“Congresso Democrático das Alternativas”
"Resgatar Portugal para um futuro decente"
“Envolver a Sociedade Civil”
5 de outubro de 2012
São, na generalidade, pessoas bem instaladas
na vida, com elevados graus académicos
e investigadores de méritos
reconhecidos. Alguns são denodados estudiosos dos movimentos da classe
trabalhadora com o interesse e a curiosidade do biólogo debruçado sobre os instrumentos de trabalho e que, análise feita, publicita em revistas da especialidade os resultados do seu labor. Podem aparecer como observadores nas manifestações de protesto, tomando notas sobre o comportamento da plebe
insatisfeita, sem nunca levantar a voz e muito menos o punho. De discurso fluente, olham com displicência os que com dificuldade expõem os seus anseios e propósitos. Já ouviram falar da fome e
concluíram, após aprofundada investigação não
experimental, que deve ser difícil de suportar e supõem que viver com o salário mínimo não será fácil. Como sempre acontece,
há as exceções que dão ainda mais visibilidade à regra.
De trajetória partidária instável, vão procurando com mais ou menos visibilidade o seu nicho de classe. E, falsos modestos,
procuram dissimular a atração pelas luzes da ribalta que lhes iluminam o
protagonismo e nutrem o ego. Se os mídia,
nomeadamente a televisão, por distração os ignora,
o que raramente acontece,
sentem-se descriminados e insurgem-se com vigor.
O desemprego alastra e a miséria e outras ameaças daí
decorrentes começam a galgar as ameias dos seus castelos de conforto que supunham invioláveis. Por mais bizarro que nos possa parecer, muitos dos signatários de um tal “programa”, recentemente divulgado,
têm participado no crime social contra o qual, supostamente, e só agora se
insurgem, e outros há que assistiram
a todas as maquinações a que temos estado sujeitos sem expressarem
a mínima perturbação.
Os protagonistas promotores destas manifestações cíclicas
encontram-se emparedados entre os grandes senhores que, desde sempre, vêm
servindo, mas que já não lhes oferecem total confiança, e aqueles que denominam por
desprotegidos e que cada vez mais engrossam a
revolta, que se
revoltem, pois, é natural que assim seja e até lhes pode servir, mas que nunca o façam de modo organizado
seria relegá-los para um humilhante plano secundário, e, lá do alto dos seus profundos conhecimentos, na maioria são professores universitários, têm dificuldade em admitir que os trabalhadores se consigam
emancipar sem que por eles sejam
conduzidos.
Nos meses de verão
desarticulam-se as movimentações de protesto mas continua a levedar a indignação, e
aproveitando este afrouxar, o patronato e os governadores do
protectorado em que vivemos,
dão mais umas voltas no garrote dos que já mal podem respirar. Setembro é o mês das famílias fazerem o balanço dos “deve e
haver” e, cercadas no lamaçal para onde as
arrastaram, procuram libertar-se.
É certo que, na sua quase totalidade, os signatários do programa, uma espécie de
apanha-moscas nas antigas mercearias de bairro, não sabem o que seja uma greve e nem calculam o esforço necessário para a organizar ou os riscos que correm aqueles que nela
participam. No entanto, estas vibrações são sentidas nos meios intelectuais atentos ao pulsar social, e no ambíguo e amplo leque ideológico e
sensibilidades díspares, soa o toque a reunir e,
despertos, cada qual à sua maneira, respondem
à chamada. Mas ao surgir o toque de avançar ninguém sabe para onde nem como acionar os seus ímpetos e, mais uma vez, regressam
a penates sem nem sequer se sentirem
frustrados, porque habituados estão às suas
inconsequências. Quantas siglas já se evaporaram neste curto espaço histórico?
O “projecto para envolver a sociedade civil”, repleto de doutos
lugares-comuns, é um “programa” raso, que nos mostra a intensidade das preocupações expostas e
as expetativas vazias de conteúdo. "Resgatar Portugal para um futuro
decente"… mais que um programa é um suspiro.
Desde que me conheço nestas lides, que observo as andanças de gente cansada de se preocupar com os males que desde sempre nos afligiram. Apresentam os seus manifestos radicais ou insípidos em função da conjuntura, e partem de férias, porque isto de lutar contra o fascismo ou o neo-fascismo é entretenimento que dá gozo discutir numa sombra acolhedora com um branco seco geladinho e uns percebes e regressar ao “combate” ainda bronzeados e com um cheirinho a maresia.
Isto de fazer parte e ter uma sólida base de apoio numa classe habituada a
enfrentar dificuldades e a ser
estigmatizada não é tarefa fácil.
Quando destruíram
a reforma agrária e de seguida todo o nosso tecido industrial, os operários industriais e agrícolas e as suas organizações lutaram sós até ao último fôlego.
Hoje são os professores, bancários, médicos, advogados que vêem os seus postos de trabalho em risco ou não encontram futuro para os seus filhos.
O já badalado “Congresso” está anunciado para outubro, mês de grandes explosões sociais, momento ideal para se discutir como "Resgatar Portugal para um futuro decente" e, mais uma vez, ficar por aí.
Curiosamente, poucos dias antes do
anunciado “Congresso”, o Arnaldo
Matos voltou à ribalta.
É curioso!...
4 comentários:
Extraordinário texto!!!!
Como estão bem caraterizados esses "revolucionários" com "lindo" palavreado, mas pouca ou nenhuma ação. Onde estavam eles quando se preparava uma greve, quando se organizava um protesto sectorial,quando se matava na Reforma Agrária e no 1º de Maio,enfim na organização da resistência,na luta que dói mesmo?!!
Um beijo.
Bom post!
Que me perdoem aqueles que, honestos, ainda são atraídos por estes "suspiros enlevados" com quem trabalha: com tantas "alternativas", esta esquerda mais parece uma "Esquerda de Alterne"!
Um abraço.
Um texto excelente.
Um abraço
mário
Desculpem a insistência.
Observei melhor as batatas,são todas modificadas em laboratório.
mário
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