Critérios
Por
Gustavo Carneiro
Há uns anos, o então director de
informação da SIC, Emídio Rangel, garantiu que um canal de televisão com grande
audiência seria capaz de vender um Presidente como quem vende sabonetes. Em
Portugal como em vários outros países, já se viu como essa afirmação tem razão
de ser…
Os jornais e noticiários de
segunda-feira acordaram sobressaltados com a eleição de um deputado do Chega.
Portugal, dizem-nos, deixou de ser o que era até ao passado domingo: um dos
poucos países europeus sem representação parlamentar da extrema-direita.
Alguns, confrontados com a eleição de André Ventura, foram até procurar ao
programa eleitoral do Chega e – pasme-se! – descobriram propostas de arrepiar.
Mas nenhum desses órgãos de informação
perdeu nem um segundo a reflectir sobre as suas próprias responsabilidades (ou
melhor, de quem em si manda) na produção da criatura. De facto, quem era André
Ventura até passar a ter assento regular na televisão para falar de futebol? Um
perfeito desconhecido. Daí à polémica candidatura à Câmara Municipal de Loures
(pelo PSD, é bom não esquecer) foi um pulo. O percurso subsequente, conhecido,
foi sempre acompanhado de câmaras, microfones e considerável tempo de antena.
Mas se as eleições são capazes de
vender sabonetes – ou, no caso, deputados – também fazem o oposto. O caso do
Partido Ecologista «Os Verdes» é, a este título, paradigmático. A vontade de
apagar os seus representantes, propostas e actividade é tal que o jornalista
Carlos Vaz Marques (CVM), na madrugada de segunda-feira, celebrou na sua conta
de Twitter a saída de cena – no caso, da Assembleia da República – da «ficção
que sempre foram os Verdes». Não sabia, nem lhe interessou saber, que o
PEV saiu das eleições de domingo com o seu grupo parlamentar intacto, fruto da
eleição de dois deputados: Mariana Silva, por Lisboa, e José Luís Ferreira, por
Setúbal.
Como outros, CVM também não soube
que durante os últimos 37 anos existiu em Portugal um partido ecologista,
nascido das lutas das populações em defesa da floresta, dos rios, da qualidade
do ar, da paisagem, a quem se deve a colocação na agenda política de
importantes questões ambientais. Antes, muito antes, do «planeta» estar na
moda. Aliás, foram exactamente os mesmos que durante décadas remeteram «Os
Verdes» e a actividade dos seus deputados para a mais completa obscuridade que
vieram agora lamentar a saída de Heloísa Apolónia da Assembleia da
República . Arrependimento? Não, hipocrisia, pois no Prós & Contras de
segunda-feira apenas uma força política com assento parlamentar não esteve
representada. Qual? O PEV.
São estes critérios jornalísticos
que ajudam – e muito – a explicar os Chegas e os PAN’s desta vida.
1 comentário:
Não tenhamos dúvidas que os Pan's e os Chegas são uma mercadoria inflacionada pela perversão desinformativa.Abraço
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