Um
texto honesto no DN
Edgar Silva em Mangualde
| NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA
Peugeot/Citroen.
"Aqui dentro sofre-se muito", denunciou coordenador da comissão de
trabalhadores, um presidente de junta eleito pelos sociais-democratas, que
deixou críticas a Cavaco Silva
Começou timidamente a ação de
campanha à porta das instalações da Peugeot / Citroen em Mangualde, distrito de
Viseu. "Aqui um camarada foi despedido porque questionava demais",
comentava-se na organização, enquanto avisava os jornalistas que iria ser
"difícil" que algum dos trabalhadores se disponibilizasse a falar.
"Há muita precariedade e muito medo", dizia-se. O PCP quis, com esta
ação de campanha alerta para a precariedade e para o banco de horas em uso na
fábrica, que causa "total desregulação" dos horários de trabalho.
Boa parte dos operários, de facto,
passou velozmente, cabeça baixa, alguns pegando discretamente nos panfletos que
Edgar Silva lhe passava. Mas, a certa altura, o inesperado aconteceu,
surpreendendo até o candidato comunista. Um trabalhador parou em frente a Edgar
Silva e olhos nos olhos, sem qualquer receio das palavras nem das câmaras,
declarou: "É o primeiro candidato a vir aqui, sabemos que conhece bem os
nossos problemas e que tudo faz para os resolver. Sei que defende os
trabalhadores. Há quem venha só para a fotografia. É muito importante ter
alguém na Presidência da República que conheça verdadeiramente os nossos
problemas. Infelizmente nos últimos anos temos sido muito maltratados pelo
atual Presidente da República", começou por salientar.
Edgar Silva sorriu sinceramente e
agradeceu. "É muito importante para nós o que está a dizer, valorizamos
muito. Posso dar-lhe um abraço?" perguntou. E veio o abraço forte de Jorge
Abreu que se apresentou, entretanto, como coordenador da Comissão de
Trabalhadores, explicando assim a "liberdade de expressão". Mas não
disse o mais inusitado e que se veio a saber a seguir, através de alguns
apoiantes locais do PCP, que ali se encontravam. Abreu é presidente da junta de
freguesia de Santar, Nelas, eleito nas listas do PSD. Questionado pelos
jornalistas, frisou que era "independente, sem filiação" e que
"apenas estava a falar enquanto representante dos trabalhadores". Mas
aproveitou os holofotes mediáticos para dizer mais, para denunciar como era a
vida naquela fábrica, numa oratória muito mais comum entre os comunistas.
"Ali dentro daquelas quatro paredes sofre-se muito. É trabalhar,
trabalhar, trabalhar. Pagar, não!", sublinhou. "Estamos a trabalhar
mais uma hora por dia, sábados, domingos e não recebemos nem mais um tostão. É
insustentável. Está-se a por em risco a vida das pessoas. O nosso trabalho tem
tanta qualidade e intensidade como os nossos colegas em França ou em Espanha e
ganhamos um terço dos franceses e metade dos espanhóis. Temos agora 750
trabalhadores que fazem o trabalho que antes era feito por 1350 e ainda querem
aumentar mais a produção. Se isto não é explorar a mão de obra o que
será?", interrogou-se. E deixou um aviso sério à administração,
prometendo, "caso não haja diálogo com os trabalhadores" algumas
"medidas drásticas", entre as quais a "greve e a paralisação da
fábrica".
Edgar Silva não podia ter tido
melhor neste quinto dia de campanha, dedicado à denúncia da precariedade e
exploração no trabalho. "Reconhece da minha candidatura os compromissos
consequentes na defesa dos direitos dos trabalhadores e considera que o atual
Presidente não o faz. Congratulo-me com isso, porque é verdade", afirmou.
O candidato comunista lamentou que "nos últimos anos tivesse siso aprovada
muita legislação que veio precarizar o trabalho" e deixa o compromisso de
"vetar qualquer diploma, venha do governo ou da assembleia da república,
que atente contra os direitos dos trabalhadores. Os trabalhadores não são
escravos, nem são moldados para ser servis. Têm direito à vida, às suas
famílias, a atividades culturais".
1 comentário:
O que se sente na pele,nem sempre serve para despir preconceitos.Eu,como autarca,já me tenho deparado com discursos sinceros de esquerda de presidentes de Freguesia,mulheres,e depois venho a saber que são eleitas pelo PSD.Abraço
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