Mentiras e embustes à Esquerda:
a política de autodestruição
Por Prof.
James Petras, 22 de março de 2015
O que,
durante o ano
passado, aparecia como
sinal de esperança,
de que governos de Esquerda
estavam a surgir como
alternativas poderosas a regimes de direita
pró-EUA, está a transformar-se em debandada histórica, que vai relegá-los ao caixote
de lixo da história
por muitos
anos.
A ascensão
e decadência rápida
dos governos de esquerda
em França, Grécia e Brasil não é o resultado
de um golpe
militar, nem
é devido a maquinações
da CIA. A derrocada
dos governos de esquerda
é resultado de decisões
políticas deliberadas, que romperam decisivamente
com programas
progressivos, promessas
e compromissos que
os líderes políticos
tinham feito para
a grande massa
de eleitores das classes
trabalhadora e média que
os elegeram.
Cada vez mais, o eleitorado
vê os governantes
esquerdistas como traidores, que traíram os seus
apoiantes perante o aceno
e chamamento dos seus mais flagrantes
inimigos de classe:
os banqueiros, os capitalistas
e os ideólogos neoliberais.
Governos de Esquerda cometem suicídio
A autodestruição
da esquerda é uma vitória
inesperada para
as forças políticas
neoliberais mais retrógradas. Estas forças têm procurado destruir
o sistema de previdência
social, impor
o seu domínio
através de funcionários
não eleitos, alargar
e aprofundar desigualdades, minar
os direitos dos trabalhadores,
privatizar e desnacionalizar
os setores mais
lucrativos da economia.
Três casos de traição de regimes
de Esquerda servem para
destacar este
processo: o regime socialista francês
do presidente François Hollande que governa a segunda potência
líder na Europa (2012-2015); Syriza, o regime de esquerda na
Grécia eleito em 25 de janeiro de 2015, retratado como
um valoroso
defensor de uma política
alternativa à "austeridade fiscal";
e o Partido dos Trabalhadores
do Brasil, que governa
o maior país
(2003-2015) da América Latina e um dos líderes
dos BRICS.
“Socialismo” Francês:
o grande salto
atrás
Na sua
campanha presidencial, François Hollande
prometeu aumentar os impostos
sobre os ricos
até 75%; reduzir
a idade de aposentação de 62 para 60 anos; lançar um programa de investimento
público maciço
para reduzir o
desemprego; aumentar consideravelmente o gasto público em educação
(contratando 60.000 novos professores), saúde
e habitação social;
e retirar as tropas
francesas do Afeganistão como um primeiro passo para reduzir
o papel de Paris enquanto
colaborador imperialista.
De 2012, quando
foi eleito, até ao presente
(março de 2015), François Hollande traiu
todos e cada
um dos seus
compromissos políticos:
os investimentos públicos
não se concretizaram e o desemprego
aumentou para mais
de 3 milhões. O seu
recém-nomeado Ministro da Economia Emmanuel Macron, ex-sócio do Banco Rothschild, reduziu drasticamente os impostos das empresas
em 50 mil
milhões de euros.
O seu recém-nomeado Primeiro-Ministro
Manuel Valls, um fanático
neoliberal, implementou grandes cortes em programas sociais,
enfraqueceu a regulamentação governamental das empresas
e bancos e corroeu a segurança
no emprego. Hollande nomeou Laurence
Boone do Banco da América como seu principal assessor económico.
O “Presidente Socialista”
Francês enviou tropas
para o Mali, bombardeiros
para a Líbia, conselheiros
militares para
a junta da Ucrânia e ajudou os chamados
“rebeldes” sírios
(na sua maioria
mercenários jihadistas). Assinou vendas de milhares
de milhões de euros
de material militar
para a monarco-ditadura da Arábia Saudita e renegou um contrato de venda de navios
de guerra à Rússia. Hollande juntou-se à
Alemanha na exigência de que o governo grego cumpra com
o pagamento total
e pronto da dívida
aos banqueiros privados
e mantenha o seu brutal
"programa de austeridade".
