domingo, 17 de janeiro de 2021

Fanáticos - Crítica da razão enevoada

Na sua fase neoliberal, o capitalismo “imperializado” descarrega contra a classe trabalhadora o peso da crise financeira por eles provocada no ano 2008. Isto inclui ofensivas económicas, territoriais e mediáticas para consolidar a hegemonia neocolonial.

Fanáticos

Crítica da razão enevoada

Fanatismo: «Paixão e tenacidade desmedidas na defesa de crenças ou opiniões, especialmente religiosas ou políticas.” Dicionário 

Definida deste modo, não parece uma conduta tão perniciosa, como é, nas suas expressões concretas e com selo de classe. Dito como diz o dicionário, pareceria uma “virtude” dessas adotadas ​​pela compulsão burguesa de exagerar tudo... tal como de modo insuportável e avassalador nos tem ensinado a propaganda capitalista, por exemplo. Aplaude-se o fanatismo mercantil e da mais-valia, o fanatismo futebolista; o fanatismo pelos entretenimentos grotescos; o fanatismo pelos “videojogos” e todos os equivalentes digitais ou da “web”. “Fanas” e “fãs” de políticos, de gurus, jornalistas... até à náusea. Alguns chegam a usá-lo para exagerar algo que devia ser escondido porque já foi exagerado, até ao paroxismo, em alguma emboscada ideológica. Entretanto o fanatismo adquire identidade. A razão, o pensamento crítico e a ciência ficam encurralados. Fanaticamente.

 

Mas o “fanatismo” é uma ameaça muito séria contra a humanidade. Ataca as fibras mais sensíveis da inteligência social, destruindo as suas bases históricas fundamentais. Todas as formas de fanatismo se coagularam na fase imperialista do capitalismo, multiplicaram-se e expandiram-se sob o manto de impudência e impunidade, impostas pelo poder económico e a ideologia da classe dominante. Convertendo-se em “senso comum”, e não são poucos os que reproduzem, conscientes ou não, nos conteúdos e nas formas, nos ditos e nos factos. Não poucos afirmam que todos podem “acreditar” ou dizer (ou ambos) o que lhes “dá na gana” que se é “livre” para reproduzir crenças ou ocorrências como se fossem resultados científicos ou verdades universais, que só o facto de acreditar basta e sobra para impor a outras pessoas, sofismas à peça... e que basta e sobra um tontinho mandão, autoritário ou de suficiente bravura para converter em irrefutável qualquer silogismo ultrapassado. Fanático, pois.

 

É nisto que se baseia o estilo de  Donald Trump, Bolsonaro e muitos outros “fantoches” paridos pelo dogmatismo da “economia de mercado.” São supremacistas, racistas e nazistas-fascistas, com bases epistémicas que se sustentam de saliva ácida e golpes, em trocadilhos e tolices e repressão militar ou policial, contra todos que consideram seres inferiores e descartáveis, ou seja, 80% da espécie humana. O proletariado.

 

O fanatismo e seus fanáticos praticam a arte da surdez seletiva. Ou, noutras palavras, escutam apenas o que lhes convém para exacerbar o delírio dos seus argumentos irracionais ou distorcer os raciocínios alheios para os transformar em combustível dos seus incêndios verborrágicos. É, por exemplo, neoliberalismo na sua plenitude. Neoliberalismo de igrejas, clubes de futebol, excursões espiritualistas, partidos políticos mercantis... Não entende razões, não admite interrogações, não admite a realidade. Um fanático, a tempo inteiro (ou parcial), de toda ou alguma especificidade, apega-se tenazmente à sua trivialidade e fá-lo afirmando essa mediocridade que o faz parecer muito seguro de si mesmo. É um “círculo vicioso” irreprimível, no qual, as declarações fanáticas, tentam demolir todo princípio de dúvida. E para salvaguardar os néctares de tal “círculo vicioso”, são capazes de tirar a vida do outro, de outros... de muitos. Por isso são tão perigosos. Há fanáticos que negam fanatismo, fanaticamente, enquanto o praticam.

 

São radicais de si mesmos. Gramsci não o foi tanto. Os fanáticos disfarçam-se de tudo, até de transparência e de espelho. São a obcecação violenta e a igreja de suas metástases como ópio mass media. O fanatismo é uma “nuvem negra” mutante e conservadora, camuflada de “pensamento político radical”, mas baseada em puras abstrações, inimigas dos factos ou deformando os factos. E não é “entusiasmo” o mesmo que fanatismo, ainda que se disfarcem de moral, Herr Kant. Os fanáticos não estão órfãos de uma certa consciência egoísta para a organização política. Incluso no desenvolvimento revolucionário, em certas “rebeldias”  infiltraram-se fanáticos e os seus fanatismos com categorias nucleares como “consciência” e “organização”. Perigoso Um fanático é um apaixonado do que imagina e, é tal o seu amor pelas suas próprias teorizações, que odeia a realidade e, com ela, todos os dados que ponham em causa as suas alucinações e seus gritos de seres superiores. Por isso a sua cabeça nega toda possibilidade de reconsideração, mesmo que o finja. Marx viu isso clarinho no 18 Brumário de Luis Bonaparte.

 

Num dos seus extremos está “a mão que embala o berço” do terrorismo, não só individual, e no outro extremo, está a fonte das piores corridas dos grandes êxitos comerciais. Tão prolífico é o fanático.

No fanatismo observam-se muitas formas de escapismo como saída da realidade “aos ombros” graças à negação violenta de toda a complexidade empírica mas, evidentemente, com muita autoridade.

Temos o pensamento crítico, por exemplo, como antídoto, mas apenas o pensamento crítico que o é, por si só. Pensamento de Praxis (Sánchez Vázquez) para combater todo fanatismo que sonha dirigir com as suas “emoções” a ação política, as relações de produção e relações interpessoais. O antídoto é a razão científica revolucionária com espírito crítico em guerra contra o dogmatismo, o supremacismo, o triunfalismo, o comercialismo, o individualismo e a brutalidade do nazi-fascismo. É o capitalismo que, não o percamos de vista, é um sistema de fanáticos. Somente entre Hiroshima e Donald Trump temos o suficiente para o demonstrar. Vivemos tempos de “recrudescimento de paixões e fanatismo” que querem dar por morto todo o sentido crítico contra a dominação dos seres humanos, e isso já produziu estragos evidentes e irreversíveis. É por isso é crucial a Batalha das ideias, nos factos, contra a ideologia da Classe Dominante. Vamos insistir.

Sem comentários: