Assinatura
do acordo de formação do governo do Bloco Central, entre Carlos Mota
Pinto e Mário Soares
'viva a contra-revolução!'
Carta a - Mário Soares:
Está a grande
desvergonha consumada. Acabo de ouvi-lo pela Televisão,
pedir o auxílio
de todos os Portugueses. Como cidadão
honrado que sempre
fui, acudo ao seu apelo,
sem com
isso pretender,
de modo nenhum,
reatar quaisquer relação
consigo. Quero apenas,
ao que lhe
disse na carta que
a pôr-lhes cobro lhe escrevi há tempos, acrescentar alguma coisa. Deve ir em sete anos, tive a higiénica necessidade
de afirmar no Teatro
Vasco Santana, cheio
à cunha, que,
quanto a mim,
você jamais fora sequer antifascista,
mas apenas
anti-salazarista, e pela razão única de
o Salazar ocupar o lugar
que lhe
era devido
a si, por
desde muito
jovem a ele
ter aspirado.
Para satisfazer as sus insaciáveis
ambições, digamos de passagem que até algo
ridículas, não se poupa você,
nem poupa a Nação,
e olhe que é a Nação
e não o País
como a sua
crassa ignorância
teima em
dizer, às suas
sujidades. Pela sua
política, já
você foi o chasco dos seus
primeiros parceiros
governamentais da direita.
Chasco o há-de ser por
igual dos segundos.
Lembre-se do que lhe
vaticino. Aliás, o achincalhe
é já evidente.
Desaparecida, por exemplo,
na Televisão a sua
imagem, logo
nela apareceram as dos seus novos comparsas,
adversários apregoados da véspera, com sinais inequívocos
de gáudio e de chacota.
Nem foi essa, muito
longe disso, a primeira
vez que
tal aconteceu. Achincalhado o tem sido você ali por mais de uma
ocasião, por
grosseirões e grosseironas, alcandorados pela
mediocridade charra dos nossos reaccionários a importantes
figurões.
E aqui
perguntará Você ao que
venho eu exactamente. É simples. É-me indispensável,
posto que
a saúde física
me está faltando, mostrar-lhe uma vez mais ao menos que a moral a continuo a ter sólida. Por isso lhe afirmo
que, quanto
me lembro, acaso
haver sido seu
amigo seja a recordação de toda a minha vida que me causa maior repugnância.
E como é crível
não durar eu muito e, por outro lado o considero, pelo seu amor da
evidenciação a todo o propósito,
capaz, quando
eu morrer,
de pensar comparecer ao meu enterro, gravemente lhe
declaro esperar que
minha mulher,
como última
prova de afecto, nesse caso
o escorrace da minha presença
inerte.
Armindo Rodrigues
Lisboa, 27 de Maio
de 1983
P.S. – É claro
que me
reservo o direito de utilizar
esta carta como
entender.
Retrato de
grupo com elementos do Governo do Bloco Central, Mota Pinto está à direita de
Soares
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