Como resultado
de ter defraudado os eleitores
franceses, traindo os trabalhadores e
abraçando banqueiros, grandes empresas
e militaristas, menos de 19% do eleitorado tem uma visão
positiva do governo
"socialista", colocando-o em terceiro lugar entre os principais partidos.
As políticas pro-Israel de Hollande e a sua linha dura nas negociações de paz
EUA-Irão, os ataques islamofóbicos do ministro Vall nos
subúrbios muçulmanos
franceses e o suporte a intervenções militares
contra movimentos
Islâmicos, têm polarizado crescentemente a sociedade
francesa e aumentado a violência
étnico-religiosa no país.
Grécia: transformação instantânea
do Syriza
Desde que
o Syriza ganhou as eleições gregas, em 25
de janeiro de 2015, até
meados de março,
Alexis Tsipras, o primeiro-ministro e Yanis Varoufakis, seu ministro
das Finanças nomeado, renegaram em rápida ordem o programa eleitoral.
Abraçaram as mais retrógradas medidas, procedimentos e relações
com a 'troika' (FMI, Comissão Europeia e Banco
Central Europeu)
que o Syriza tinha
denunciado no seu programa
de Tessalónica pouco tempo antes.
Tsipras e
Varoufakis repudiaram a promessa de rejeitar
os ditames da ‘Troika'. Por outras palavras,
aceitaram o domínio colonial e a continuação da vassalagem.
Típico da sua
demagogia e mentiras
foi a tentativa de encobrir
a sua submissão
à universalmente odiada 'Troika'
renomeando-a de 'a Instituição' – não enganando ninguém
a não ser a si próprios – e
tornando-se alvo de gargalhadas
cínicas dos seus supervisores
da UE.
Durante a campanha,
o Syriza tinha prometido cancelar
a totalidade ou
a maior parte
da dívida grega.
No governo, Tsipras e Varoufakis imediatamente asseguraram à Troika que reconheciam e prometiam cumprir
com todas as obrigações
da dívida.
O Syriza
prometera dar prioridade
aos gastos humanitários
em relação
à austeridade – aumento
do salário mínimo,
recontratação de funcionários públicos na Saúde
e Educação, aumento
das pensões. Após
duas semanas de bajulação servil, os "reformados” Tsipras e Varoufakis
deram prioridade à austeridade
– efetuando pagamentos da dívida e adiando mesmo
o mais magro
dispêndio anti pobreza.
Quando a Troika emprestou ao regime do Syriza 2 mil
milhões de dólares para
alimentar gregos
famintos, Tsipras elogiou os seus supervisores
e prometeu apresentar uma lista
de milhares de milhões
de "reformas" regressivas.
O Syriza
prometeu reexaminar as privatizações duvidosas do regime de direita anterior de empresas
públicas lucrativas, parar as privatizações em curso e
futuras. No governo, Tsipras e Varoufakis
rapidamente desmentiram essa promessa. Aprovaram
privatizações passadas, presentes e futuras.
De facto mostraram-se abertos
a conseguir novos
"parceiros" de privatização
oferecendo benefícios fiscais lucrativos
na venda de mais
empresas públicas.
O Syriza
prometeu combater o nível
depressivo de desemprego (26% nacional,
55% dos jovens), através
de gastos públicos
e redução de pagamentos da dívida. Tsipras e Varoufakis cumpriram obedientemente os pagamentos
da dívida e não
atribuíram quaisquer fundos à criação de postos
de trabalho!
Não só
o Syriza continuou as políticas de seus antecessores
de direita, mas
fê-lo também com
um estilo
e substância ridículos
assumindo posturas públicas ridículas e gestos inconsequentes demagógicos: num dia Tsipras coloca uma coroa
de flores no túmulo
de 200 partidários gregos
assassinados pelos nazis durante a Segunda
Guerra Mundial. No dia
seguinte rasteja diante
dos banqueiros alemães
e cede às suas exigências
de austeridade orçamentária,
sonegando fundos públicos
a 2 milhões de gregos
desempregados. Uma tarde, o ministro das Finanças Varoufakis posa para
uma foto publicada no Paris Match que o apresenta, cocktail na mão,
no terraço da sua
casa de cobertura
com vista
para a Acrópole;
e várias horas depois,
ele tem a pretensão
de falar para as massas empobrecidas!
