(Rita Salomé Esteves)
O cartaz do Bloco de Esquerda
O
Bloco de Esquerda é um partido típico de esquerda-caviar, convivendo com o
sistema capitalista, mas proclamando um absoluto radicalismo de esquerda, quase
sempre inconsequente. É assim que enquanto o PCP defende uma rutura efetiva,
começando pela nacionalização da economia e acabando na saída do euro, o Bloco
se fica pelas “medidas fraturantes”, que podem escandalizar algumas pessoas,
mas que a generalidade da sociedade encara com indiferença. A sua aprovação
serve sempre, no entanto, para o Bloco de Esquerda cantar provisoriamente
vitória, no que é acompanhado pela ala esquerda do PS, até se lembrar da
próxima medida ainda mais “fraturante”, com a qual pode estar entretido mais
algum tempo.
Foi
assim que o Bloco, aproveitando a oportunidade que Cavaco Silva lhe deu de
festejar pela segunda vez a adoção por pessoas do mesmo sexo, resolveu
aproveitar os festejos para fazer um cartaz a parodiar a imagem de Cristo. Aí
está um erro em que o PCP nunca cairia, uma vez que nunca lhe interessou
repetir as guerras que a i República travou com a Igreja Católica. Mas o Bloco
não tem essa experiência, e como continua a seguir a doutrina marxista de que a
religião é o ópio do povo, não vê problema nenhum em ser engraçadinho com os
sentimentos religiosos dos outros.
Álvaro
Cunhal falava, a este propósito, do radicalismo pequeno-burguês de fachada
socialista. Em qualquer caso, o que se pode perguntar é se um partido que
alinha nestas chalaças merece alguma credibilidade como sustentáculo de um
governo.
Luís Menezes Leitão
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
In-Jornal i
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