sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Critérios Por Gustavo Carneiro



Critérios

Por Gustavo Carneiro

Há uns anos, o então director de informação da SIC, Emídio Rangel, garantiu que um canal de televisão com grande audiência seria capaz de vender um Presidente como quem vende sabonetes. Em Portugal como em vários outros países, já se viu como essa afirmação tem razão de ser…

Os jornais e noticiários de segunda-feira acordaram sobressaltados com a eleição de um deputado do Chega. Portugal, dizem-nos, deixou de ser o que era até ao passado domingo: um dos poucos países europeus sem representação parlamentar da extrema-direita. Alguns, confrontados com a eleição de André Ventura, foram até procurar ao programa eleitoral do Chega e – pasme-se! – descobriram propostas de arrepiar.
Mas nenhum desses órgãos de informação perdeu nem um segundo a reflectir sobre as suas próprias responsabilidades (ou melhor, de quem em si manda) na produção da criatura. De facto, quem era André Ventura até passar a ter assento regular na televisão para falar de futebol? Um perfeito desconhecido. Daí à polémica candidatura à Câmara Municipal de Loures (pelo PSD, é bom não esquecer) foi um pulo. O percurso subsequente, conhecido, foi sempre acompanhado de câmaras, microfones e considerável tempo de antena.

Mas se as eleições são capazes de vender sabonetes – ou, no caso, deputados – também fazem o oposto. O caso do Partido Ecologista «Os Verdes» é, a este título, paradigmático. A vontade de apagar os seus representantes, propostas e actividade é tal que o jornalista Carlos Vaz Marques (CVM), na madrugada de segunda-feira, celebrou na sua conta de Twitter a saída de cena – no caso, da Assembleia da República – da «ficção que sempre foram os Verdes». Não sabia, nem lhe interessou saber, que o PEV saiu das eleições de domingo com o seu grupo parlamentar intacto, fruto da eleição de dois deputados: Mariana Silva, por Lisboa, e José Luís Ferreira, por Setúbal.

Como outros, CVM também não soube que durante os últimos 37 anos existiu em Portugal um partido ecologista, nascido das lutas das populações em defesa da floresta, dos rios, da qualidade do ar, da paisagem, a quem se deve a colocação na agenda política de importantes questões ambientais. Antes, muito antes, do «planeta» estar na moda. Aliás, foram exactamente os mesmos que durante décadas remeteram «Os Verdes» e a actividade dos seus deputados para a mais completa obscuridade que vieram agora lamentar a saída de Heloísa Apolónia da Assembleia da República . Arrependimento? Não, hipocrisia, pois no Prós & Contras de segunda-feira apenas uma força política com assento parlamentar não esteve representada. Qual? O PEV.

São estes critérios jornalísticos que ajudam – e muito – a explicar os Chegas e os PAN’s desta vida.

1 comentário:

Olinda disse...

Não tenhamos dúvidas que os Pan's e os Chegas são uma mercadoria inflacionada pela perversão desinformativa.Abraço