surripiei daqui
COMUNICADO
AD LOCA INFECTA
Advertência do Comité Eleitoral
Cadáver na
urna
Se Cristo foi crucificado na
companhia de dois ladrões, o BPP/Bom Povo Português tem vindo a sangrar, a
expiar e a expirar no lenho por obra e graça do bando dos seis – ao que o
CE/Comité Eleitoral apurou – assumidos representantes do ICEA/Império
Cleptocrático Euro-Americano. O trio autóctone e o trio exógeno acertaram, sem
grandes discrepâncias e pruridos, o tempo de sanguessugar e o preço do
calvário. Periodicamente, o trio aborígene busca escudar-se no sufrágio das
vítimas, tudo fazendo e dizendo para que assumam as responsabilidades do
suplício. Estamos em período de auscultação do pulsar populi. Ninguém
cometa, pois, o pecado da incompreensão, da ingratidão e da hostilidade. Todo o
flagelado deve lamber o azorrague. Todo o cativo deve bendizer as grades. Toda
a ovelha se deve deixar ordenhar e tosquiar. Todo o fedor é de bode expiatório.
É dos códigos profanos. É dos livros sagrados. É dos ciclos de exploração
intensiva.
Excelentíssimo Cidadão,
Procure saber (atempadamente) onde
terá de depositar o boletim da sua cruz. Envergue a túnica das filas de
condenados e a coroa de espinhos mais lacerante. Se é pessoa dada a cortejos de
oferendas ou prendas no Dia dos Namorados ou se é de amores sofridos e já se
habituou à via penitencial – não vacile – ofereça os pregos aos seus algozes
para minorar as despesas da crucificação. A austeridade – isto é – o desapego
ou desapossamento das coisas terrenas, pressiona os sem-terra e sem-abrigo e
sem-emprego e sem-reforma e sem-cêntimo e sem-cabeça para que se martirizem por
terem abusado do bem-estar, confiados nos rendimentos mínimos dos tempos das
vacas gordas e loucas. A prosperidade a raros é reservada e assegurada. É da dura
lex da luta de classes, da distribuição da pobreza e da riqueza. Leia os
livros.
Excelentíssimo Cidadão,
Coloque a cruz ou o X nas
quadrículas. Nas exactas. Nas recomendadas pelo rotativismo situacionista. Nas
que garantem miséria, ignorância e medo como apólices do empreendedorismo sem
risco. Em caso de dúvida, confie nas expertices da Funerária Merkelusa. Só terá
que se preparar para um choque nasal. Há muito morto-vivo a exercer o direito
de decidir o destino das nações. Obviamente o seu e o deles. Facto conhecido e
reconfirmado. Pelo menos desde o séc. XVIII: O Reino da Estupidez.1
Realmente a frincha do Dia do Juízo exala o característico cheiro loco
dolenti.2 O parfum é inconfundível. Tem marca registada. Pelo menos
desde o séc. XVIII: Reino Cadaveroso.3 Tem estudo de caso. Pelo menos
desde o séc. XX: Peregrinatio ad Loca Infecta.4
Para os convertidos à pestilência
basta um lenço.
Os demais terão de replicar à peste
com a cólera.
1. Poema de Francisco de Melo Franco
(1757-1823). Intelectual iluminista do período pós-pombalino. Perseguido pela
Inquisição, foi internado num hospício de loucos para não perturbar a Ordem da
Tacanhez.
2. Loco dolenti. Sítio dolente.
3. Expressão de António Nunes Ribeiro
Sanches (1699-1783). Médico, cientista, filósofo. A figura mais cosmopolita do
Portugal de então: a sua aura ia de Paris a Moscovo. Naturalmente sofreu as
sanhas do Santo Ofício. Entre os transes que foi chamado a diagnosticar e a
tratar (no Ocidente e no Leste), contavam-se as febres pestilentas.
4. Poemas de Jorge Cândido Alves
Rodrigues Telles Grilo Raposo de Sena (1919-1978). Olfacto de exílio.
CÉSAR PRÍNCIPE
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