Independências
São tantas as juras que uma pessoa até desconfia: os órgãos de comunicação social de referência produzem um jornalismo independente, isento, objectivo e imparcial, garantem-nos quase diariamente os patrões dos principais jornais e revistas, estações de televisão e de rádio, por intermédio de algumas das suas mais públicas figuras. Colocando-se acima da sociedade – e, portanto, das suas contradições, dos seus conflitos e dos interesses em presença (e em disputa) –, observam a realidade com notável clareza, em toda a sua pureza, sem interferências mundanas ou subjetivismos.
Pelo menos é o que nos dizem...
A fazer fé nesta forma de ver as coisas, será a imparcialidade a determinar a quase completa exclusão dos comunistas dos painéis de comentadores televisivos ou das colunas de opinião dos jornais, mesmo quando o assunto em debate é o PCP, ou pelo menos o que dele se diz. Como a objectividade justificará que nunca se questione o que vem da União Europeia (a Europa, como dizem) e se passe totalmente ao lado dos efeitos das suas imposições na degradação dos serviços públicos, na destruição do sector produtivo, na contenção salarial.
Seguramente em nome da isenção insiste-se na tese da ameaça russa na fronteira com a Ucrânia, ao mesmo tempo que se ignora as dezenas de bases militares da NATO nos países da Europa de Leste, os milhares de militares, os sistemas de mísseis ofensivos. Seriam assim tão isentos se se estivesse a falar de bases russas no Canadá ou no México?
E o que poderá explicar uma certa visão da China, determinada certamente pelos comunicados da Casa Branca, que exacerba o desenvolvimento militar do país asiático na exacta medida em que passa ao lado do facto inquestionável de que são os EUA quem mais ameaça a paz, assumindo sozinhos 40% das despesas militares mundiais e possuindo centenas de bases espalhadas pelo mundo e um sangrento currículo de invasões, guerras e bloqueios?
Que o rigor, a honestidade e o estrito respeito pelas regras da deontologia profissional norteiam a prática da grande maioria dos jornalistas restarão poucas dúvidas. Por mais excepções que possam existir, e existem, não é aí que reside o problema fundamental. Detidos por grandes grupos económicos com ligações ao capital financeiro, os órgãos de comunicação social são no essencial a voz destes mesmos interesses, dominantes na sociedade.
Mais valia assumi-lo.
1 comentário:
De todos os Órgãos de Saturação Social o que mais me satura é a RTP porque devendo ser neutra ao serviço do Povo arvora-se frequentemente ao serviço do salazarismo/fascismo impunemente.
Enviar um comentário