quarta-feira, 27 de setembro de 2017

TREPADORES, ARRIVISTAS E “CHICO-ESPERTOS” - A CULTURA DO ESFORÇO ALHEIO

TREPADORES, ARRIVISTAS E “CHICO-ESPERTOS”

A CULTURA DO ESFORÇO ALHEIO

(tradução de Armando Pereira da Silva)

Rebelión/Instituto de Cultura y Comuninación UNLa

É muito antigo o ofício de escalar montanhas alheias apoiado em sucessos de outros. É velha a “arte” de chico-espertos treinados para viajar no “sidecar” da história. (Jorge Falcone dixit). Há milhares de metáforas exemplificadoras dessa mania perversa que consiste em “chupar o sangue” de alguém que, por bondade ou por idiotice, o permite. Quem o viu bem claro, ao que parece, foi Bram Stoker com o seu Drácula já em 1897. Talvez uma espécie de crítica à cultura dominante.

A História está cheia de episódios terríveis produtos do cálculo frio, da conveniência do momento, do saber estar imóvel no lugar e no momento correcto para desfrutar as delícias do esforço que outros fazem e (não poucas vezes) sepultá-lo no esquecimento para se vestir de glórias espúrias. Trepadores, arrivistas e chico-espertos cultivam a arte da pilhagem. Instalam-se assolapados em lugares estratégicos para irem recolhendo o que escorre do trabalho alheio e, a pouco e pouco, apoderarem-se de porções cada vez maiores do “ cozinhado”. É Alfredo Salmón que o diz: isto está no coração da psicanálise.

São expressão em miniatura do capitalismo que eles condensam na sua conduta como chave do individualismo, o que a burguesia faz com as massas: viver do trabalho alheio. A sua encarnação de certa moral pútrida que só celebra quando encontra presas enormes sem ter de fazer esforços enormes. São sevandijas que medram em todos os recantos da vida diária agarrados à esperança de encontrarem alguém que trabalhe muito para o exprimir sem muito esforço.

Na sua lógica, os trepadores, arrivistas e chico-espertos mordem o próprio rabo porque o seu único destino é serem medíocres. Não fazem esforços maiores nem para terem maiores “benefícios” do que aqueles que a sua comodidade e miséria lhes permitem. Carraças distribuídas por todos os âmbitos sociais (desde as ciências às artes) sem omitir a política onde costumam florescer sempre que nascem novas lideranças capazes de refrescar a confiança dos povos.

Manuseiam tudo o que podem, fazem malabarismos com o alheio até imporem a ideia de que aquilo de outros é-lhes próprio e, para isso, fertilizam o seu campo de acção com doses generosas de ambiguidade e indefinição. Costumam dizer que “nada é de ninguém”, agrada-lhes o relato de “as ideias são de todos” (especialmente se mais cedo ou mais tarde podem apropriar-se delas). Têm discursos comoventes em matéria de “tornar comuns todas as coisas” e são naturalmente campeões em retóricas que prometem pouco esforço para grandes dividendos.

Transportam a sua moral de sanguessuga para esses pequenos mundos gerenciais a que a burguesia chama “política” e é sua qualidade o ir e vir de uma fonte a outra, carreando para a sua madrigueira ideológica as prendas usurpadas que disfarçam de “progresso”. Isso deve-se a que o conservadorismo os incomoda não pela sua base conceptual, mas pelo esforço necessário para manter vivas as suas múmias ideológicas. Costumam ser campeões do ecletismo.

A pós-modernidade tornou-os cínicos e hoje julgam que são uma “tendência” exemplificadora do “ser vivo” e “sagaz” para se viver mais facilmente num mundo cheio de complicações. Assim, há desenhadores de moda, publicistas, filósofos, jornalistas, ideólogos e clérigos... que proclamam aos quatro ventos as vantagens de criar o ”novo” tomando “o melhor de cada coisa”, mesmo que se tivesse de apagar da história o criador da coisa “tomada”.  Parasitas, tal e qual.

Mas os trepadores, arrivistas e chico-espertos também se atacam entre si. É o cúmulo. Por exemplo, um “repórter” (que se diz jornalista) incapaz de redigir uma nota, por mais simples que ela seja, encontra a maneira de tornar-se visvel﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽a a maneira de tornar-se  seja, encontra a maneira de torn ar-se elas), o que a burguesia faz como chave de massas:ível entrevistando outro arrivista que, por sua vez, é incapaz de desenhar uma jarra de flores mas que misturou, daqui e dali, o que usurpou de uma tendência estética dominante. Enxame de mediocridades que tem “grande audiência” entre os seus milhares de parceiros no caldo de cultura neoliberal onde é melhor “investir a prazo”  do que investir em produzir. Chico-espertos financeiros. Abundam no planeta inteiro. Burla disfarçada de ajuda.
Da sua “peleja” interna extraem os trepadores, arrivistas e chico-espertos moralidades que lhes facilitam a compreensão da vida fácil. Convertem-nas em “slogan” e vendem-nas em livros, cátedras, cursos de ”auto-ajuda” ou manuais de publicidade enganosa. Fazem do seu pensar elementar um corpo de filosofia barata “ao alcance de todos”. São eles os divulgadores principais do facilitismo que pretende afirmar que os povos s Verbigracia si e para pos da sua estirpe.enefo conquita admiraços povosdue  lhes facilitam a compreensó entendem o fácil. Levantam-se da sua tumba as civilizações Maia e Azteca. Um grande arrivista, trepador e chico-esperto é motivo de admiração entre os seus quando, à sombra de uma obra excepcional consegue benefícios enormes para si e para os da sua “estirpe”.  Verbigracia Pinochet. E tantos como ele.

Não há limites para os trepadores, arrivistas e chico-espertos. Tudo é possível se for fácil. Tudo é susceptível de ser infectado com a sua moral de mosquito para se entregar às delícias dos êxitos alcançados por outros. Não é uma epopeia, não pode sê-­lo porque exige esforço, é – dito de outro modo – o lirismo da codícia agachada num individualismo mesquinho e arrepiante. A patologia social e pessoal dos que são incapazes de inventar a sua gesta própria ou colectiva. Por conveniências ou por medos, por medíocres ou por acomodados, por “espertos” ou por traidores. Costumam ser, eles e elas, meticulosos em arrumar nas suas madrigueiras “alimento” suficiente enquanto hibernam no trabalho de outros; costumam ser especuladores, calculistas, comedidos e oferecidos até ganharem a confiança de onde medrarão por sistema. Costumam ser muito “caladinhos”. Põe-te à defesa e denuncia-os. (1)

No mapa ideológico complexo que o capitalismo desenvolveu, registam-se híbridos e mutações de trepadores, arrivistas e chico-espertos que envolvem e penetram os povos – e os indivíduos - para cumprirem as ambições supremas do mercado. O capitalismo criou as suas próprias pragas e parasitas – de baixo custo – para acelerar o trânsito ideológico dos valores burgueses convertidos em resignação, derrota, medos e consumismo nas cabeças dos povos. São formas da anti-política, do anti-comunitarismo, do anti-socialismo, do anti-esforço... metamorfose do abuso sobre o trabalho de outros e da cultura do despojo... por todos os meios. E que nos fazem perder demasiado tempo.

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