O antropólogo e o Largo do Rato
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O’Neill
Quem “havera” de dizer! Assim se teria expressado a minha prima Alice se tivesse tido conhecimento de um aprofundado estudo sobre o Largo do Rato, feito pelo antropólogo francês Aymeric Bole-Richard, no âmbito de um doutoramento em antropologia social.
Aos antropólogos não compete embrenharem-se pelos domínios da toponímia, deixando essa tarefa a nosso cargo. Assim, foi-nos dado saber que o convento ali instalado era apadrinhado por um indivíduo conhecido por “o rato” que, com esta pouco dignificante alcunha, crismou o local. Não devia ter sido boa prenda, presumo, porque rato não é animal de estimação nem simboliza bons princípios ou sãos comportamentos.
Quando teve conhecimento do estudo, a senhora Ferreira Leite, de imediato, procurou saber o que teria encontrado no Largo do Rato o académico francês para sobre ele se debruçar, indagou ainda por que razão estando a tão curta distância do ‘bunker’ da Lapa, como o define Filipe Menezes, o ignorou tão ostensivamente e, com este seu comportamento não conseguiu esconder uma pontinha de inveja; mas se tivesse tido acesso às conclusões do antropólogo, ver-lhe-iamos iluminado aquele seu charmoso sorriso/careta.
Quem é que já não ouviu falar do Largo do Rato?
Pois bem: sabem o que, segundo o abalizado antropólogo, tem o Largo do Rato além de uma fachada perigosa? O gaulês define-o como “o lugar mais hostil e desumanizado da cidade.”
É preocupante! Nós já disso nos tínhamos apercebido desde há muito, mas ainda ninguém havia tido a coragem de ser assim tão frontal: O Largo do Rato, é “o lugar mais hostil e desumanizado de Lisboa ” e, assim sendo e por arrasto o mais hostil e desumanizado do país. É obra!
A municipalidade devia colocar em todas as artérias convergentes sinalização como a usada nas auto-estradas, advertindo a quem do Largo de Rato se aproxime que o local “é hostil e desumanizado” e comunicar à Protecção Civil que esteja atenta porque dali só nos têm vindo não maus ventos, mas ministros malquistos.
Entretanto devemos manter-nos confiantes pois tal como diria Paul Éluard “au bout du chagrin une fenêtre ouverte une fenêtre éclairée” e o nosso antropólogo, compatriota de Éluard, também nos deixa uma grande janela aberta de esperança nestes momentos tão difíceis que vivemos. Afirma o doutorando que “de vez em quando ainda pode observar-se formas espontâneas de encontro e de ocupação cidadã no Largo do Rato, como por exemplo, a manifestação dos sindicatos de 2 de Março de 2007, em que durante cerca de uma hora e meia o largo se metamorfoseuou num espaço realmente humano.”
Esta conclusão não saiu da CGTP, mas de alguém que num colóquio no Goethe-Institut de Portugal explanou os seus doutos conhecimentos, fruto de aturados estudos.
Para bem da cidade, nomeadamente do Largo do Rato, devemos ter em conta que é necessário e saudável que todas as manifestações tenham como itinerário obrigatório esse local que tão carente de humanização está.
Que me perdoem os honrados cidadãos que, desde sempre, ali têm vivido e hoje suportam o trânsito, outros aborrecimentos e encontros indesejados.
Cid Simões
fcidsimoes@sapo.pt
(crónica lida na Rádio Baía também on-line)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O’Neill
Quem “havera” de dizer! Assim se teria expressado a minha prima Alice se tivesse tido conhecimento de um aprofundado estudo sobre o Largo do Rato, feito pelo antropólogo francês Aymeric Bole-Richard, no âmbito de um doutoramento em antropologia social.
Aos antropólogos não compete embrenharem-se pelos domínios da toponímia, deixando essa tarefa a nosso cargo. Assim, foi-nos dado saber que o convento ali instalado era apadrinhado por um indivíduo conhecido por “o rato” que, com esta pouco dignificante alcunha, crismou o local. Não devia ter sido boa prenda, presumo, porque rato não é animal de estimação nem simboliza bons princípios ou sãos comportamentos.
Quando teve conhecimento do estudo, a senhora Ferreira Leite, de imediato, procurou saber o que teria encontrado no Largo do Rato o académico francês para sobre ele se debruçar, indagou ainda por que razão estando a tão curta distância do ‘bunker’ da Lapa, como o define Filipe Menezes, o ignorou tão ostensivamente e, com este seu comportamento não conseguiu esconder uma pontinha de inveja; mas se tivesse tido acesso às conclusões do antropólogo, ver-lhe-iamos iluminado aquele seu charmoso sorriso/careta.
Quem é que já não ouviu falar do Largo do Rato?
Pois bem: sabem o que, segundo o abalizado antropólogo, tem o Largo do Rato além de uma fachada perigosa? O gaulês define-o como “o lugar mais hostil e desumanizado da cidade.”
É preocupante! Nós já disso nos tínhamos apercebido desde há muito, mas ainda ninguém havia tido a coragem de ser assim tão frontal: O Largo do Rato, é “o lugar mais hostil e desumanizado de Lisboa ” e, assim sendo e por arrasto o mais hostil e desumanizado do país. É obra!
A municipalidade devia colocar em todas as artérias convergentes sinalização como a usada nas auto-estradas, advertindo a quem do Largo de Rato se aproxime que o local “é hostil e desumanizado” e comunicar à Protecção Civil que esteja atenta porque dali só nos têm vindo não maus ventos, mas ministros malquistos.
Entretanto devemos manter-nos confiantes pois tal como diria Paul Éluard “au bout du chagrin une fenêtre ouverte une fenêtre éclairée” e o nosso antropólogo, compatriota de Éluard, também nos deixa uma grande janela aberta de esperança nestes momentos tão difíceis que vivemos. Afirma o doutorando que “de vez em quando ainda pode observar-se formas espontâneas de encontro e de ocupação cidadã no Largo do Rato, como por exemplo, a manifestação dos sindicatos de 2 de Março de 2007, em que durante cerca de uma hora e meia o largo se metamorfoseuou num espaço realmente humano.”
Esta conclusão não saiu da CGTP, mas de alguém que num colóquio no Goethe-Institut de Portugal explanou os seus doutos conhecimentos, fruto de aturados estudos.
Para bem da cidade, nomeadamente do Largo do Rato, devemos ter em conta que é necessário e saudável que todas as manifestações tenham como itinerário obrigatório esse local que tão carente de humanização está.
Que me perdoem os honrados cidadãos que, desde sempre, ali têm vivido e hoje suportam o trânsito, outros aborrecimentos e encontros indesejados.
Cid Simões
fcidsimoes@sapo.pt
(crónica lida na Rádio Baía também on-line)
Sem comentários:
Enviar um comentário