OS MENTIROSOS
COMPULSIVOS
“Rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira
de alguém se lavar”
Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley
Foi
um alívio.
Tinha que
haver uma causa. Não era possível que se
mentisse tanto e tão
frequentemente só pelo
simples prazer
de enganar os que
iludir se deixam.
Há
pois uma causa, uma
fortíssima razão para
que os mentirosos
compulsivos se comportem como tal, para sua salvaguarda e nosso
desespero. Essa pobre
gente tem ao nível
do cérebro diferenças
estruturais que justificam o seu comum comportamento.
O detetor de mentiras,
além de ultrapassado, não nos dá a razão pela qual se mente;
o polígrafo não
é uma arma contra
a patranha, não
determina se o paciente é ou não
estruturalmente um mentiroso,
limita-se unicamente a descobrir se, em determinadas circunstâncias,
se foge ou não
à verdade.
Podemos
colocar os mentirosos
em vários
patamares: os que
usam a mentira piedosa
que mitiga o sofrimento; aqueles que
empregam a mentirola inócua que, por vezes, nos
diverte; ainda os que
utilizam a peta defensiva,
tão comum
às crianças e aos fracos;
e finalmente “o mentiroso
compulsivo” que
não consegue expressar-se sem faltar à verdade,
como se de necessidade
física se tratasse, e sentindo também nesse seu
comportamento um
tão grande
bem-estar, uma tamanha
autossatisfação que sem
a mentira perderia o equilíbrio
psíquico.
É sobre este último grupo que a ciência
se debruça com afã,
procurando as bases neurológicas do seu comportamento,
enquanto que
os serviços de recrutamento para pastas
ministeriais e as centrais de manipulação dos media os disputam para
os colocar ao seu
serviço.
Os
neurologistas da Universidade da Califórnia do Sul
constataram que os mentirosos
patológicos têm mais
cerca de 20 por
cento de matéria
branca, em
relação à massa
cinzenta, o que lhes
dá mais rapidez
e maior complexidade de raciocínio; assim
sendo, não nos
espanta que
estes indivíduos
tenham o futuro assegurado em qualquer executivo governamental.
Tinha que haver
uma razão, não
era possível
que essas pessoas,
aparentemente normais,
não sofressem de uma qualquer deformação,
dado que uma vez chegados à
governação ou governança negassem com total desplante tudo
o que haviam defendido, repudiando o que então
tinham prometido com o maior dos à-vontades
e a mais desavergonhada
desfaçatez.
Essa
“massa branca”
que lhes
invadiu a matéria cinzenta coloca-nos
algumas questões, intriga-nos em suma. Que tipo de
bechamel é esse que
condiciona o carácter dessa gente? Que percentagem
de mordomias, lugares
altamente remunerados e tudo o mais que a ganância
pode imaginar esse
bechamel poderá conter?
Felizmente que a ciência os justifica sugerindo ainda
que se as suas
conclusões não
forem totalmente fiáveis, há ainda a possibilidade de haver
uma predisposição inata
para a mentira, ou seja, pode-se nascer mentiroso.
O paradoxo de Epiménides, ou
paradoxo do mentiroso,
é uma constante no palco
político do nosso
burgo; e para
quem possa ainda
albergar qualquer
dúvida repare nos
candidatos que
ora se apresentam, negando ou ocultando, o que
é um modo
encoberto de mentir,
toda a sua
participação nas leis que nos
constrangem e nas práticas que nos têm
ferido.
A mentira compulsiva
pode ser o indício
de um transtorno,
uma desordem crónica de comportamento ou
ainda uma predisposição
neurológica inata para
a mentira.
Com
um pseudólogo,
mentiroso compulsivo,
não é possível
argumentar, a aldrabice, o embuste,
a falsidade, a mentira
em suma
é das mais insidiosas armas de dominação
e os ingénuos as suas principais vítimas.
Compreende-se:
o mentiroso compulsivo
não tem sentimento
de culpa.
Somos
nós os culpados!
1 comentário:
Sinceramente, evitado dizê-lo, porque o sou sempre, confesso que já menti. Não desta vez. Gostei. Ou gosto. Mas não, sinceramente, aquele "gosto" fácil feicebuquiano.
Um abraço mentiroso... porque não se dá uma abraço sem os braços
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