Mas
quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de cair em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
José
Saramago
Alguém já
decidiu o resultado das próximas eleições por nós. E os ecos dessa decisão já
estão por toda a parte. Nos jornais e televisões, nas redes sociais, nos
comentadores e nas sondagens, nos próprios beneficiados que aproveitam a onda e
embalam nela. Já se sabe que a maioria é esta ou aquela, que partido A vai
coligar-se com B, que partido A governará sozinho, que partido B fará acordo ou
não fará acordo, que o cenário será este ou aquele, que este vai ganhar e
aquele vai perder, e tudo com a mais cristalina das certezas. Apesar de
variarem os rostos, variarem partidos e coligações, maiorias ou minorias, há um
«corredor» e um destino para o qual inevitavelmente já nos atiraram e do qual
não vamos conseguir escapar.
Os votos estão
contados e de certeza que vai dar mais do mesmo. Será obrigatoriamente PS, ou
será obrigatoriamente PSD. Aqui e ali virá um arranjinho que trará uma pontinha
liberal, um floreado pseudo-cristão, um idílico – e parolo – europeísmo, ou até
quiçá um travozinho fascista. Para responder à inevitável revolta, no máximo,
permitir-se-á o desvio contra paredes ilusórias, alimentadas e reforçadas pelo
sistema. O eleitor atira-se ora à parede da esquerda (PS), ora à da direita
(PSD, IL, Ch e quejandos) e, no fim de contas, não saiu do mesmíssimo
«corredor». E não tendo saído dali, acha sempre que esteve num sítio diferente.
A
social-democracia é o nome da nossa desgraça. O capital que a sustém e controla
é o sempiterno vencedor de cada acto eleitoral. A extrema-direita que rosna não
afugenta os corruptos, antes anima-os e serve-os na sombra. O país que trabalha
vive pouco, vive mal. Mas a receita renovada, ainda que velhaca, surge em cada
campanha sempre bela e atraente, entrando-nos a todas as horas pelos olhos
dentro. A grande mudança da propaganda é o mais do mesmo na realidade. A menos
que.
Imagine-se o
gozo que não seria, desde logo, ao invés das esperadas previsões, ver os rostos
empedernidos do sistema em face de uma grande votação na CDU. Imagine-se o
constrangimento empalidecido dos comentadores com uma CDU com mais votos e mais
deputados. Imagine-se a certidão de óbito que não seria para as manipuladoras
empresas de sondagens, que a coberto de uma pseudo-ciência condicionam votos e
a própria democracia há décadas. Imagine-se o ar atabalhoado de uns quantos
grunhos fascistas outra vez reduzidos à insignificância, passados para um plano
que com o «embalo» já não achavam possível. A surpresa que não seria. A dor de
corno dos poderosos que não se daria. Os sorrisos amarelos dos sistémicos
armados em esquerda. O falhanço das previsões e das vontades, ou as previsões
enquanto vontades. Imagine-se… imagine-se o pânico e o medo daqueles que nos
fazem ter medo!
Nos 50 anos de
Abril, o voto ainda pode ser uma arma. E só o voto na CDU nos pode tirar do
«corredor» a que nos querem condenar.
2 comentários:
Chamam a isto democracia! As sondagens se fossem infalíveis, poupavam-nos o trabalho de ir votar, mas são uma fraude, uma manipulação para garantir que pouco ou nada mude.E...chamam a isto democracia. Bom fim de semana
Eu voto CDU.
Enviar um comentário