Traição, engano
e demagogia tudo
durante os dois
primeiros meses de mandato,
o Syriza estabeleceu um recorde na sua conversão de partido
anti austeridade de esquerda num partido
conformista, vassalo servil da União Europeia.
A demanda de Tsipras à Alemanha para
que pague indemnizações por danos
causados à Grécia durante Segunda Guerra
Mundial – reclamação justa e devida há muito
– é outro estratagema
demagógico e falso concebido para distrair os gregos empobrecidos da cedência de Tsipras e
Varoufakis às presentes exigências de austeridade
alemãs. Um funcionário
cínico da União
Europeia disse ao Financial Times
(12/3/15, p. 6), "ele (Tsipras)
está a dar-lhes (militantes Syriza) um osso para lamber".
Ninguém espera que os líderes alemães alterem a sua
linha-dura por
causa de injustiças
do passado, muito
menos, porque
os seus interlocutores
têm os joelhos dobrados. Ninguém na UE toma
a demanda de Tsipras pelo
seu valor
facial. Veem isso mais
como retórica
'radical' vazia
para consumo interno.
Falar de reparações
alemãs com 70 anos
evita a tomada de ação
prática hoje,
de rejeição ou redução dos pagamentos de dívida
ilegítima aos bancos
alemães e de repúdio
dos ditames de Merckel. A traição transparente dos seus compromissos
mais básicos
para com o povo grego
empobrecido já dividiu o Syriza. Mais de 40% do comité central,
incluindo o presidente do Parlamento, rejeitou os acordos
Tsipras-Varoufakis com a Troika.
A grande maioria
dos gregos, que
votaram Syriza, esperava algum alívio imediato
e reformas. Estão cada vez mais
desencantados. Não esperavam que Tsipras nomeasse Yanis Varoufakis, um ex-assessor económico do corrupto
líder neoliberal do PASOK George
Papandreou, como ministro
das Finanças. Nem muitos
eleitores abandonaram o PASOK em massa, ao longo dos últimos
cinco anos,
apenas para encontrar os mesmos
cleptocratas e oportunistas sem escrúpulos em posições de topo no Syriza, graças
ao dedo indicador
de Alexis Tsipras.
Nem poderia
o eleitorado esperar
qualquer luta,
resistência e vontade
de romper com
a Troika a partir das nomeações de Tsipras de professores anglo-gregos expatriados. Esses esquerdistas de poltrona
(“seminaristas marxistas”)
nem se engajaram em
lutas de massas
nem sofreram as consequências da
prolongada depressão. O Syriza é um partido
liderado por profissionais,
académicos e intelectuais em ascensão. Eles governam sobre
(mas em
nome de) a classe
trabalhadora empobrecida e assalariados
da classe média baixa mas no interesse dos banqueiros
gregos e, especialmente,
alemães.
Dão prioridade à afiliação na UE sobre
uma política económica nacional independente. São fiéis à OTAN no apoio à
junta de Kiev na Ucrânia, nas sanções da UE à Rússia, na intervenção
da OTAN na Síria e Iraque, e mantêm um silêncio ruidoso em relação às ameaças
militares dos EUA à Venezuela!
Brasil: os cortes no orçamento, a corrupção e a revolta das massas
O governo do autodenominado Partido
dos Trabalhadores do Brasil, no poder há uns azarados 13 anos,
tem sido um dos regimes
da América Latina mais
afetado pela
corrupção. Apoiado por
uma das principais confederações
do Trabalho e várias organizações
de trabalhadores rurais
sem terra, e
partilhando o poder com
partidos de centro-esquerda e de
centro-direita, foi capaz de atrair dezenas de milhares de milhões
de dólares de capital financeiro, extrativo e do agronegócio. Graças a uma década
de acentuado desenvolvimento de bens e serviços
(commodities) no setor agromineiro, crédito fácil e
baixas taxas
de juros, o governo
aumentou a receita, o consumo e o salário
mínimo enquanto
multiplicava os lucros da elite económica.
