos".
Como sabíamos que a Revolução do 25 de Abril, muito ficou a dever à luta de tantos antifascistas nas mais diversas áreas culturais, decidimos integrar os intelectuais que se voluntariaram gratuitamente para nos ajudar a fazer chegar ao povo português uma formação cultural indispensável, para a libertação que se pretendia.
De entre muitos e para se ter uma ideia da elevada qualidade destes homens e mulheres e na impossibilidade de os referir a todos, dou como exemplo dois em cada área em que intervieram homenageando-os desta forma na sua totalidade.
Artes Plásticas e Gráficas
João Abel Manta e Marcelino Vespeira
Teatro
Mário Barradas e João Mota
Música , Canto e Dança
Fernando Lopes Graça e Carlos Paredes
José Afonso e Adriano Correia de Oliveira
Jorge Peixinho
Cinema
Carlos Albuquerque e Francisco Patrício
Apoio Literário
José Saramago e Bernardo Santareno
Circo
João de Lemos Menezes Ferreira e Teresa Ricou(Tete)
Não devem ser esquecidas as atividades político culturais desenvolvidas também desde antes do 25 de Abril por Michel
Giacometti em todo o país, por Joaquim Namorado na região de Coimbra e por Rodrigo de Freitas no sector de artes plásticas e gráficas, a face mais visível da representação da Revolução.
Todos cumpriram exemplarmente e a eles devemos estar reconhecidos , tal como hoje aos nossos intelectuais progressistas que os seguiram e amanhã aos jovens que já desabrocham e que mantêm vivo o combate contra a cartilha fascista de falsificar a história, para construir uma mitologia nacionalista.
Ver :"5ª Divisão - MFA Revolução e
Cultura -" Edições Colibri
1 comentário:
O Partido Socialista continua a beneficiar adulterando e enganando as pessoas. Tenho ouvido muitas pessoas dizerem em fábricas nos convívios de bairro nos escritórios que são socialistas porque é um comunismo mais moderado. Em muitas terras os fascistas até chamam comunistas aos socialistas. Engels escreveu que são precisos Sociólogos que estudem e expliquem o que é que faz as pessoas numa dada situação optam por uma coisa e noutra situação já optam pelo contrário. Sociólogos de pendor Cientifico, entenda-se.
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