PORQUE SOU
COMUNISTA
A minha adesão ao partido comunista é a
evolução lógica de toda a minha vida, de toda a minha obra. Porque, e estou
orgulhoso de o dizer, nunca considerei a pintura como uma arte de simples
prazer, de distracção; quis, através do desenho e da cor, pois estas eram as
minhas armas, ir sempre mais avante no conhecimento dos homens e do mundo, para
que esse conhecimento nos liberte um pouco mais todos os dias; tentei dizer, à
minha maneira, o que considerava mais verdadeiro, mais justo, melhor, e isso
era, naturalmente, sempre o mais belo – os maiores artistas sabem-no bem.
Sim, tenho consciência de ter sempre
lutado pela minha pintura como um verdadeiro revolucionário. Mas agora percebi
que isso não basta; estes anos de terrível opressão mostraram-me que eu devia
não apenas combater com a minha arte, mas também todo
eu …
Então fui ao encontro do partido
comunista sem a menor hesitação, pois no fundo estive sempre com ele. Aragon,
Éluard, Cassou, Fougeron, todos os meus amigos o sabem bem; e se ainda não
tinha aderido oficialmente era de certo modo por “inocência”,
porque acreditava que a minha obra e a minha adesão de coração eram
suficientes, mas era já o meu partido.
Não é ele que mais trabalha para conhecer e construir o mundo, para tornar os
homens de hoje e de amanhã mais lúcidos, mais livres, mais felizes? Não foram
os comunistas os mais corajosos tanto em França como na URSS ou na minha
Espanha? Como poderia hesitar? Medo de me comprometer? Mas nunca eu me senti
tão livre, pelo contrário, senti-me mais completo! E além disso, eu tinha tanta
pressa de encontrar uma pátria: sempre fui um exilado, agora já não o sou; à
espera que a Espanha possa enfim acolher-me, o partido comunista francês
abriu-me os braços, e aí encontrei todos aqueles que mais estimo, os maiores
sábios, os maiores poetas e todos aqueles rostos de insurrectos parisienses tão
belos, que vi durante os dias de Agosto. Estou de novo entre os meus irmãos.
L’Humanité,
29-30 Outubro 1944
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