Na sequência das
crises financeiras
de 2009, bem como
do declínio dos preços
dos bens e serviços,
a economia estagnou assim
que a nova
presidente Dilma Rousseff foi eleita. O governo de Dilma Rousseff, como
o do seu antecessor,
Lula da Silva, favoreceu o agronegócio face às reclamações de reforma agrária
dos trabalhadores rurais
sem-terra. O seu
regime apoiou os barões
da madeira e os produtores
de soja na usurpação de comunidades indígenas
e da floresta húmida amazónica.
Eleita para um segundo mandato,
Rousseff defrontou-se com importantes crises
políticas e económicas: o aprofundamento
da recessão económica, o défice fiscal, a detenção
e acusação de dezenas
de deputados federais
corruptos do Partido
dos Trabalhadores e seus
aliados e de executivos
da Petrobras. Os líderes do Partido dos Trabalhadores
e a tesouraria da campanha
do Partido receberam milhões de dólares em
propinas de empresas
de construção para
garantirem contratos com a gigante companhia petrolífera
semipública.
Durante a campanha
eleitoral, a presidente
Dilma Rousseff prometeu "continuar a apoiar programas sociais populares"
e "acabar com
a corrupção". No entanto,
imediatamente após
a sua eleição,
abraçou políticas neoliberais ortodoxas
e nomeou um gabinete
de neoliberais de extrema-direita, incluindo o banqueiro
do Bradesco Joaquin Levy como ministro das Finanças. Levy propôs reduzir
o subsídio de desemprego, as pensões e os salários
públicos. Defendeu uma maior desregulamentação
da Banca. Propôs enfraquecer
as leis de proteção
do Trabalho para atrair Capital.
Procurou alcançar um
excedente orçamental e atrair
investimento estrangeiro
em detrimento
do Trabalho.
Rousseff, coerente com o seu abraço da ortodoxia neoliberal, nomeou Katia Abreu, uma
senadora de direita, líder, ao longo
da vida, dos interesses
do agronegócio e inimiga jurada da reforma agrária,
como novo ministro da Agricultura.
Cognominada "Senhorita Desflorestação"
pelo Greenpeace, a senadora Abreu teve a oposição
veemente do Movimento
dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra
(MST) e da Confederação do Trabalho, sem resultado.
Com o apoio
total de Rousseff, Abreu traçou o caminho para acabar
até mesmo
com a minimalista redistribuição
de terras realizada durante
o primeiro mandato
de Dilma no governo (estabelecendo
povoamentos de terras que beneficiam menos
de 10% dos ocupantes sem terra). Abreu aprovou regulamentos que
facilitam a expansão de culturas geneticamente modificadas e promete expulsar à força índios da Amazónia que
ocupam terras produtivas, em benefício
das grandes corporações
do agronegócio. Além disso, promete defender vigorosamente
os proprietários das ocupações de terras
por trabalhadores
rurais sem
terra.
A incapacidade e/ou
falta de vontade
de Dilma para despedir e processar o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores,
envolvido num escândalo de milhares de milhões
de dólares de propinas e subornos ao longo
de uma década, aprofundou e ampliou a oposição das massas.
Em 15 março
de 2015 mais de um
milhão de brasileiros
encheu as ruas em
todo o país
liderados por partidos
de direita mas
atraindo o apoio das classes
populares exigindo julgamentos
anticorrupção imediatos e sentenças severas e a revogação
dos cortes de Levy em
gastos sociais.
A
contramanifestação de apoio a Dilma Rousseff
organizada pela confederação
sindical CUT e o MST atraiu um décimo desse número
- cerca de 100.000 participantes. Dilma
respondeu apelando ao "diálogo"
e afirmou estar "aberta
a propostas" sobre
a questão da corrupção, mas rejeitou explicitamente qualquer
mudança das suas
políticas fiscais
regressivas, das nomeações de neoliberais para o gabinete e adoção das
respetivas agendas agromineiras.
Em menos
de dois meses, o Partido
dos Trabalhadores e o seu Presidente
mancharam indelevelmente os seus dirigentes, políticas
e apoiantes com a vassoura
da corrupção e políticas
socialmente regressivas. O apoio popular
mergulhou a pique. A direita
está a crescer. Até
mesmo os ativistas
autoritários pró-golpe militar
estiveram presentes nas manifestações de massas,
carregando cartazes a pedir
o "impeachment" e o retorno a um regime militar.
Como na maior
parte da América Latina,
a direita autoritária
no Brasil é uma força crescente, posicionando-se para
tomar o poder visto que o
centro-esquerda adota uma agenda neoliberal em toda a região. Partidos
apelidados de "centro-esquerda", como
a Frente Ampla
no Uruguai, o pró-governamental Partido para a Vitória na Argentina,
estão aprofundando os seus laços com o capitalismo das corporações
agromineiras.
Afirmações
desinformadas de escritores norte-americanos de esquerda
como Noam Chomsky de que, "A América Latina
é a vanguarda contra
o neoliberalismo" estão, na melhor das hipóteses,
atrasadas uma década e são certamente
enganadoras. Eles estão iludidos por pronunciamentos
políticos populistas e recusam-se a reconhecer a decadência
dos regimes de centro-esquerda falhando,
por conseguinte,
no reconhecimento de que as ações políticas neoliberais desses regimes
estão a promover o descontentamento
popular de massas.
Regimes que
adotam políticas socioeconómicas
regressivas não constituem a vanguarda da emancipação
social...
Conclusão
Qual a explicação
para essas reversões
abruptas e promessas rapidamente
quebradas por recém-eleitos supostamente "partidos
de esquerda" na Europa e na América
Latina?
Tem-se vindo a esperar esse tipo de comportamento na América do Norte,
nos Democratas de Obama ou no Novo Partido Democrático
no Canadá… Mas fomos levados a crer que, em França,
com as suas
tradições republicanas vermelhas, um regime socialista apoiado (“criticamente”) por anticapitalistas
de esquerda pelo
menos implementaria reformas sociais progressivas.
Foi-nos dito por um exército de bloggers
progressistas que
o Syriza, com o seu
líder carismático
e retórica radical
iria, no mínimo, cumprir
as suas promessas
mais elementares
levantando o jugo da dominação da Troika e começando a acabar
com a miséria
e a fornecer eletricidade
para 300.000 famílias
à luz de velas.
“Progressistas” tinham-nos repetidamente dito que o Partido dos Trabalhadores
tirou 30 milhões da pobreza. Alegavam que
um “honesto
antigo trabalhador
auto" (Lula
da Silva) nunca permitiria que o Partido
dos Trabalhadores voltasse aos cortes neoliberais no orçamento
e abraçasse o seus supostos
“inimigos de classe”.
Professores de esquerda
dos EUA recusaram-se a dar crédito
ao roubo crasso
de milhares de milhões
de dólares do Tesouro Nacional
do Brasil sob o governo
de dois presidentes
do Partido dos Trabalhadores.
Várias explicações para essas traições políticas
vêm à mente. Em
primeiro lugar,
apesar das suas
reivindicações populares ou “obreiristas”, esses
partidos foram tomados por burocratas
sindicais, profissionais e advogados de classe média, organicamente desligados
das respetivas bases de massas. Durante
as campanhas eleitorais,
em busca
de votos, abraçavam brevemente
os trabalhadores e os pobres, e, em seguida, passavam o resto
do seu tempo
em restaurantes
caros a negociar
"acordos" com
banqueiros, outorgantes
de subornos de negócios
e investidores estrangeiros
para financiar a sua próxima eleição, a escola
privada dos seus
filhos e os apartamentos
de luxo das suas
amantes...
Durante um
tempo, quando
a economia estava a crescer,
os grandes lucros
das empresas, pagamentos
e subornos passavam de mão em mão a par de aumentos salariais e programas
de combate à pobreza.
Mas quando
a crise eclodiu, os líderes
"populares" descartaram o chapéu do partido
e declararam que “a austeridade fiscal
era inevitável”
enquanto iam com
os seus copos
mendigar junto
dos seus senhores
financeiros internacionais.
