terça-feira, 27 de julho de 2021

Daniel Hale, um herói americano

 

Por António Santos

Daniel Hale é um herói ame­ri­cano e num com­pu­tador do Pen­tá­gono há uma lista de pes­soas a as­sas­sinar. Na Ma­triz de Dis­po­sição — foi assim bap­ti­zado o rol — constam os nomes de de­zenas de mi­lhares de pes­soas, de todas as na­ci­o­na­li­dades e em países de todo o mundo, pelo que não é to­tal­mente im­pos­sível que também o teu nome conste, uma vez que não há cri­té­rios co­nhe­cidos para de­cidir quem vive e quem morre.

Da­niel Hale, ana­lista da Força Aérea dos EUA, re­velou aos jor­na­listas do In­ter­cept esta e ou­tras in­for­ma­ções que aqui des­cre­verei, para que o mundo sou­besse. É que se a hi­pó­tese de ser as­sas­si­nado por um drone te pa­recer re­bus­cada, não fi­carás mais tran­qui­li­zada/​o se sou­beres que parte dos nomes na lista são ge­rados au­to­ma­ti­ca­mente por um al­go­ritmo a partir de meta-dados re­co­lhidos na In­ternet e que o pro­grama de as­sas­si­natos com drones é global.

Da­niel Hale achou que isto era cri­mi­noso e que não podia, à se­me­lhança dos nazis em Nu­rem­berga, sim­ples­mente cum­prir or­dens para que nin­guém saiba. Porque mesmo que se apenas por erro fosses parar à lista de con­de­nados à morte pelo go­verno dos EUA, não exis­tiria ne­nhum tri­bunal a que pu­desses apelar ou re­correr da sen­tença, não te­rias di­reito a ad­vo­gados nem te seria con­ce­dido o di­reito a tentar provar a tua ino­cência no banco dos réus.

Da­niel Hale podia ter cum­prido as suas or­dens, mas ar­riscou 50 anos de prisão por es­pi­o­nagem para que tu saibas. Re­para, se­gundo o go­verno pa­quis­tanês, 80 por cento das ví­timas de ata­ques por drones na­quele país são, tal como tu cer­ta­mente se­rias se im­pro­va­vel­mente o teu nome fosse mis­te­ri­o­sa­mente ge­rado pelo al­go­ritmo, ino­centes as­sas­si­nados por en­gano.

Uma arma de terror em massa

Da­niel Hale foi preso em Maio de 2019 e foi man­tido até hoje em re­gime de so­li­tária para que tu não saibas. Fu­ne­rais, con­certos, festas de ca­sa­mento, ma­ni­fes­ta­ções… pa­rece não haver alvo que os drones he­sitem em bom­bar­dear. Se­gundo a «po­lí­tica de en­fren­ta­mento» a que a Ma­triz de Dis­po­sição obe­dece, para além dos alvos, todos os «ho­mens com mais de 18 anos» que morram num ataque de drone devem ser de­sig­nados «com­ba­tentes». Danos co­la­te­rais é o que já se cha­mava às mu­lheres e às cri­anças.

Da­niel Hale vai ouvir a sen­tença de um juiz no pró­ximo dia 27 de Julho. Apesar de es­tarem na guerra como num vi­de­o­jogo, cada vez mais ope­ra­dores de drones têm vindo a pú­blico con­denar as ma­tanças do pro­grama de drones que Obama inau­gurou, Trump ex­pandiu e Biden con­ti­nuou. Talvez por isso, os EUA têm in­ves­tido muitos mi­lhões no de­sen­vol­vi­mento de drones to­tal­mente au­to­ma­ti­zados que, fi­nal­mente li­vres da in­ter­fe­rência da hu­ma­ni­dade, cum­pram or­dens como os nazis de Nu­rem­berga.

Da­niel Hale não é como os nazis de Nu­rem­berga. Os res­pon­sá­veis pelos crimes não foram se­quer acu­sados, mas quem os de­nun­ciou será preso. Como Ju­lian As­sange, Chelsea Man­ning e Edward Snowden, Da­niel Hale não per­guntou o que podia fazer «pelo seu país», que agora o acusa de traição, mas o que podia fazer pela hu­ma­ni­dade. Se Da­niel Hale não for um herói ame­ri­cano, será um herói da hu­ma­ni­dade.

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1 comentário:

Olinda disse...

A ignomínia do império-do-mal é tanta que eu pergunto como é possível alguém dito normal não se indignar com a sua política.Não se trata somente de ignorância ,mas de insensibilidade humana para aceitar as acções de barbárie cometidas pelos EUA.Abraço