Na vã tentativa de arrumar os meus livros peguei no 4º volume das Obras Completas de Gramsci para o colocar no seu devido lugar e nele fiquei a recordar páginas das quais vos deixo esta mostra.
3. Sobre a pobreza, o catolicismo e a hierarquia eclesiástica.
Num livrinho sobre ouvriers et patrons (dissertação premiada em 1906 pela Academia de Ciências Morais e Políticas de Paris), menciona-se a resposta dada por um operário católico francês ao autor da objeção que lhe fora apresentada, segundo a qual, de acordo com as palavras de Jesus extraídas de um Evangelho, devem existir sempre ricos e pobres: “Pois bem, deixaremos pelo menos dois pobres para que não digam que Jesus errou.” A resposta é epigramática, mas à altura da objeção.
(…) as opiniões mais difundidas sobre a questão da “pobreza”, tal como resultam das encíclicas e de outros documentos autorizados, podem ser resumidas nos seguites pontos: 1) A propriedade privada, sobretudo fundiária, é um “direito natural”, que não pode ser violado nem mesmo através de altos impostos (derivam deste princípio os programas políticos das tendências democrata-cristãs, no sentido da distribuição de terras aos camponeses mediante indemnização, bem como suas doutrinas financeiras); 2) Os pobres devem contentar-se com sua sorte, já que as diferenças de classe e a distribuição da riqueza são disposições de deus e seria ímpio tentar eliminá-las; 3) A esmola é um dever cristão e implica a existência da pobreza; 4) A questão social é antes de mais nada moral e religiosa, não económica, devendo ser resolvida através da caridade cristã e dos ditames da moral e do juízo da religião. (Cf. O Código Social de Melines, em suas sucessivas elaborações.)
In Cadernos do Cárcere de António Gramsci (Volume 4)
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