Em todos
estes países,
confrontando-se com tempos
difíceis, os líderes de classe
média da Esquerda
temeram o problema (crise
do capitalismo) e temeram a solução real
(transformação radical). Em vez disso,
voltaram-se para a "única
solução": aproximaram-se dos líderes capitalistas
e procuraram convencer as associações
empresariais e, acima
de tudo, os seus
senhores financeiros, de que eram "políticos
sérios e responsáveis"
dispostos a abandonar
as agendas sociais
e a abraçar a disciplina
fiscal. Para consumo doméstico
amaldiçoaram e ameaçaram as elites,
proporcionando um pequeno
teatro para entreter os seus seguidores plebeus,
antes de capitularem!
Nenhuns dos académicos que se tornaram líderes
de esquerda têm qualquer
ligação profunda
e duradoura com
a luta de massas.
O seu ativismo
envolve a leitura de artigos em
"fóruns sociais"
e a apresentação de trabalhos
em conferências
sobre “emancipação
e igualdade”. As traições
políticas e a austeridade
fiscal não
comprometerão as suas posições económicas. Se os partidos
de esquerda forem depostos por eleitores
irritados e movimentos sociais radicais,
os líderes de esquerda
fazem as malas e voltam para
os cargos confortáveis
de que são
titulares ou
regressam aos seus escritórios
de advocacia. Não
têm que se preocupar
com despedimentos em
massa ou
pensões de subsistência reduzidas. No seu lazer vão encontrar tempo para se sentar e escrever
um outro
artigo sobre
a forma como
a “crise do capitalismo”
minou a sua bem-intencionada agenda social ou como eles experienciaram a “crise
da Esquerda".
Devido à sua
desconexão do sofrimento dos pobres, dos eleitores
desempregados, os esquerdistas de classe média em funções são cegos para a necessidade de fazer uma
rutura com o sistema.
Na realidade, eles
compartilham a visão do mundo dos seus supostamente adversários
conservadores: também
acreditam que "é capitalismo ou caos”. Este
cliché emprestado passa por conhecimento
profundo sobre
os dilemas dos socialistas
democráticos. Os funcionários
e assessores esquerdistas de classe média recorrem sempre ao álibi
de “constrangimentos institucionais”.
“Teorizam” a sua impotência
política – nunca
reconhecem o poder dos movimentos
de classe organizados. A sua
cobardia política é estrutural e leva com facilidade a traições
morais: pleiteiam que
"crise não
é tempo de consertar
o sistema". Para
a classe média, "tempo" torna-se uma desculpa
política. Líderes
de classe média dos movimentos populares,
sem audácia
ou programas
de luta, falam sempre
de mudança... No futuro...
Em vez
de luta de massas,
eles correm para
lá e para cá, entre os centros de poder financeiro e os seus
comités centrais, confundindo "diálogos", que
terminam em submissão,
com resistência
consequente. No final, o povo pagar-lhes-á voltando-lhes as costas e rejeitando os seus
pedidos de reeleição
“para outra oportunidade”. Não
haverá outra oportunidade.
Esta “Esquerda” ficará desacreditada aos
olhos daqueles cuja
confiança traíram.
A tragédia é que toda a esquerda
ficará manchada. Quem pode acreditar nas belas palavras
de “libertação”, “a vontade
de esperança” e "o retorno da soberania
" depois de experimentar
anos do contrário?
As políticas de esquerda
serão perdidas para
toda uma geração,
pelo menos no
Brasil, França e Grécia. A Direita vai ridicularizar o fecho
aberto de Hollande; a falsa
humildade de Rousseff; os gestos ocos de
Tsipras e a frivolidade de Varoufakis. O povo amaldiçoará a sua
memória e traição
de uma causa nobre.
Original
em: http://www.globalresearch.ca/lies-and-deceptions-on-the-left-the-politics-of-self-destruction/5438105
Traduzido por CG
1 comentário:
E ser de esquerda hoje,nao ê ser anticapitalista?E quem tem todo o interesse em alimentar esta pseudo-esquerda?Havia aqui muito para reflectir...
Abraco e bom fim de semana
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