Depoimento, ao correr da pena, de alguém que considero:
«Esta [aldeia] foi a primeira de
muitas a ficar despovoada, a aldeia mais próxima só já tem 1 habitante e um
bocadinho mais ao lado, outra, só já tem um casal de idosos, e muita outras
para lá caminham. Quando visitei a aldeia que tem um casal de idosos, uma
aldeia também isolada no meio da serra, contou-me um caso que demonstra a
humildade desta gente. A única visita que têm na aldeia, é do padeiro que vai
lá uma vez por semana. O homem do casal, em geral anda pelo monte a tratar das
poulas. A mulher fica a tratar da lide da casa. Num certo dia de ir lá o
padeiro, enquanto a senhora esperava por ele, teve um AVC, quando chegou o
padeiro, chamou o 112. Sorte da senhora ser dia de padeiro, senão só no final
da manhã, quando o marido regressasse a casa é que tinha assistência. Mas
perguntei ao homem do casal se o 112 tinha demorado muito a chegar lá, e ele
respondeu-me que não, que tinham sido muito rápidos, passada 1H30 depois de os
chamarem, eles chegaram! e o casal ficou-lhes eternamente agradecido pela
rapidez do socorro... e o hospital mais próximo para estes casos, fica-lhes a
90km, 40 dos quais por estradas secundárias. E é por estas e por outras que
este povo abandona as suas aldeias.»
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Fernando
Pessoa
1 comentário:
Muito a propósito:"este fulgor baço da terra/que é Portugal a entristecer"define muito bem a imagem do texto.São velhos e poucos,não têm expressão eleitoral,por isso não é preocupação dos dirigentes dos partidos do centrão.Abraço
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